Investigar o passado e refletir sobre o presente. Em sua primeira exposição individual, o artista Khalil Rodor mergulha em sua história familiar, na busca da genealogia que chega ao Brasil com seu bisavô, vindo da Síria em 1910. Com quatro instalações e um vídeo, a exposição Distâncias do Sentir será inaugurada na próxima terça-feira (10), na Galeria Homero Massena, Centro de Vitória.
A pesquisa que desemboca na exposição surge a partir da elaboração do documentário Emigro, em fase de finalização pelo artista nascido na Serra e formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Estado (Ufes). Buscando extrapolar a linguagem do vídeo, ele traz instalações utilizando um repertório: uma porta antiga de sua casa pela qual passaram parentes de várias gerações, a areia da praia de Jacaraípe, onde cresceu, os tecidos que marcam o ofício familiar desde seu bisavô imigrante, e os cristais usados no trabalho holístico de sua mãe, que são matéria-prima para a construção de uma árvore genealógica.
Foto: Tati Hauer
O vídeo que completa a exposição, intitulado O Mascate, em referência ao ofício de vendedor ambulante de porta-em-porta muito praticado por migrantes de origem árabe, retrata de forma poética um comerciante que tenta transportar uma árvore em seu barco mar adentro. “A árvore não está presa ao solo, pode ser transportada onde você for”, diz como metáfora da migração, sendo que obra foi inspirada na história de seu bisavô, que fez a vida no Brasil e não conseguiu voltar à Síria nem trazer alguns de seus parentes queridos para sua nova pátria.
O bisavô de Khalil chegou ao Brasil em 1910, fugindo de outro conflito, que era a invasão do Império Turco-Otomano, mas é impossível não pensar nos dias de hoje, quando a Síria ainda vive os efeitos da guerra civil iniciada em 2011 que gerou centenas de milhares de mortos e milhões de refugiados. A migração de povos de origem árabe é de grande importância e contribui com a diversidade étnica que hoje forma o Brasil.
Mas também encontra aqui terreno fértil para a miscigenação. A família de Khalil, por exemplo, tem origem síria apenas na parte de mãe. “Quando busco a memória familiar é para saber como é se deslocar de um lugar e construir um pertencimento em outro país. Quando as pessoas deixam o lar de origem por conta de uma guerra, geralmente levam poucas coisas, alguma roupa, comida, fotografias ou algo relacionado à memória. E vai ter que construir um novo lugar de pertencimento em que não tem tantas coisas físicas ou táteis para construir a memória do outro lugar”, aponta o artista. Foi o que aconteceu com sua família, da qual ele representa a terceira geração nascida no Brasil.
Foto: Tati Hauer
Muito se perdeu da cultura síria, mas algo se preserva, na memória dos mais velhos e histórias que eles contam, na comida, algumas práticas periódicas ou cotidianas. O despertar de Khalil Rodor para sua pesquisa veio da notícia de que uma prima de sua avó que morava no Chile estava pesquisando a árvore genealógica da família, sem conseguir muita informação da Síria, já que mesmo cartas e correspondências trocadas entre parentes separados por oceanos se perderam ao longo do tempo. “Investigo justamente porque essa cultura está se perdendo, ao mesmo tempo em que com a violência do conflito na Síria aumenta a probabilidade de perdemos qualquer tipo de laço com parentes de lá”.
No mundo de hoje, o pessoal cada vez mais também é global.
AGENDA CULTURAL
Exposição Distâncias do Sentir, de Khalil Rodor
Quando: abertura dia 10 de setembro, às 19h. Visitações de 11 de setembro até 9 de novembro de 2019; de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; sábado, das 13h às 17h
Onde: Galeria Homero Massena. Rua Pedro Palácios, no 99, Cidade Alta, Centro, Vitória.
Outras informações: (27) 3132-8395
*Visita em grupo devem ser agendadas com a equipe da Galeria Homero Massena por meio do endereço eletrônico [email protected] ou através do telefone (27) 3132-8395.