1º Manifesto Hip Hop do ES movimenta Jacaraípe com cultura e resistência
O primeiro Manifesto Hip Hop do Estado ocupará a Praça Encontro das Águas, em Jacaraípe, na Serra, neste sábado (15), às 13h, com shows de ADL (Além da Loucura-RJ), VK Mac, Beth MC e DJ Gegeo, além de batalhas de MCs, batalha de breaking, slam, graffiti, oficina de moda sustentável, varal histórico (com fotos e textos da trajetória do hip hop no Espírito Santo) e sessão de cinema ao ar livre.
Além de celebrar a arte e a resistência, o manifesto também reivindica direitos, denuncia injustiças e reafirma o hip-hop como ferramenta de luta, educação e transformação social, ressalta a produtora cultural Maju da Batalha, uma das organizadoras do evento.
“A cultura Hip-Hop ainda é invisibilizada, mas seguimos ocupando. O objetivo é fortalecer nossa cultura e dar visibilidade para outras lutas como o racismo, o fim da violência policial, a LGBTfobia e o machismo. Apesar de a primeira festa do hip-hop no mundo ter sido pensada por uma mulher, o ritmo é majoritariamente formado por homens, e ainda é contaminado pelo machismo”, observa.
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A organização do manifesto inclui nomes como Marcelo Crizante, Vulgo Noose e Arthur Gomes, do coletivo Maus, e Maju da Batalha, do Coletivo das Rosas, que destaca a iniciativa como uma plataforma para dar visibilidade à cultura hip-hop e suas lutas sociais.
Maju destaca que o hip-hop vai além dos quatro pilares clássicos (MC, DJ, Breaking e Graffiti) que constituem a cultura, sendo o Conhecimento de Rua uma ferramenta crucial para promover transformação social, empoderamento e continuidade dos saberes “para o surgimento de conhecimentos novos, porque nós vamos aprimorando, como os ancestrais. Se estamos aqui hoje, alguém veio antes de nós”, considera.
O Conhecimento de Rua é o quinto dos nove elementos do Hip-Hop e serve como base para todos os outros, explica Maju. “A gente tem professores, arte-educadores, que usam o hip-hop como ferramenta de ensino. Ele gera empoderamento, uma firmeza na hora de falar. Eu, por exemplo, fui criada no meio do hip-hop, e muitas das coisas que sei foram aprendizados de vida”, relata.
Além do Conhecimento de Rua, que permite transformar a realidade ao nosso redor por meio da arte, e dos quatro elementos clássicos (MC, DJ, Breaking e Graffiti), a Moda de Rua, o Empreendedorismo de Rua, o Beatbox e a Linguagem de Rua ampliam essa estrutura e consolidam o Hip-Hop como um movimento cultural diverso e potente, descreve a produtora cultural.
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Resistência e expressão
O manifesto do evento, divulgado nas redes sociais, reforça a importância da inclusão e do combate à marginalização da cultura periférica: “O hip-hop é mais do que uma cultura; é uma forma de resistência, de expressão e de união. Estamos aqui para celebrar nossa identidade e lutar por justiça!”, pontua o texto.
A publicação também denuncia a criminalização dos movimentos sociais, enfatizando a necessidade de respeito e reconhecimento da cultura hip-hop como parte fundamental da identidade cultural capixaba.
O texto faz uma forte crítica à violência policial nas comunidades periféricas e denuncia operações truculentas em bairros como Tabuazeiro, São Benedito/Território do Bem e São Pedro. A organização afirma que a repressão não é contra o tráfico de drogas, mas contra a população negra, indígena e periférica: “Tem sido habitual os policiais subirem os morros alegando estarem realizando uma operação contra o tráfico de drogas, quando na verdade a operação é contra o povo preto, indígena e periférico que reside naquele lugar, em mais um exercício de racismo institucional explícito.”
Por fim, o manifesto critica a falta de respeito com as famílias dessas regiões e cobra a valorização de trabalhadores que atuam em territórios vulneráveis. Os organizadores reafirmam que a luta pelo reconhecimento do hip-hop continua e exigem que políticas públicas voltadas ao movimento sejam conduzidas por pastas como Cultura, Educação e Assistência Social, e não pelo setor de Segurança Pública, evitando a criminalização da cultura.
Apesar do crescimento do movimento, Maju pontua que a cultura hip-hop ainda enfrenta barreiras. O Espírito Santo reconheceu o hip-hop como patrimônio cultural imaterial em 2023 e proibiu qualquer forma de discriminação contra seus integrantes. Além disso, duas leis municipais na Serra instituíram o Dia do Breaking (7 de dezembro) e o Dia da Batalha de Rima (quarto sábado de janeiro). Nacionalmente, uma lei federal de 2023 estabeleceu o Dia Nacional do Hip-Hop (11 de agosto) e uma semana de valorização da cultura hip-hop.
Mesmo com esses avanços, a luta continua. Segundo Maju, a realização do manifesto foi desafiadora e só possível porque a comissão organizadora do Manifesto LGBT cedeu um dos dias do evento deles, que seria realizado no sábado e no domingo, para que o manifesto hip-hop pudesse acontecer. “Será um momento de mostrar para o poder público que estamos aqui, somos organizados e conseguimos fazer. Para que eles deem oportunidade não só para nós, como para os outros coletivos que também atuam na Serra e no Estado”, defende.