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Exposição coletiva destaca arte afro-brasileira em Conceição da Barra

Onze artistas pretos apresentam obras que abrem espaço de resistência e diálogos

Onze artistas afro-brasileiros conectam linguagens que vão da arte digital à performance, passando por escultura, instalação e pintura na exposição coletiva Awujo (Comunidade), a primeira do município dedicada exclusivamente a artistas pretos, que inaugura neste sábado (9), no Espaço cultural e Galeria Casa da Barra, em Conceição da Barra, norte do Espírito Santo, antecedida por um bate-papo com os artistas na sexta-feira (8), às 9h40 e 15h40. Aberta à visitação até o próximo dia 28, a mostra explora as raízes do município e suas manifestações tradicionais em diálogo com a arte contemporânea.

Luang Senegambia

O curador Thiago Balbino destaca que a exposição estabelece um espaço de resistência cultural e diálogos em que o público poderá se conectar com diferentes narrativas pessoais e referências, em obras de artistas de Conceição da Barra, São Mateus, Grande Vitória e Salvador. “A ideia é abranger a comunidade, valores e símbolos da tradicionalidade afro-brasileira, inclusive, as manifestações culturais tradicionais locais”, explica.  

A chamada artística foi realizada online, permitindo uma participação democrática e inclusiva, que estimulou a presença de artistas em início de carreira, além de abrir espaço para aqueles com trajetórias já consolidadas. A visitação será sempre quarta a sábado, de 9h às 12h e de 15h às 18h, com entrada gratuita.

O artista visual Luang Senegambia, de Salvador, exibirá obras que refletem sobre a unidade compreendida como um pilar da cultura afrodiaspórica nas obras A tradicional família diaspórica e Do Rio Oshun ao Abaeté, colagens digitais que capturam a fusão cultural de diferentes povos. “Não é sobre celebrar a escravidão, mas sim celebrar esse último ponto de resistência e de existência africana. E a exposição como um todo reflete a essência de comunidade da cultura africana reproduzida nos agrupamentos organizados para conexão entre pessoas pretas que são fundamentais para vida criativa, afetiva, cultural e política”, compreende o artista. 

Acervo Pessoal

A artista plástica Ione Reis acredita que exposições coletivas, especialmente aquelas que reúnem artistas negros, têm um papel fundamental para criar espaços de acolhimento e apoio, diferenciando-se do mercado de arte tradicional, predominantemente branco. A peça que escolheu para compor a exposição é chamada “Menino Tupi”, que circulou por eventos na Bahia e em Vitória em formato de lambe-lambe e prints, e conecta sua atuação nas artes plásticas e o grafite.

“É uma pintura que representa a minha poética e a questão afro-indígena com a relação das cores que remetem à terra, então a imagem dele, por si só, já é muito forte, e é uma obra bem pública, por ter circulado como lambe e print, o que gera essa ligação com o grafite, tornando esse lugar mais acessível para o público”, relata.

Recentemente, Ione Reis realizou em Vitória a exposição individual intitulada Beira Mangue, que aborda o cotidiano das comunidades que vivem próximas ao ecossistema. Em seus trabalhos, a artista explora cores terrosas como marrom, amarelo e vermelho, remetendo à ligação com a terra e à ancestralidade afro-indígena, elementos que atravessam sua produção artística. Ela também enfatizou a importância de realizar uma exposição coletiva fora do eixo da região metropolitana, para fortalecer laços e expandir a visibilidade da arte negra. 

Ione Reis e obra “Menino Tupi”. Foto: Acervo Pessoal

Segundo o curador e diretor do espaço cultural, a exposição acontece apesar dos obstáculos estruturais e da falta de apoio oficial para a arte preta no município, que terá pela primeira vez uma exposição coletiva de artistas negros. 

Thiago Balbino acrescenta a falta de reconhecimento da administração municipal – gestão de Mateusinho do Povão (Podemos), que perdeu a reeleição – principal suspeita de descaracterizar, sem permissão, um mural criado por ele e outros artistas como homenagem à cultura afro-brasileira local.

Acervo Pessoal

O mural trazia representações de figuras históricas, como Zacimba Gaba, princesa africana que viveu em São Mateus e se tornou ícone de resistência, e Mestre Terto, avô do artista e figura central do Ticumbi de São Benedito, tradicional manifestação cultural de Conceição da Barra. Apesar de não ter recebido apoio financeiro da prefeitura, a obra foi alterada sem autorização, apagando as características do artista. 

“Fazer a arte preta circular ainda é um movimento de resistência, e nos últimos cinco anos, a Casa da Barra tem sido a janela de acesso para artes visuais no município. Esperamos plantar sementes. Talvez a gente mesmo não veja toda a potência disso, mas queremos que no futuro, artistas pretos do mundo possam expor aqui e que Conceição da Barra se torne referência. Quem sabe o próximo grande artista do município será um desses jovens que estarão nos visitando?” reforça o idealizador da mostra.

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