Reconhecer o modo de preparo e a relação sagrada com o alimento como patrimônio intangível que faz parte da identidade afro-brasileira é o que propõe a exposição Coração da Casa, que está no Raiz Forte Espaço de Criação, Centro de Vitória. Por meio de registro visuais (fotografia, vídeo e outros objetos), essa proposta expositiva narra o modo de feitura do Akará, o popular acarajé, comida ritual da orixá Iansã.
Além das visitações, a iniciativa conta com rodas de conversa sobre patrimônio cultural, cultura afro-brasileira e diversidade religiosa. Todas as atividades são abertas ao público.
A exposição Coração da Casa busca promover a valorização do saber em torno da culinária dos orixás e foi resultado de uma oficina de preparo do acarajé realizada no último mês de agosto, onde cerca de 30 participantes acompanharam, durante um dia inteiro, a rotina de uma casa de Candomblé. Essa atividade vivencial foi sediada no Ilè Asé Odé T’Ojú Òmó – Casa do Caçador, em Praia Grande, Fundão, espaço religioso e ponto de memória.
A cultura ancestral afro-brasileira tem no Candomblé um dos principais sítios de sua expressão e preservação. Os saberes, os valores, a estética e a espiritualidade dos diversos grupos étnicos que para cá vieram através da diáspora se mantêm vivos nas práticas e no cotidiano das casas de santo. A cozinha é o espaço de maior interação nos terreiros de Candomblé.
Ali se elabora, de modo comunitário, o alimento votivo – a comida dedicada aos orixás. Sua feitura demanda o trabalho coletivo dos filhos da casa, seja para atender às demandas das funções internas ou para a preparação das festas abertas à comunidade, que têm como característica a receptividade carinhosa e a fartura de alimentos aos visitantes.
Sobre o acarajé
O akará, mais popularmente conhecido como acarajé, é um alimento que representa bem a ancestralidade e a importância das comidas de orixá enquanto repositório da memória ancestral. O acarajé veio com os escravos nagôs das regiões iorubás da Nigéria e do atual Benin, em terras brasileiras era oferecido às divindades nos emergentes terreiros de candomblé da Bahia desde o início do século XIX, e tomaram as ruas e o domínio público com os tabuleiros das baianas.
Comida ritual da orixá Iansã, ou Oiá, o acarajé tem origem na junção de duas palavras do iorubá: “Akàrà”, que significa “bola de fogo”, e “jé”, comer. Considerado uma comida sagrada pelas baianas, quituteiras cujas primeiras representantes eram africanas alforriadas do Brasil Colônia e cujo ofício foi reconhecido como patrimônio cultural brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2005.
O projeto Coração da Casa conta com recursos do Fundo Estadual de Cultura do Espírito Santo, por meio do Edital nº 05/2016 – Seleção de Projetos Culturais e Concessão de Prêmio para Pontos de Memória, e com o apoio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Ufes (NEAB) e do Raiz Forte Espaço de Criação. A realização é do coletivo cultural Iaoto – organização que promove o reconhecimento dos saberes ancestrais vinculados às religiões de matriz africana, especialmente ao Candomblé.
PROGRAMAÇÃO
-1ª Semana
Sábado (23)
16h às 20h: Roda de Conversa Patrimônio Imaterial, com Babalorixá Gildo de Oxóssi e Fernanda Barbosa (historiadora e mestre em Ciências Sociais pela Ufes)
– 2ª Semana
Quarta-feira (27):
15h às 17h: Roda de Conversa Orixás, alimento e ancestralidade, com Babalorixá Gildo de Oxóssi, Coletivo Soy Loco por Ti e FASE – Campanha Nenhum Poço a Mais
Quinta-feira (28)
8h às 12h: visitação de escolas
Sexta-feira (29)
8h às 12h: visitação de escolas
Sábado (30)
16h às 20h: Encerramento com performance étnico religiosa Akará L'Oyá, do Coletivo Iaoto
Serviço
A exposição Coração da Casa fica no Raiz Forte Espaço de Criação. Escadaria do Rosário, 120, Centro, Vitória. Todas as atividades são gratuitas.