A Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2015 é um dos maiores e mais importantes eventos de literatura do Brasil, muito em função da sua programação extensa e articulação com escritores de dentro e fora do país. Com a aproximação do evento (1 a 5 de julho) e definição da agenda já dá para perceber que a Flip mantém o formato que adota desde 2003, ou seja, preenchendo a programação com escritores homens, na sua maioria.
Das 39 convidados para as atividades do evento, apenas oito são mulheres. Há três representantes brasileiras: Ana Luisa Escorel (Brasil), Eliane Robert Moraes (Brasil) e Karina Buhr (Brasil). Completam o plantel de escritoras Matilda Campilho (Portugal), Ayelet Waldman (Israel), Beatriz Sarlo (Argentina), Alexandra Lucas Coelho (Portugal) e Sophie Hannah (Inglaterra). A composição confirma a falta de representatividade das mulheres e sobretudo das escritoras brasileiras na maior feira literária do País.
De acordo com uma pesquisa realizada por Regina Dalcastagné, professora da Universidade de Brasília (UNB) – que estuda o perfil do escritor brasileiro há 15 anos, 72,7% são homens, um dado alarmante mas que, ainda assim, não bate com a escolha estrutural da Flip 2015, que não inclui mais que 5% de mulheres brasileiras na programação e, mesmo com a participação de convidadas estrangeiras, a porcentagem não chega nem perto da metade do total de convidados.
Além da pouca participação da mulher, o evento homenageia nesse ano Mário de Andrade, escritor e agitador cultural e literário, morto em 1945. Na história da Flip apenas uma mulher foi homenageada: Clarice Lispector, em 2005. Em 2012, nenhuma escritora brasileira fez parte das atividades da Flip, apenas escritoras estrangeiras.
Esse caráter de não contemplar a literatura brasileira produzida por mulheres foi logo percebido nas redes socais, inclusive por escritoras brasileiras que sentiram a falta de representatividade no evento. Mas, ao contrário do que a Flip faz, outras feiras (mesmo que menores) conseguem quase equiparar a participação da mulher em suas programações.
O exemplo mais próximo a ser comparado é a recente realizada na segunda edição da Feira Literária Capixaba (Flica) que, apesar de ainda não conseguir atrair o público local e levantar atividades mais atrativas, não deixou de incluir a presença de muitas escritoras e ligadas a outros movimento artísticos. Além de homenagear uma mulher, Virgínia Tamanini – escritora e poetisa capixaba morta em 1990; a Feira colocou cerca de 35 mulheres em meio a cerca de 80 convidados para as discussões nas mesas redondas, ou seja, mais de 43% contra 20% da Flip.
Serviço
A Flip já divulgou sua programação e será realizada entre os dias 1 e 5 de julho, na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro.