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Festivais consolidam crescimento da participação feminina no universo Hip Hop

Grafiteira de renome estadual, Kika Carvalho celebra o número de meninas inscritas no Festival Mulheres no Graffiti (FEME), um indício, para ela, de que a exceção está virando regra, ou seja, a participação feminina no território masculinizado do graffiti está crescendo a olhos vistos. “Até agora são 20 inscritas de toda a Grande Vitória”, diz, em tom de satisfação. O FEME vai realizar bate-papos, dialogar com moradores e praticar intervenções urbanas na Poligonal 1, em Vitória.

 
A satisfação se justifica. Mesmo com participações em festivais internacionais no currículo – o mais recente foi em 2014 no Nosostros em La calle, em Lima, a capital peruana – a grafiteira de 23 anos já sentiu na pele os açoites morais aplicados pelo machismo no graffiti. Uma das inspirações do festival é justamente a visibilidade precária das mulheres no segmento. 
 
Aqui, como em tantos outros, o trabalho dos homens costuma ganhar mais notoriedade que o das mulheres, mesmo que talentos e aptidões se equivalham. Exemplo. Conta ela que certa vez estava com dois amigos fazendo um painel e as pessoas só paravam para trocar ideia com os rapazes. A moça ficava invisível. “É como seu eu não fosse uma produtora de arte com potencial. É como se eu fosse apenas uma ajudante”, diz. 
 
Mas, se antes a menina se destacava entre um grupo de meninos, hoje, aponta Kika, as mulheres começam a estabelecer referências entre si mesmas. Mas, claro, sem segregação de gênero.
 
Não à toa, portanto, que a partir desta terça-feira (8), Dia Internacional da Mulher, dois festivais integrados destacam a participação feminina no movimento Hip Hop. Entre terça e domingo (13) a Poligonal 1 de Vitória recebe o FEME. No sábado, em Itararé, acontece o Festival Mulheres no Hip Hop
 
Organizados pelo Coletivo DasMina, os festivais são vitrine para a produção feminina no graffiti, rap, Dj e break dance. “São também uma oportunidade de intercâmbio cultural, de troca de vivências não só artísticas, mas também da questão de como a mulher ocupa a cidade”, analisa Kika. A discussão sobre violência, claro, entra aí, uma vez que o Espírito Santo é dono de vexatórias taxas de feminicídio.
 
O Festival Mulheres no Hip Hop terá shows das bandas Melanina MCs e Preta Roots e MC Fênix, DJs Deb Schulz, Thaís Apolinário e Luísa Aguiar. As apresentações de dança ficarão com o grupo Conexão Flow e o graffiti com Camilla Dias no graffiti. Também haverá uma batalha feminina de MCs com premiação em dinheiro para a vencedora. O microfone estará livre para a mulherada soltar a voz.
 
Para a MC Pedrita, da dupla Preta Root’s, o destaque masculino no Hip Hop em relação ao feminino se dá, antes, pela pouca participação das mulheres no movimento, efeito, no entanto, não do machismo, mas antes das dificuldades de conciliar dedicação ao movimento e dedicação à vida em geral, o trabalho, os filhos. “Acho que no Hip Hop só fica quem tem amor ao movimento. Não falo pelo machismo. Temos outras obrigações, como o trabalho, os filhos. Sou mãe solteira”, diz a mãe de uma menina.
 
Daí vem, segundo ela, essa impressão de que os meninos se destacam mais. Ela considera, ainda, que a voz e o ponto de vista femininos no Hip Hop são elementos atrativos, uma vez que a realidade é contada do prisma de uma mulher e é falada de mulher para mulher. No entanto, o Preta Roots nem de longe se classifica como rap feminino. “Não tenho que disputar espaço com o rap masculino. A gente é um grupo de rap e ponto”, afirma.
 
De qualquer modo, embora o cenário ainda não seja o ideal, os festivais são históricos ao consolidar o crescimento da participação feminina nas manifestações de Hip Hop. Não à toa estão em suas primeiras edições. Sobre o do dia 12, Pedrita destaca que, em cerca de 20 anos de Hip Hop atuante no Espírito Santo, é o primeiro dedicado à produção das mulheres. “Isso vai ficar marcado. É uma geração que veio e está revolucionando”, festeja.
 
Serviço
O Festival Mulheres no Graffiti (FEME) acontece desta terça-feira (8) ao próximo domingo (13) na Poligonal 1 de Vitória (Consolação, Gurigica, São Benedito, Itararé, Bonfim e da Penha; comunidades de Jaburu, Constantino, Floresta e Engenharia). O Festival Mulheres no Hip Hop acontece sábado (12), a partir das 16h, na Praça Luiz Coser Neto (Pracinha de Itararé), Vitória. Entrada franca.

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