Com as luzes todas apagadas e iluminado apenas por velas, o Museu Capixaba do Negro recebeu a comunidade quilombola de Monte Alegre, que saudou sua mestra com um cântico de jongo enquanto levavam as velas para a reprodução do altar de São Jorge. Assim foi o início da abertura da exposição Todas as faces de Laurinda, que homenageou a mulher e a líder quilombola e todas as suas facetas.
Com muita alegria, Maria se emocionava a cada foto. “Eu não esperava que ficasse tudo tão lindo e que fosse receber tanto carinho. Fiquei encantada quando comecei a ver as minhas fotos tão grandes nas paredes e espalhadas para todo o lado”, diz a mestra. Sempre com um sorriso no rosto e com palavras de carinho a todos que a recebiam, Maria se sentia a vontade dentro do Museu e não deixava escapar de seus olhos nenhum detalhe.
Maria Laurinda Adão nasceu em 3 de junho de 1943 na Comunidade Quilombola de Monte Alegre. Hoje é uma figura de referência dentro da sua comunidade, que tem nela um exemplo de superação. Quando jovem, Maria foi mãe solteira e enfrentou preconceito e abandono da própria família, além do desafio de criar sua primeira filha sozinha. Sem se deixar vencer pelas dificuldades, ela diz que foi graças aos jongos de liberdade que conseguiu encontrar seu caminho e a coragem para seguir sua vida.
“Eu me sinto muito honrada por tudo isso, porque o pessoal mais antigo não teve essa oportunidade que eu estou tendo hoje. Estou muito feliz por ser de uma geração que pode dar continuidade aos aprendizados antigos”, diz Maria, que comenta que pretende levar a cultura dos seus antepassados para todos.
A exposição Todas as Faces de Maria apresenta os registros fotográficos realizados com Maria Laurinda nos últimos seis anos, além de um documentário produzido em 2012 que mostra o dia a dia da caxambuzeira. “Maria é uma mulher muito difícil de ser definida, o documentário e as fotos são mais uma tentativa de mostrar aos capixabas quem é essa grande mulher, símbolo de força, de perseverança e de amor ao próximo. Maria viveu a vida toda para servir as pessoas. Ela serve no final da vida quando é coveira, serve no início da vida quando é parteira e também na doença e nas dificuldades quando é mãe de santo e curadeira”, conta Genildo Coelho, diretor do documentário e curador da exposição.
Para as mulheres que também tiveram que enfrentar muitas dificuldades na vida, Maria deixa um recado: “As minhas companheiras, mulheres negras, nós precisamos ser vistas, mostrar o que nós fazemos. Todas merecem receber esse carinho que estou recebendo hoje”.
As fotos mostram a força de Maria em sua casa, na roda de caxambu, na lavoura, mas também revelam uma mulher vaidosa com flores no cabelo, muitos cordões e saia rodada. Além das imagens, a exposição também traz escritos nas paredes, depoimentos daqueles que participaram do documentário e falas da própria Laurinda. Na abertura da mostra, em vez do tradicional coquetel regado a vinho branco e canapés, foi servida uma autêntica feijoada acompanhada de cerveja.
Outro destaque da mostra é a instalação que faz referência ao Centro Espírita em que Maria Laurinda trabalha como mãe de santo. Foi feito um altar para a figura de São Jorge com muitas velas em volta. Para fechar a noite houve uma apresentação do Grupo de Caxambu Santa Cruz, da comunidade quilombola de Monte Alegre.
A abertura foi toda fotografada e fará parte do catálogo da mostra, que tem previsão de ser lançado no dia 20 de novembro, para comemorar o dia da consciência negra.
Serviço
A exposição Todas as faces de Maria está no Museu Capixaba do Negro (Mucane). Avenida República, 121, Centro. Visitação: até 1º de dezembro. Terça a sexta, das 9 às 17 horas, sábados e domingos, das 12 às 16 horas