Simultânea, na Casa Flor, vai unir obras daqueles que perderam prêmio após avaliação de secretário em Vitória
A recente polêmica em torno de um edital de arte urbana lançado com recursos federais pela Prefeitura de Vitória, cujo resultado final foi alterado por decisão do secretário de Cultura, Luciano Gagno, ganhou nova repercussão. Mas dessa vez, de uma maneira diferente.
Um espaço cultural do Centro da cidade, onde as obras do edital estão sendo executadas, convidou para uma exposição os cerca 30 artistas urbanos “vetados” que faziam parte do projeto inicialmente classificado, mas que acabou perdendo o prêmio de R$ 192 mil para as pinturas de rua após medida do secretário – ele alegou que ainda responderá ao recurso do grupo concorrente.
No dia 31 março terá início, no centro cultural Casa Flor, na Rua Gama Rosa, a Expo Simultânea, que fica em cartaz por 40 dias. A exposição coloca como intenção transformar o local “em um espaço semelhante ao bairro de Feu Rosa, na Serra”, uma menção indireta ao recurso feito pelo grupo Cores que Acolhem, empresa vencedora do pleito após a medida do secretário, que indignou grafiteiros e artistas urbanos, por se referir de maneira negativa ao Origraffes, um dos maiores festivais de graffiti do país, que reúne centenas de artistas no bairro serrano e é organizado pelo grupo Iá Studio, desbancado no pleito. Depois de toda polêmica, a próxima edição deste evento, que aconteceria nos armazéns do Porto de Vitória, deve voltar a ser realizada em Feu Rosa.
“Por assim dizer, também ousamos nos perguntar o que precisamente seria uma grande ‘poluição visual’ quando se trata de graffiti, queremos falar e ver essa tal ‘desarmonia’, a ideia é mesmo ‘fugir a qualquer razoabilidade'”, diz o texto curatorial, que se baseia nos escritos do recurso perpetrado no pleito referido.
“A ideia inicial é conseguir utilizar todo o espaço da galeria, tentando se aproximar o máximo possível da cultura urbana, mesmo estando dentro de uma galeria”, conta a estilista e produtora cultural Nana Muriel, fundadora da Casa Flor. “A partir desta montagem, fazer com o que os visitantes consigam visualizar todos esses trabalhos juntos, e com a leitura do conceito curatorial, fazer com que eles possam refletir sobre discursos higienistas em torno da arte urbana e de rua”, revela.
A valorização da arte de rua e sua perspectiva crítica é um ponto central para a Expo Simultânea. “Passei anos andando de ônibus pra cima e pra baixo, em um percurso de 36 quilômetros. Minha principal distração era visualizar essa grande galeria de rua que estão nos muros da cidade. Vou tentar trazer pra essa montagem um pouco deste meu olhar de viajante admiradora da arte de rua”, diz Naná.
Entenda o caso
A Iá Studio entrou com recurso no Ministério Público, embora este não tenha evitado que o oponente assinasse contrato, recebesse o recursos e começasse a execução das obras, que estão em curso no bairro e chegaram a receber críticas da Associação de Moradores do Centro de Vitória (Amacentro), onde estão sendo executadas.