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Do spray às tintas naturais

Desde 2012, Karen Valentim começou a se envolver com artes urbanas. Partindo do graffiti começou a dialogar com outras linguagens e, agora, também com outros materiais. Suas obras refletem muito sobre ancestralidade afroindígena, mas vai para além do aspectos pictóricos para buscar também a essência do material.

Para ela, as pinturas rupestres podem trazer referências ancestrais que servem para o uso nas ruas, assim como a pintura corporal indígena traz simbolismos, grafia e desenhos inspiradores. Isso a levou também à pesquisa sobre as tinturas naturais, baseadas em técnicas milenares que ela considera que são desvalorizadas hoje em dia. “Minha impressão é que se perdeu esse conhecimento até mesmo em alguns povos tradicionais. Então é um processo de reatar esse contato e prática”.

Em telas ou muros, há alternativas que além de ancestrais são ecológicas, utilizando pigmentos à base de elementos naturais como vegetais ou argilas. “Nas ilustrações em papel os testes são feitos com os dois, porém, para mural estamos trabalhando mais com o mineral (argilas em geral) por conta da fixação e durabilidade”, conta a artista.

Um dos produtos de seu trabalho é a ilustração de divulgação da II Semana Sem Petróleo que acontece de 24 de novembro a 1 dezembro, tendo início no Caparaó e terminando com atividades no Centro de Vitória. Dentro da programação, a artistas realiza oficinas de tintura natural tanto em Patrimônio da Penha como na capital capixaba.

Se o spray e tintas industriais são fruto de produtos químicos e derivados de petróleo, com todo o custo socioambiental, buscando referências sobre tintura natural Karen encontrou John Bermond, artista capixaba radicado no Rio de Janeiro que possui ampla pesquisa e publicou uma cartilha gratuita na internet ensinando como preparar as tintas, a Apostila Intuitiva de Pigmentos Naturais.

Broto de abacate pode gerar amarelo, amora o rosa, urucum o laranja, uva o roxo, espinafre o verde, carvão o preto, ovo o branco, entre várias outras opções de cores e de materiais. Tudo devidamente combinado com o uso de outros ingredientes que servem como diluentes, aglutinantes e fixadores, também naturais, para que se tenha a consistência, aderência e duração do material. Materiais com álcool, cal, grude, leite, óleo e até mesmo o sumo de cactos.

Também encontrou o grupo Los Constructores Descalzos, voltado à bioconstrução, e a professora Janete Azevedo, formada na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e que tem pesquisa baseada em tinta de terra para estamparia, entre outras referências. “Tem sido uma troca constante conversando com pessoas em diversos lugares, amigos inusitados e partilhas sobre pigmentos naturais”, afirma Karen.

Mas para além dos manuais, ela diz que se trata, inicialmente, de identificar desde a cozinha de casa, temperos ou alimentos que tenham uma pigmentação, a testar usando água morna ou quente e outros processos. No quintal, na rua, nos parques, também é possível buscar pigmentos minerais. Afinal, foi assim, conhecendo a natureza, que nossos ancestrais começaram a pintar há mais de 40 mil anos, enquanto as tintas industriais surgiram apenas no século 19.

Karen Valentim só vê vantagens na utilização das tinturas naturais. “Conhecimento ancestral nunca é perda. O que me chama mais atenção até então é o processo intuitivo em si, não tem uma receita de fato, é de acordo com seu sentir..alguns processos de produção são um pouco mais demorados do que os materiais sintéticos, que são químicos. Mas é um excelente exercício de paciência e experimentação artística. Fora que não se causa danos e reutilizamos materiais todo tempo”.

A artista vem realizando seus experimentos e obras no Ateliê Nomada, que estará aberto para visitações e vivências de 15 de dezembro até o final de janeiro, no bairro Jesus de Nazareth, em Vitória.

 

 

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