A pequena Vila de Itaúnas é o coração do forró do Espírito Santo e também um importante centro para este ritmo no país. Por isso, é lá que acontecerá nos dias 17 e 18 de julho a primeira etapa estadual do Fórum Nacional de Forró de Raiz.
O evento acontece porque o Espírito Santo é um dos 11 estados que fazem parte do processo de pedido de registro das Matrizes Tradicionais do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil. O processo é de 2011, mas os estudos de reconhecimento começaram a ganhar força no ano passado.
Um dossiê está sendo elaborado pela Associação Respeita Januário e tem como foco o reconhecimento do forró de raiz, forró-pé-de-serra ou outros nomes com que é identificado. Será entregue ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para confirmar ou não este reconhecimento, que pode ser feito a manifestações que compõem a identidade nacional, e busca salvaguardá-las, prevendo ações para maior visibilidade e sustentabilidade como forma de proteção dessas tradições.
Depois de reuniões em Itaúnas e Vitória, a preparação é para o fórum ampliado em julho e possivelmente outra atividade em Vitória, antes do encontro nacional que deve acontecer 23 e 24 de agosto em João Pessoa (PB). No Espírito Santo, quem coordena as atividades do Fórum de Forró de Raiz é Daiara Paraíso.
Nos primeiros encontros preparativos no Espírito Santo, compareceram músicos, dançarinos, produtores, organizadores de excursões e outras pessoas que integram o universo do forró no Estado e entendem que os fóruns podem ser uma oportunidade de articulação e maior diálogo entre estes atores, que vislumbram a possibilidade de fortalecimento do forró com a adoção de políticas a partir do reconhecimento como Patrimônio Cultural.
No fórum em Itaúnas devem ser debatidos temas como políticas públicas, matrizes do forró (música e dança), cadeia produtiva, contratação de artistas, acervo musical, territórios e comunidades, forró na mídia, forró como produto cultural, mercadoria e profissão. Além da elaboração de uma carta final com propostas e recomendações dos participantes.
A importância de Itaúnas para o forró brasileiro
O boom do forró de Itaúnas se dá a partir de fins dos anos 80, embora o local guarde manifestações anteriores, como o Forró de Sapezeiro, brincadeira feita há muitas décadas nos ensaios gerais de Ticumbi.
O curioso é que a ascensão do forró de raiz em Itaúnas se dá no momento em que o ritmo tipicamente nordestino está num momento de menor valorização em seu lugar de nascimento, segundo contam alguns dos pioneiros do movimento forrozeiro do norte capixaba.
Nos anos 90, ascendiam no Nordeste bandas modernas misturando forró com eletrônico e outros ritmos com grande apelo mercadológico. Referido por Chico César como “forró de plástico”, esse movimento atraía a juventude nordestina e movimentava multidões enquanto o forró de raiz se mantinha relegado a um público e músicos de mais idade, geralmente trazendo o tradicional formato do trio com triângulo, zabumba e sanfona.
Enquanto isso, a pequena vila capixaba atraía cada vez mais jovens interessados no forró, e aqueles que, atraídos pela praia ou pela tranquilidade do local, acabavam descobrindo a delícia de dançar e ouvir forró.
Os que participaram do início do boom forrozeiro na vila lembram de primeiro dançar ao som de fitas cassete, até que tempos depois começasse a haver shows de forró no local. A partir de Itaúnas foi-se criando também um estilo de dança com algumas característica próprias, o que foi se expandindo para outros locais.
Foram frequentadores de Itaúnas que começaram a criar um movimento de forró em outros estados do Sudeste e também na Grande Vitória. Não se pode negar a presença de diversos migrantes nordestinos em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que já traziam também seu som de forró, xaxado, baião e outros ritmos, mas a cena de Itaúnas teria sido importante para estimular a criação de grupos de dança entre jovens, inicialmente em universidades como a Pontifícia Universidade Católica (PUC) e Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, e depois para as casas de shows, sobretudo no bairro de Pinheiros.
Da dança também começaram a surgir novas bandas, formadas por jovens urbanos mas com um pé no ritmo tradicional, a mais famosa delas o Falamansa, que mantém longa e afetiva relação com Itaúnas. Por conta dessa origem, esse forró teria ganho, sobretudo por um apelo mercadológico das gravadoras, o nome de “forró universitário” – não confundir com o sertanejo universitário.
Em 2001, a criação do Festival Nacional Forró de Itaúnas consolida a vila não só como espaço de revelação de novos grupos, mas também como ponto de apresentação das principais bandas do forró-pé-de-serra, tanto da nova geração (Falamansa, Rastapé e Trio Virgulino, por exemplo) como com a reapresentação de grupos antigos e tradicionais como Trio Juazeiro, Trio Nordestino, Os 3 do Nordeste. Por locais como o Bar do Forró e Buraco do Tatu, já passaram grandes nomes da história do ritmo como Dominguinhos, Marinês, Geraldo Azevedo e Mestre Zinho.