Fotos: PET Cultura/ Ufes
Vitória tem o maior manguezal urbano do Brasil, mas pouco ouvimos falar dele. Violentado pela ocupação desordenada, pelos aterros, pelo lixo ali depositado, o mangue resiste e ainda marca a paisagem de muitos bairros. Décadas atrás, em Recife, explodiu o Mangue Beat, como movimento musical e artístico que reivindicava o mangue, espaço fundamental para o equilíbrio ambiental e berçário de animais e espécies diversas. No Espírito Santo, a cultura do mangue também existe e persiste ao longo do tempo.
Na região da grande Goiabeiras, uma iniciativa do Programa de Educação Tutorial em Cultural (PET Cultura), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com apoio do grupo SOS Manguezal, iniciou um projeto para aproximar a criança e a escola a essa cultura que se desenvolve nos bairros com estreita relação com o mangue. Todo processo foi filmado e registrado no documentário Mangue Escola, lançado neste no Cine Metrópolis, em Vitória.
Durante seis meses, a equipe do multidisciplinar do PET Cultura, que inclui estudantes de História, Letras, Artes, Geografia e Pedagogia, realizou oficinas semanais com aluno entre 6 e 13 anos na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Marechal Mascarenhas de Morais, em Maria Ortiz. Entre elas estiveram visitas às Paneleiras de Goiabeiras, que são patrimônio cultural capixaba, à banda de congo do bairro, à escola de samba e também conversas com os mais antigos da região, que puderam contar histórias e lendas em torno do manguezal.
É justamente a curiosidade das crianças que conduz o documentário, por meio das perguntas que eles realizavam durante as visitas e bate-papos. Embora a maioria dos 60 alunos que participaram das oficinas fosse da região, muitos nunca tinham visto ou vivenciado tão de perto essas manifestações culturais.
O trabalho de conscientização ambiental também foi fundamental de acontecer em paralelo, falando sobre a importância de não jogar o lixo em local inapropriado e de promover a reciclagem, processo pelo meio do qual puderam ver uma casaca ser construída com uma garrafa PET e também produzir papel machê.
Visitaram, ainda, um antigo ponto viciado de lixo transformado por moradores em uma área de lazer. Visitaram de perto o mangue para ver o sujeito e a importância da preservação para que a comunidade possa usufruir deste ecossistema seja para lazer ou renda, para nadar, pescar, navegar ou outras atividades.
“A questão da preservação não é só física. Se não preservar o mangue, a cultura em torno dele também morre. A cultura será prejudicada se o mangue não resistir”, explica Karen Lima de Oliveira, estudante de Geografia e integrante do PET Cultura, que trabalha com base no tripé ensino, pesquisa e extensão que norteia a universidade.
Além do aprendizado, o projeto também resultou na elaboração de dois murais reunindo elementos da cultura do mangue que permeiam os bairros de Goiabeiras e região, um deles externo na fachada de uma empresa e outra no pátio interno da própria escola, pintado pelos próprios alunos com ajuda de pais e professores.