A propriedade no olhar de Ratão Diniz, jovem fotógrafo carioca aclamado pela crítica, em retratar o oprimido e o popular resultam em um trabalho cheio de emoção e vivacidade. Nascido no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, Ratão se destaca na fotografia de altíssima qualidade de festas populares, dos rincões do País, do trabalho dos grafiteiros e das favelas.
Neste fim de semana (5 e 6) e nos dias 12 e 13 de agosto, o fotógrafo comanda um workshop em Vitória, no estúdio Base 40, sendo que os últimos dias serão de imersão no encontro de Folia de Reis, em Muqui, no sul do Estado. Além disso, também no estúdio, será aberta na próxima quinta-feira (10) a exposição “Uga, Uga, Há Há Há – Da Lama ao Bloco”, focada no tradicional Bloco da Lama, de Paraty, que sai todos os anos durante o Carnaval.
São imagens feitas durante sete anos do bloco pelo fotógrafo, que capta o aspecto ritualístico da festividade tradicional em que os participantes se embrenham na lama, usam adereços encontrados no próprio mangue e saem pelas ruas da cidade histórica, com sinalizadores e entoando o grito de guerra, que dá nome à exposição.
A passagem de Ratão pelo Estado também será marcada pelo lançamento do livro Em Foto no mesmo dia da exposição. O primeiro livro do fotógrafo é dividido em quatro eixos – favelas, interior do Brasil, grafite e festas populares – e é resultado das andanças de Ratão pelo País.
O próprio fotógrafo conta que, para fazer os registros literalmente “se joga”, seja de carona ou com a ajuda de amigos para todo o País. A nova fronteira desbravada por ele é o interior do Nordeste. “Fotografo seguindo um banco de imagens formado a partir da memória afetiva dos meus pais”, diz ele, filho de pai paraibano e mãe potiguar.
As viagens são sempre uma aventura, incentivadas – até mesmo financeiramente – por pessoas e amigos que acreditam na importância do trabalho de Ratão. Os projetos autorais são feitos em um trabalho de guerrilha e resistência, o que só fortalece os laços afetivos do fotógrafo.
Ratão acrescenta que ele próprio teve resistência em publicar o livro, por considerar que a história contada por ele através das imagens não tem início meio e fim. No entanto, venceu essa reserva inicial por vislumbrar este trabalho como em constante evolução, o que pode dar origem a novas séries, inclusive acompanhando os fotógrafados.
O tema da exposição, no entanto, será esgotado quando Ratão completar dez anos de cobertura do Bloco da Lama. A expectativa é que este fechamento de ciclo também resulte em um livro.
Origens
Nascido no Complexo da Maré, Ratão, de 33 anos, passou a se interessar pela fotografia ao frequentar a Escola de Fotógrafos Populares, levada para a Maré por João Roberto Ripper. Depois da formação, integrou a agência Imagens do Povo, também fundada por Ripper.
O trabalho feito fotografando o grafite e o trabalho dos grafiteiros no País gerou o convite para que participasse de uma residência artística no projeto Rio Occupation London, no Reino Unido em 2012. Em Londres, ficou baseado no distrito de Brixton, com forte influência jamaicana e foi expandindo a área de atuação, assim como no Rio de Janeiro.
No mesmo ano participou da exposição “Ginga da Vida” na Sede da Aliança Francesa, em Paris.
Todo o trabalho que Ratão faz é cheio de intensidade, feito para mostrar a versão dele do mundo e das pessoas, principalmente aquelas mais marginalizadas e sem voz. As imagens são o legado que deixa para a geração atual e para as futuras gerações, cumprindo o papel que lhe cabe e passando a bola para o próximo.