Com produção da Patuleia Filmes e do Filmes da Ilha, o longa Entreturnos foi finalizado em 2012 e, de lá para cá, figura em grandes festivais culturais, sendo bem reconhecido em muitos deles. No Vitória Cine Vídeo 2014, por exemplo, festival local, a obra foi premiada como melhor filme pelo júri popular, o que engrandece o nome e dá visibilidade à produção. Mas para além disso, Edson Ferreira, roteirista e diretor do filme, enxerga novas possibilidades a partir dos festivais, o que explica o tempo que Entreturnos levou para chegar de fato ao grande público. “A participação em festivais é um momento de troca bem essencial, sem falar no caráter democrático que eles têm e nas relações que são feitas da própria equipe do filme com outros produtores e cineastas; e do público com os realizadores. É um momento de amadurecimento para a obra. Traz um novo olhar”, falou ele.
Vivências não faltaram em festivais para o Entreturnos, que já saiu até do país, no Festival Internacional Del Nuevo Cine Latino americano de La Habana, em Cuba. “A experiência pelos festivais são muito intensas, no festival de Havana tivemos momentos muito importantes de contato com o público. O povo cubano é muito entendido de cinema, eles são muito ricos culturalmente e, desta forma, quando vinham conversar com a equipe, perguntavam coisas interessantíssimas, queriam saber dos aspectos técnicos, dos objetivos de certas situações, foi incrível”, contou Edson.
Diante do amadurecimento nesses eventos, o filme inicia agora uma nova etapa. Ainda continuará integrando festivais, mas também será levado ao grande público a partir de exibições em salas de cinema e também com sessão em julho no Canal Brasil. No Espírito Santo, a primeira exibição já será realizada em março, na próxima terça-feira (3), no Cine Metrópolis, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), às 19h30. A exibição será gratuita e, ao fim, será continuada com uma discussão sobre a produção de filmes no Espírito Santo.
Sobre essa pré-estreia chegar exatamente em um cinema de público universitário, Edson explicou por que a escolha do local. “O Cine Metrópolis já é em si um grande parceiro dos cineastas no Espirito Santo. Tanto que vamos realizar a pré-estreia em parceria com a ABD Capixaba [Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas], com a finalidade de discutirmos sobre o filme, pensarmos o processo, e contar com o público novo em cinema da universidade. O espaço é muito privilegiado por conseguir fazer o encontro entre a exibição e a discussão, isso é fundamental para nós no processo de divulgação”, explicou.
Diante da produção capixaba do filme, é muito comum ouvir pessoas caracterizando o longa de ‘filme capixaba’, como uma forma de frisar a produção local. Indagado sobre esse se esse tipo de regionalização atrapalha, Edson respondeu: “não me incomodo muito com o uso do termo. Estamos passando atualmente por uma retomada de produção de longas produzidos no Espírito Santo agora, e isso é muito importante. Em média, lançamos dois filmes por ano, o que ainda é pouco, então dá para entender que o público sempre relacione essa regionalização ao filme. Por outro lado é ruim, porque ficamos parecendo alienígenas. É como se o nosso cinema fosse muito diferente do cinema dos outros estados, pois você não vê as pessoas falando 'filme carioca, filme paulista', são apenas filmes nacionais”.
Edson afirma que o público capixaba já se reconhecerá em tela. “Eu quis que o filme não fosse só no Espírito Santo. mas também do Espírito Santo. Além de cenas gravadas aqui, como na Terceira Ponte, na Beira Mar, em Vila Velha, temos o própria retratação do jeito do capixaba. Então, haverá reconhecimento no público, há uma caracterização capixaba, não é preciso ficar sempre chamado de 'filme capixaba”, acrescentou Edson.
E já que o filme tem esse viés de apresentar um pouco da raiz capixaba, esbarra-se na questão da não protagonização do ator capixaba, já que Entreturnos conta com mais atuações de profissionais de fora do que do Espírito Santo. No total, são oito atores, sendo quatro deles em papéis principais, com a participação de apenas uma capixaba, os outros nomes são de repercussão nacional, como Luis Miranda e Paulo Roque.
Sobre isso, Edson apresenta diversos fatores que explicam também um pouco do cenário da produção local. “A produção capixaba está crescendo mas ainda passa por alguns empecilhos. Lidamos com a falta de alguns equipamentos e de atores específicos para o cinema, assim, temos que recorrer aos outros estados. No caso dos atores, temos profissionais de muito qualidade aqui e, com eles, realizei testes de elenco, conheci, tive contato direto, mas sempre esbarrava na questão deles estarem mais preparados para o teatro do que para o cinema. Dessa forma, recorremos a nomes nacionais”.
Segundo o diretor, no processo de escrita já há a visualização de quem seriam os atores. “Alguns deles já eram meus amigos, o que me fez tentar concretizar esse elenco pensado antes. E, claro, os atores de nome nacional trazem mais visibilidade, sim. Com o Luis Miranda, por exemplo, consegui fechar algumas parcerias devido à notoriedade dele. Mas o critério maior da escolha do elenco foi a identificação com o personagem, a forma como o ator 'abraçou' o Entreturnos contou muito”, completou.
Serviço
A pré-estreia de Entreturnos será realizada na próxima terça-feira (3), às 19h30, no Cine Metrópolis – Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória. A exibição será seguida de debate e a participação no evento é gratuita.