Revolucionário, Wilson Coelho nasceu em 1959, ano em que ocorreu a Revolução Cubana. Já seu pai, conservador, veio ao mundo num 4 de julho, dia em que se comemora a independência dos Estados Unidos. É da contradição entre pai e filho que se inicia Nosotros, vigésimo livro de Wilson, publicado pela Editora Cousa.
O Brasil vivia uma ditadura e Wilson era uma criança de nove anos que já tinha lido Dostoievski e Oscar Wilde, e ouvia por trás da porta a conversa de seu pai e um amigo da maçonaria, desferindo críticas contra o comunismo e o senhor barbudo que estampava a capa da revista Time que traziam em mãos, que depois o pequeno Wilson descobriria ser Fidel Castro.
São histórias curtas mas continuadas que compõem os 29 capítulos e mais de 300 páginas da obra, escrita em primeira pessoa com relatos de quem vivenciou nas últimas décadas um intenso intercâmbio com a América Latina e especialmente com Cuba, sobretudo por meio dos movimentos culturais, tendo circulado em importantes festivais e dialogado com artistas de grande relevância para o continente.
Wilson coloca a obra entre romance, ensaio, ficção e realidade. “Como não existe uma linha reta para definir o que é real e nem eu queria fazer um livro de realismo fantástico, as lacunas do real eu preencho com ficção”, conta o escritor, que também é “músico, diretor de teatro, poeta, contista, romancista, tradutor e filósofo, artista rebelde”, conforme descreve José Arrabal, que assina o prefácio da obra.
A cada início de capítulo, Wilson Coelho traz epígrafes com poemas ou canções de grandes nomes da arte e cultura latino-americanas, como Violeta Parra, Mario Benedetti, Raul Seixas, Victor Jara, José Martí, Nicolás Guillén e Castro Alves, referências preciosas para quem quer se aproximar de nossos “hermanos”. O próprio nome da obra, Nosotros (“nós”, em espanhol), remete ao chamado do autor à integração, para que os brasileiros sintam-se também latino-americanos.
São muitas histórias transitando desde Vitória até Havana, passando também por outras cidades. Wilson entende porém que o protagonista do livro é Cuba, e o personagem, ele mesmo, é apenas uma testemunha dos acontecimentos políticos e culturais desde um Brasil ditatorial e uma Cuba revolucionária dos anos 60 até os dias de hoje.
A primeira vez que o autor foi a Cuba foi no ano de 1992, quando a ilha caribenha vivia o chamado Período Especial, enfrentando dificuldades econômicas devido à dissolução da União Soviética, com quem tinha acordos e apoios. De lá pra cá sempre existiu a vontade de escrever sobre, mas só agora veio a calhar, contando com apoio de diversos amigos que contribuíram na pré-venda que pode viabilizar a impressão do livro e também sua ida a Cuba para lançá-lo no dia 12 de fevereiro na Fortaleza de San Carlos de la Cabaña, em Havana.
“O momento político do Brasil me inspirou mais a escrever, para fazer uma defesa da Revolução Cubana e mostrar outro mundo, mostrar que não é isso que a sociedade está dizendo”, relata o autor.
“Cuba está no epicentro dessa espécie de terremoto que trago em mim”, diz Wilson Coelho em Nosotros. Mais de 60 anos depois da Revolução Cubana, o terremoto político da pequena ilha do Caribe continua movendo mentes e corações pelo mundo.