Fotos: Rogério Caldeira
Tudo começou numa vista à Casa França Brasil, no Rio de Janeiro. No início do ano, enquanto conhecia a exposição Literatura Exposta e contemplava a obra A vós do ralo é a voz de Deus, Rogério Caldeira se deparou com uma cena dura, porém cada vez menos incomum. Uma pessoa em situação de rua deitada no chão à beira de uma das entradas do local. Parecia estar presa atrás das grades, mas na verdade se encontrava no lado de fora do edifício. Dali mesmo tirou uma foto registrando a imagem, que hoje estampa o muro de entrada do centro cultural Emparede Contemporânea, em Santo Antônio, Vitória. Dentro do local, mais 12 fotos de Rogério, todas em preto e branco e feitas na Grande Vitória, compõem a exposição Qualquer Verdade.
São registros da urbe, em seu cotidiano, com foco nas pessoas da rua, transeuntes, passantes, ciclistas, banhistas de maré. O destaque para a população em situação de rua vem do observar do fotógrafo e também da convivência com eles, principalmente através de oficinas oferecidas no centro cultural. “O morador de rua é sempre muito criticado, detonado, como se não tivesse direito às cidades, como não pertencessem a elas”, questiona Rogério. “Uns consideram que são vítimas do sistema, que precisam de amparo social, outros acham que são um estorvo, que incomoda a rotina urbana”, pontua.
Ele busca esse registro da cidade, em movimento, em trânsito, pertencente a todos, independente de onde ou como moram ou de quanto pagam de imposto.
Para o fotógrafo, a convivência e diálogo com a população em situação de rua, assim como a proposta que busca trazer por meio da fotografia, permitem entender as dificuldades e respeitar mais as pessoas nessa situação. “É fantástico o quão é importante a vida deles, como é difícil, louca e disciplinada a vida de quem mora na rua em relação à dinâmica da cidade”.
A exposição em que se deparou com a cena que fotografou no Rio de Janeiro causou polêmica após ser fechada a mando do governador Wilson Witzel (PSC) no dia em que ocorreria uma performance que incluía nudez, previamente avisada no local, mas censurada pelo governo. Alguns não puderam ver a exposição, mas as cenas dela e de fora dela ficaram na mente e na lente de Rogério Caldeira. “Apresento o que senti naquele momento: uma provocação sobre as cidades, as ruas, seus moradores, seus habitantes, sua estética. Busco a reflexão sobre os moradores de rua, os passantes os ocupantes e todos que compõem este mosaico urbano”.
A exposição fica até o dia 29 de agosto no Emparede Contemporânea, sendo necessário agendamento prévio para a visita.
AGENDA CULTURAL
Exposição fotográfica Qualquer Verdade, de Rogério Caldeira
Quando: até 29 de agosto de 2019
Onde: Emparede Contemporânea – Rua Albuquerque Tovar, 41, Santo Antônio – Vitória/ES
Agendamento de visitas: (27) 99983-3068.