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Filmes e cursos compõem Mostra de Cinema Negro no Espírito Santo

Terceira edição do Mocines terá produção capixaba, nacional e internacional para ser assistida online durante 15 dias

Um evento que surgiu com objetivo de difundir a produção de cineastas negros e fomentar o debate sobre as questões étnico-raciais no audiovisual, a Mostra de Cinema Negro do Espírito Santo (Mocines) está prestes a iniciar sua terceira edição. Entre os dias 23 de janeiro e 6 de fevereiro, serão mais de 40 obras acessíveis online e gratuitamente pela plataforma de streaming Todesplay.

Em sua terceira edição, o Mocines será pela primeira vez online devido à pandemia. Além disso, traz outras novidades. Em 2022, o evento será temático, trazendo destaque para o Dogma Feijoada, manifesto que completou 20 anos e que representa um marco para o cinema negro no Brasil. Além de debater o tema, o evento vai contar com homenagem a Jefferson De, principal referência do Dogma Feijoada, que também fará uma palestra e terá alguns de seus filmes exibidos em uma sessão especial junto com obras e outros diretores que participaram do manifesto.

“Estarão disponíveis os quatro primeiros curtas que o Jeferson dirigiu e seus recentes longa-metragens. Assim é possível ter um panorama do quanto o trabalho de Jefferson cresceu e se aprimorou a ponto de podermos dizer que hoje ele é um dos principais nomes do cinema nacional”, diz Adriano Monteiro, um dos organizadores do Mocines sobre o cineasta autor de obras como M-8 e Doutor Gama.

Além da Sessão Dogma Feijoada, outras três marcam o evento: a Sessão Erê, voltada para público infantil, a Sessão Moqueca, que reúne a produção feita no Espírito Santo e a Sessão Nacional, com filmes de outros estados e também produções de brasileiros residentes em Portugal e Alemanha. Veja a programão completa no box ao final

Oportunidades para formação

Além de proporcionar visibilidade para produções de realizadores negros, que nem sempre têm oportunidade de ter seus filmes selecionados em grandes festivais, o Mocines também tem como objetivo “contribuir para a formação do profissional negro que trabalha no setor audiovisual”, como afirma Adriano Monteiro. “São oportunidades importantes para terem esse momento de diálogo com profissionais experientes”, explica.

Assim, a programação do III Mocines inclui várias atrações e oportunidades nesse sentido. Na MasterClass de abertura, Jeferson De fala sobre direção Cinematográfica. “Direção de Arte na Cena” é tema da outra MasterClass, comandada pela cineasta baiana Glenda Nicácio, que tem produzido diversos longas-metragens premiados nos últimos anos.

A Mostra também realizará as oficinas “Trilogia do Corpo: pesquisa e criação no documentário”, com o documentarista carioca Emílio Domingos, autor de filmes de sucesso como A Batalha do Passinho; e “Introdução à Fotografia Cinematográfica”, com Francisco Xavier, realizador audiovisual capixaba que trabalhou como diretor de fotografia no longa-metragem A Mata Negra, de Rodrigo Aragão.

Todas as atividades de formação são online e gratuitas, porém têm vagas limitadas e as inscrições devem ser feitas até quinta-feira (20) pelo link https://linktr.ee/mocines ou pela rede social Instagram. A organização informa que os cursos são abertos a todos interessados, mas que a seleção dará prioridade a pessoas pretas e pardas.

Histórico

As origens da Mocines remetem a 2015, quando começou a ser planejada a primeira edição pelos cineastas Adriano Monteiro, Daiana Rocha e Dell Freire. Mesmo sem recursos e sem experiência de produção desse tipo de evento, eles se juntaram e realizaram a então chamada Mosta de Cinema Negro da Ufes, no Cine Metrópolis, um dos parceiros que ajudaram a viabilizar o evento, cujos filmes foram baixados da internet pelos organizadores.

Além disso, professores, pesquisadores, cineastas, comunicadores e outras pessoas colaboraram voluntariamente para que o evento acontecesse com exibição de filmes, debates e oficinas em fevereiro de 2016. Adriano lembra que as datas disponíveis para realização da primeira mostra eram antes do início do ano letivo da Ufes, o que os preocupava em relação ao público, já que inicialmente contavam com a circulação da comunidade universitária. Mas ele conta que foram quatro dias com cinema cheio e grande participação.

“Víamos que o Espírito Santo está à margem desse debate, quando já havia pesquisas e produções principalmente de jovens realizadores no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e estados do Nordeste, como a Bahia. Então o que impulsionou a fazer a mostra foi trazer esse debate para o nosso estado, instigá-lo exibindo filmes e promovendo debate entre realizadores negros para tentar de alguma maneira aglutinar os pouco que haviam nesse momento por aqui”, explica Adriano Monteiro, que na época realizava cinema negro no mestrado.

No ano seguinte à primeira mostra, a partir de iniciativa dos mesmos realizadores, surge o Coletivo Damballa, voltado a articular, fortalecer e visibilizar a produção de cineastas negros no Espírito Santo e discutir as políticas culturais do audiovisual, inclusive as políticas de cotas.

Depois de um hiato em que os organizadores estiveram muito envolvidos na produção de seus filmes, a mostra volta a acontecer em 2019, já adotando o nome de Mostra de Cinema Negro do Espírito Santo e a sigla Mocines, aumentando seu potencial e amplitude. Nesse tempo se multiplicaram os festivais de cinema negro por vários estados brasileiros, sobretudo nas capitais. Entre os capixabas, cresceu significativamente o número de realizadores e profissionais negros no audiovisual, embora segundo Adriano, em quantidade ainda reduzida.

Nesta terceira edição, por conta da realização online, o desafio é ampliar o alcance da mostra e desses filmes para além do público do Espírito Santo. A plataforma Todesplay, onde serão disponibilizadas as obras, foi desenvolvida pela Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan). “É uma plataforma de streaming alternativa que além de abrigar festivais possui um catálogo com vários filmes. Nela já aconteceram várias mostras e atende muito bem à proposta da Mocines”, ressalta Adriano.

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