sábado, novembro 16, 2024
26.6 C
Vitória
sábado, novembro 16, 2024
sábado, novembro 16, 2024

Leia Também:

Editora Cartonera quer fortalecer a produção literária capixaba com livros artesanais e recicláveis

Sim, o movimento literário no Espírito Santo tem crescido significativamente nos últimos anos. Há alguns meses Século Diário emplacou uma série de matérias sobre o Movimento Literário Capixaba, apresentando e destrinchando as atividades de quatro editoras do Estado, a Cousa, a Pedregulho, a Cândida e a Praia – destacando como se movimentam esses agentes que apostam nas publicações independentes.
 
E do final de 2015 até o momento, poucos ainda sabem, mas além das editoras citadas acima, uma nova entrou recentemente nas publicações independentes da Grande Vitória, é a Poesia de Papelão Cartonera, editora pequena, independente e que realiza a produção de livros a partir da reutilização de papelão. O processo é bastante artesanal, com as capas de papelão pintadas à mão e o miolo também costurado manualmente. 
 
O nome cartonera vem do espanhol que significa papelão. A proposta da ideia é que as editoras publiquem de forma independente, sustentável e consequentemente mais acessível – uma ideia quem vem brotando em quantidade cada vez mais significava fora e dentro do Brasil. E especificamente aqui no Espírito Santo, quem se interessou pelo modelo e tomou frente do projeto, criando a Poesia de Papelão Cartonera, foi Juplin Jones (foto ao lado), escritor e produtor cultural. 
 
“A iniciativa de criar a editora vem das minhas vivências no meio literário (organizando saraus, debates, publicações e leituras) e também de algumas pesquisas que realizo na área de publicações independentes.  Durante essas pesquisas descobri as publicações cartoneras. Podemos dizer que foi amor à primeira vista, levando em consideração as minhas concepções de mundo e de movimento literário”, apresenta ele. 
 
E de fato é muito comum encontrar Juplin pela Grande Vitória envolvido em eventos do movimento hip hop, saraus, publicações de fanzines ou promovendo ações do Coletivo Literatura MarginalES, aliado a outros grupos. O meio independente do fazer literatura, integrado com a rua e o viés marginal – que dialoga com a poesia do hip hop – está presente no jovem e foi imprescindível para ajudar a editora a tomar forma. E tudo começou em abril deste ano com a aprovação em um edital que possibilitou a formação e criação da editora. 
 
Ao lançar uma chamada para encontrar interessados em publicar livros pela editora, Juplin explica qual é o público que a editora busca contemplar. “Temos uma produção literária efervescente no Espirito Santo. E não é qualquer coisa. São grandes poetas, contistas e cronistas. É preciso publicar essa galera. E não só isso, fazê-los serem lidos. Formar leitores. A Poesia de Papelão Cartonera quer trazer à tona essa galera, além de trabalhar com os autores em outras oportunidades de divulgação da produção literária. Temos acompanhado pela internet,  e nos saraus, uma galera interessante  com construções poéticas e dicções diversas. É preciso levar essa galera para a rua, também de forma impressa. Escrever novas histórias nas cartografias da cidade”. 
 
Pelo fato de realizar um processo minucioso, a editora lança poucos exemplares de cada livro. No lançamento da semana passada, por exemplo – em que foi apresentado os livros 3=4 ou cozido a vapor, de Lívia Gegenheimer; e Depois do Nada, de Jhon Conceito (foto ao lado) –, foram comercializadas cerca 30 unidades de cada obra. E para cada uma delas o processo de criação é o seguinte: Papelões são recolhidos Cariacica-Sede e nas comunidades adjacentes. Depois Juplin conta com a ajuda de algumas pessoas para trabalhar o recorte das capas dos livros, além das pinturas. Durante todo o processo é trabalhada em conjunto a concepção gráfica e editorial da obra. E, por fim, realiza-se a impressão e costura do miolo.
 
Outro grande diferencial da editora é o fato de não gerar custos ao autor, que recebe 10% sobre o valor dos livros comercializados, além de alguns exemplares. E os preços dos livros são sempre bem acessíveis, beirando em torno de R$ 10,00. Atualmente, a Poesia de Papelão Cartonera se prepara para um novo projeto que visa realizar a publicação de uma antologia de poetas negros locais, em breve uma chamada será lançada para os interessados em participar do projeto. E dessa vez quem fará a produção dos livros serão jovens que participam de ações do Núcleo Afro Odomodê. “A pretensão da editora é dialogar. É preciso diálogos, principalmente nesta conjuntura social assustadora”, finaliza Juplin. 
 

Mais Lidas