O fim do ano costuma implicar também a finalização de projetos. Nas últimas semanas, colégios públicos do Espírito Santo apresentaram o resultado de atividades que fomentam a produção audiovisual dos alunos, mostrando que cinema e educação têm tudo a ver. Temas como direitos humanos e diversidade são temáticas trabalhadas em produções, nas quais os jovens podem ser protagonistas.
No projeto Inventar com Diferença, realizado a nível nacional com coordenação da Universidade Federal Fluminense (UFF), os colégios Desembargador Xavier Paes Barreto, escola estadual de ensino médio em Vitória, e Guilherme Santos, de ensino fundamental municipal de Vila Velha, participaram do projeto recebendo monitoria do cineasta capixaba Marcos Valério Guimarães.
Depois de uma iniciação teórica e prática realizadas em 2017, foi proposto a cada aluno participantes criar sua própria produção em modo de documentário ou ficção. O resultado foi a realização de 14 filmes, parte deles exibidos no lançamento realizado no Cine Metrópolis. “O projeto propõe implantar a cultura do cinema dentro das escolas, utilizando metodologia baseada no conceito de cinema dispositivo, criando jogos e situações para serem filmadas”, explica o cineasta. A partir daí vai-se abordando a linguagem do cinema, introduzindo teoria e analisando o material filmado.
Para filmar os alunos receberam a sugestão de produzir um filme-carta, partindo da ideia de escrever uma carta em formato audiovisual abordando como assunto direitos humanos de forma ampliada, incluindo temas afins, como identidade e processos identitários. Educação, saúde, liberdade de expressão, afirmação de gênero e sexualidade, preconceitos e condição da mulher negra são alguns dos temas que aparecem nas obras, junto com outros mais leves como afetos, relação com a música, com o bairro de origem,
Com poucos recursos, tudo foi sendo desenvolvido na cara e na coragem, bem ao estilo uma câmera na mão e várias ideias na cabeça.
Um dos realizadores foi Matheus Muniz, que se envolveu e se encontrou profissionalmente ao construir Dois Sobre Um, única obra de ficção do projeto. “As ideias para o meu roteiro vieram através de vivências ao meu redor, desde passagens nas ruas, perceber atitudes no ambiente escolar, e até mesmo familiar. Falar sobre drogas, gravidez na adolescência e homossexualidade foi uma forma de tentar deixar o público mais próximo, fazer também com que a galera se identificasse com aqueles temas que são reais na vida da juventude hoje”, disse ele, que também realizou o sonho de atuar, o que considerou mais prazeroso de fazer numa obra escrita por ele mesmo.
Videoartes em Mostra Estudantil
Outra experiência recente foi a 1ª Mostra de Vídeo Estudantil, realizada na Escola Estadual Irmã Maria Horta. Além da exibição do curta Revejo, de Láisa Freitas, vencedor do Júri Popular do Festival de Cinema de Vitória, o evento apresentou obras em formato de videopoemas e videoartes produzidos pelos estudantes de 3º ano do turno matutino durante o 3º semestre numa parceria interdisciplinar entre Artes e Filosofia.
Foram três meses em sala de aula debatendo e problematizando questões relacionadas com diversidade e minorias sociais, assistindo filmes que abordam temas como relações de gênero, diversidade sexual, relações etno-raciais, além de aprendizado e trocas sobre técnicas relacionadas com filmagem, captação de áudio, edição e estética. “Consideramos que o processo pedagógico de confecção dos vídeos requer tanto o exercício de autonomia de trabalho de estudantes e dos professores”, observa Tomaz Musso, professor de Artes.
Cada uma das quatro turmas produziu cinco vídeos, que foram exibidos na mostra para um público que incluiu alunos, professores e funcionários da escola, além de ex-estudantes e comunidade externa. “O cinema, como qualquer manifestação cultural, estando a serviço da livre expressão e da afirmação das diversidades, cumpre seu papel de colocar diante de seu criado, o humano potencial e originalmente livre”, afirma Gessé Paixão, professor de Filosofia da escola.
A exibição realizada pela mostra se baseou no formato cineclubista, que tem como princípios históricos a valorização da produção independente e local, permitindo extrapolar os formatos narrativos e estéticos do cinema comercial. Assim, contou com apoio do Grupo de Leitura Lado Negro da Força, que também realiza atividades cineclubistas, como uma espécie de herdeiro do legado do Cineclube Nome Provisório, conhecido e reconhecido pelo movimento cineclubista por seu trabalho pedagógico, mas que incrivelmente teve sua existência proibida dentro da escola.
Ficou o gostinho de quero mais e a promessa de uma segunda edição da mostra para 2019, trazendo novas parcerias e novidades temáticas.
Assista abaixo outras obras do projeto Inventar com Diferença:
As Dores da Tempestade
Direção: Emilly Eduarda
Depressão é um assunto que deve ser falado sim, sem tabu algum. Em A dor das tempestades, Eu, Emilly, tentei mostrar como é a realidade de uma pessoa que tem a doença sem qualquer tipo de “maquiagem”, buscando sempre proteger a identidade dos participantes.
Música é vida
Direção: Nicolly Banhos
Neste curta eu contarei um pouco sobre a minha história com a música, eu sempre gostei de cantar, porém, não é o que eu quero seguir.
O meu filme conta um pouco sobre as diversidades musicais.