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Gay Talese, em vida de escritor, é um repórter (parte – 2)

Gay Talese, quando se tornou um jornalista que também era escritor, teve no Times, o que não surpreende, a sua ideia original, e que lhe renderia bons frutos, reconhecimento e fama como escritor e um dos expoentes do novo jornalismo, como ele relata em Vida de Escritor: “As referências ao sr.Ochs nas conversas entre Garet Garrett e meu pai deram-me a ideia de focalizar, como tema de minha dissertação de fim de ano, o dono do Times, que falecera em 1935. Eu teria gostado de entrevistar Garrett a respeito de seu antigo patrão, mas meu pai foi contrário à ideia, talvez por temer que minha intrusão lhe custasse um freguês. Mas eu havia anotado algumas coisas que tinha escutado, e depois encontrei informações sobre Ochs na biblioteca da cidade. Buscando informações sobre o sr.Ochs em biografias e enciclopédias da biblioteca, vim a acreditar que eu estava predestinado a escrever sobre esse homem, que em minha dissertação de cinco páginas eu chamaria de “O Titã do The Times””.

E tal dissertação viraria livro, finalmente, quando Gay Talese nos relata, mais uma vez: “Vinte anos depois, em 1969, eu pensaria nesse trabalho escolar como a gênese de meu manuscrito de 698 páginas sobre Ochs e sua dinastia. O livro foi publicado por uma companhia especializada em imprimir e distribuir Bíblias. Os editores da empresa ficaram satisfeitos com o fato de eu ter dado ao livro o título de O reino e o poder, por julgarem que, além do interesse que o livro pudesse ter para o público geral, talvez conseguissem vender muitos exemplares para leitores religiosos erroneamente convencidos de que a obra transmitisse uma mensagem espiritual. O livro foi o mais vendido nos Estados Unidos em 1970.” Ou seja, sucesso, Gay Talese se consolida como um jornalista que é também escritor, e não é só o reconhecimento de seu nome, como também alguém que vendia bem seus livros, “O reino e o poder” lhe coloca praticamente no olimpo do mercado literário norte-americano.

Mas, em Vida de Escritor, que é uma narrativa sobre fracassos, Gay Talese também retrata como alimentou algumas obsessões, tais como a sua ideia sobre restaurantes, no que segue em seu relato: “Em diversas oportunidades, durante o longo período em que fui cliente do Elaine´s, considerei a possibilidade de escrever um livro sobre Nicola Spagnolo, Elaine Kaufman e os grupos de literatos e outras personalidades que ali conviviam todas as noites. Cheguei a acreditar que seria capaz de produzir uma versão nova-iorquina de Paris é uma festa, de Ernest Hemingway, ou de Na pior em Paris e Londres, de George Orwell. (…) Se eu imaginava George Orwell como uma espécie de Dante a descrever um purgatório de panelas e frigideiras em seu livro Na pior em Paris e Londres, via a mim mesmo produzindo um Decameron de salões de jantar, banqueteando-me com histórias de clientes, de donos de restaurantes e seus funcionários, dando um jeito de fundir esse material numa narrativa coerente. Na década de 1970 comecei a escrever um diário sobre restaurantes, no qual anotava o que havia observado e escutado em minhas visitas noturnas ao Elaine´s e a outros restaurantes. Mantive esse hábito, de modo intermitente, durante os trinta anos seguintes. Na verdade, era sobre o mundo dos restaurantes que eu estava escrevendo durante o verão de 1999, quando assisti pela televisão à final da Copa do Mundo de futebol feminino entre China e os Estados Unidos.”

Gay Talese, a esta altura, tinha um problema de foco em seus trabalhos, pois se via envolvido com dois ou três projetos diferentes ao mesmo tempo, passando de um para outro quando um dos trabalhos empaca, achando mais sensato pôr de lado o que estava fazendo e reavaliando o material descartado em algum momento futuro. No que Gay Talese nos relata qual era a situação, então: “Em 1974 eu havia começado a descrever muitas cenas e situações por mim testemunhadas em restaurantes, mas elas pareciam demasiado fragmentárias e difusas. Por isso passei para outro projeto que já vinha acalentando, o qual eu finalmente consegui concluir em 1979. Esse livro foi Thy Neighbor`s Wife (A mulher do próximo) – um dos quatro que comecei e terminei entre 1965 e 1999. Mas durante esse período eu também havia começado vários outros livros, sem terminar nenhum deles. (…) Minha curiosidade me impele em várias direções, mas antes de ter investido muito tempo – meses, anos – não sei em absoluto se um assunto escolhido há de manter meu interesse. Às vezes jogo no lixo vários rascunhos que escrevi, mas em outras ocasiões ponho um trabalho de lado, arquivo-o, um ou dois anos depois releio o que fiz, às vezes reescrevo e volto a guardá-lo. Vez por outra, concluo que no fim das contas não vale a pena conservá-lo, e aí rasgo tudo e me liberto daquilo para sempre.”

Ou seja, os dilemas de Gay Talese eram produto de um interesse tão grande que se perdia em foco, e suas escolhas agora viam mais do que se descartava como enfadonho do que por uma escolha pelo melhor trabalho a realizar, e seu relato ganha a sua dimensão de um problema de escritores, quando ele nos diz: “Muitas vezes, escrever é como dirigir um caminhão de noite, sem faróis, errando o caminho e passando uma década numa vala. As coisas eram muito mais simples quando eu trabalhava como jornalista. Naqueles dias de juventude, um editor me mandava escrever uma determinada matéria, eu dispunha de um certo tempo para terminá-la e, estivesse ou não inteiramente satisfeito com o resultado, era obrigado a entregá-la, antes do prazo final, ao editor, que a passava ao copidesque, depois do que ela ia para a linotipia, e a partir daí eu não tomava mais conhecimento dela, até que a via na próxima edição do Times. No dia seguinte, o processo se repetia.” Ou seja, para ele, no fim das contas, as coisas funcionavam no ritmo veloz do jornalismo padrão, em que a demanda e o tempo ignoram qualquer preciosismo de um escritor cuidadoso ou demasiado profundo em seus trabalhos, pois ter uma coluna ou uma resenha não dava tempo de respiro, e por sua vez dava fôlego, o que ia contra o esmero de um escritor que quer chegar no âmago de algo que o jornalismo convencional simplesmente ignora, pois o que importa é entregar o texto, e não uma obra-prima.

Gay Talese prossegue no seu relato em Vida de Escritor: “O livro que, por contrato, eu deveria concluir na década de 1990, mas que até então não havia entregue a meu paciente e ansioso editor, deveria ser a segunda parte de Unto the Sons. Esse livro tinha como foco meus pais e minha ascendência italiana; já sua continuação deveria ser minha história, um relato autobiográfico de minha vida de semiassimilado nos Estados Unidos, na segunda metade do século XX. Comecei esse livro em 1992, escrevi e reescrevi a abertura dezenas de vezes, mas nunca cheguei a ir muito longe. (…) O que me bloqueava, creio, era a imprecisão de minha persona e o fato de que eu não sabia onde ambientar minha história. Eu não fazia a menor ideia de qual era minha história. Nunca havia refletido muito sobre quem eu era. Sempre me havia definido através de meu trabalho, que sempre tratava de outras pessoas. No entanto, eu tinha um contrato para escrever um livro. Havia assinado o contrato para a continuação de Unto the Sons em 1992, e tinha também aceito do editor, na época, um adiantamento de seis dígitos, quantia que, presumivelmente, cobriria minhas despesas correntes durante o período de três anos, tido como suficiente para que eu pesquisasse, escrevesse e por fim entregasse à editora um manuscrito que merecesse ser publicado e se tornasse, oxalá, um best-seller.”

A condição criativa de Gay Talese, portanto, não era das melhores, no que ele nos dá a sua situação, que pode ser julgada, de vários ângulos, como impressionante, para o bem e para o mal: “No fim de 1995, não tendo entregado uma só palavra à editora – embora garantisse regularmente, em cartas e faxes, que estava avançando – eu me achava tecnicamente inadimplente em relação ao contrato. A editora poderia ter-me processado e exigido a devolução do adiantamento, mas eles nada me cobravam, nem mesmo quando meu atraso continuou ao longo de 1996 e entrou por 1997. O que me salvou de ser processado, creio, foi que a editora sabia que eu me atrasara quatro ou cinco anos para entregar Unto the Sons e A mulher do próximo, dois livros que foram best-sellers. Fosse como fosse, não me pediram que devolvesse o adiantamento, o que me deixou muito grato, pois no fim de 1997 eu já tinha gasto até o último dólar. Embora não se possa dizer que eu tenha ficado reduzido à miséria, pois podia recorrer a poupanças feitas com obras anteriores, sabia que não poderia continuar indefinidamente com meu método de passar de um projeto para outro.”

E Gay Talese, pressionado, tinha que tomar uma decisão, e ela veio, no meio de sua confusão de prazos e prioridades: “Assim motivado, decidi que a segunda parte de Unto the Sons seria ambientada num restaurante. Abri meu arquivo e tirei de lá uma pasta grossa, havia muito deixada de lado, com uma etiqueta que dizia “Restaurantes – obra em andamento”, que continha mais de noventa páginas datilografadas, que começara a se acumular na década de 1970, com notas esporádicas de 1980 e 1990. Depois que Unto the Sons foi publicado, em 1992, pensei em retomar minha investigação sobre o mundo dos restaurantes, mas me contive. Eu precisava de uma trégua na pesquisa, pensei; talvez devesse tentar escrever mais de memória e menos do ponto de vista de um observador e entrevistador. Em pouco tempo, estava esboçando um relato sobre minhas experiências na faculdade, entre os anos 1949 e 1953, na então branquíssima Universidade do Alabama, memórias que para mim prosseguiram em 1965, quando voltei, como jornalista do Times, para entrevistar a primeira formanda negra, e também para fazer reportagens sobre as manifestações pelos direitos civis na antiga comunidade algodoeira de Selma.” Ou seja, Gay Talese percebe que para ganhar em eficiência ele teria de passar de um documentarista obsessivo que não encontra um ponto final e nem inicial em seu trabalho, para o de um memorialista, coisa que ele tinha todas as condições de fazer, e foi fazer.

Por outro lado, na sua passagem no Times, as coisas se lhe tornam favoráveis, no sentido de que seu estilo literário de jornalismo poderia, enfim, ter um lugar dentro do universo do jornalismo padrão das redações: “O diretor de redação do Times, Turner Catledge tinha anunciado sua expectativa de que a redação de notícias se tornasse mais vigorosa, pois a época do jornalismo “só de fatos” estava superada, agora que a televisão era primeira a atingir o público com texto e imagens das notícias de último momento. Em 1958, por sugestão de Catledge, eu tinha sido transferido da editoria de esportes para a geral, como parte de seu plano de dar mais ênfase ao texto e também às reportagens da seção principal do jornal. Mas as mudanças no Times ocorrem devagar, Catledge sabia que seria necessário uma boa dose de treino, paciência e tempo para imprimir uma marca sobre a mentalidade tradicional que predominava no centro nervoso do jornal, que era sua vasta redação, do tamanho de um quarteirão, e embora o publisher da época, Sulzberger, apreciasse e apoiasse Catledge, a velha guarda da redação era partidária dos colecionadores de relíquias que acreditavam ser uma temeridade retocar a fórmula de Ochs (ir direto aos fatos, sem firulas) para estimular talentos estilísticos mais apropriados à redação de nosso concorrente, o New York Herald-Tribune, à beira da falência.”

Em relação ao concorrente do Times e ao próprio Times, Gay Talese nos diz: “Esse último era conhecido havia muito como um jornal de escritores, dirigido no início da década de 1960 por celebridades como Tom Wolfe e Jimmy Bresli. O Times tinha sido sempre um jornal de repórteres, um jornal de registros. Em sua longa história, o Times nunca contratou astros do jornalismo com uma popularidade tão excepcional que pudessem tornar-se indispensáveis, fosse para garantir a bilheteria ou por qualquer outro motivo. O Times era um conjunto. E os tradicionalistas, que envelheciam e não davam importância às preocupações de Catledge com o futuro impacto do jornalismo televisivo sobre os leitores do jornal, acreditavam que a prosperidade do jornal no longo prazo estaria assegurada sempre que seus altos executivos e seus proprietários permanecessem fiéis às máximas do sr. Ochs. Por fim, o Times era uma empresa familiar. Nenhuma decisão importante sobre as políticas ou as práticas do jornal podia ser posta em prática sem o imprimátur da facção Ochs-Sulzberger que estivesse no comando.”

E em relação aos anseios de Gay Talese e a realidade, ele nos diz como as coisas eram no universo conciso e rápido da vida de jornalista, e não de literato: “Mas nada do que se publicava era mais perecível do que o que escrevíamos. Isso me incomodou quando eu era novo na redação. Como católico, eu tinha sido condicionado a pensar em termos de vida no além. Uma vez, quando eu estava suando em cima de uma matéria, com medo de perder o prazo, ouvi um repórter veterano que me chamava do outro lado da sala: ‘Vamos, rapaz, termine logo com isso! Você sabe que não está escrevendo para a posteridade’. Eu não sabia. Eu me atrasava habitualmente para entregar matérias porque as reescrevia com frequência, acreditando que o que eu escrevia seria preservado eternamente em microfilme nos arquivos do confiável jornalão de Ochs. (…) Eu me imaginava como um monge desenhando as iluminuras do Livro de Kells, um orgulhoso escriba à espera de que minha elegante prosa causasse uma impressão duradoura. Nós, jornalistas, na minha opinião, éramos os supremos cronistas dos acontecimentos contemporâneos, a infantaria para os historiadores. Com o tempo, no entanto, admiti a contragosto que a observação de meu colega mais velho era correta. Não escrevíamos para a posteridade. Nós, jornalistas, às vezes parecíamos mancomunados à indústria de fast-food, como preparadores de lanches para consumidores de informações e ideias servidas quase sempre meio cruas. O que escrevíamos às pressas era frequentemente incompleto, confuso e inexato.”

E uma ponta de esperança surgia no horizonte, mas por pouco tempo, como Gay Talese nos relata em seu Vida de Escritor: “Antes de minha viagem ao Alabama para o encontro de ex-alunos, tive contatos frequentes com a nova editora da New Yorker, Tina Brown, uma britânica de quarenta anos, loura e formada em Oxford, e num dia de verão de 1993, fiquei feliz e honrado quando ela expressou o desejo de que eu me tornasse colaborador permanente de sua revista. Eu teria meu próprio gabinete na redação, disse ela, e seria identificado pelo título de “livre-escritor”, que ela conferia a Norman Mailer quando ele trabalhou na Vanity Fair. O que me atraiu na proposta de Tina foi o alívio que me proporcionaria, pelo menos durante o ano em que estaria contratado pela New Yorker, de minha ridícula vida de autor prolífico de manuscritos inacabados.”

No entanto, a sua situação como escritor era a seguinte, segundo o próprio Gay Talese: “Apesar de todo o tempo que eu tinha dedicado a me familiarizar com personagens de restaurantes como Nicola Spagnolo, Elaine Kaufman e Robert Pascal, e não obstante meu mergulho na história da construção do azarado edifício Willy Loman no número 206 da rua 63 Leste – e de toda a minha pesquisa sobre os problemas do Alabama – eu não tinha nada que pudesse mostrar como um livro em andamento. (…) Se eu trabalhasse para Tina Brown não teria essa opção, nem teria muito tempo para ficar ruminando. Eu me tornaria parte de uma revista semanal de ritmo acelerado, dirigida pelos instintos infalíveis de Tina e por seu tirocínio a um só tempo jovial  experiente. No entanto, ela tinha direcionado a revista mais para atualidades e para o “agito”, e eu não estava certo de poder me enquadrar nesse esquema, principalmente se ela me escalasse para fazer perfis de pessoas que tinham acabado de ganhar fama ou, de qualquer outra forma, correspondessem ao conceito atual de celebridade. Em meados da década de 1960, um ano depois de sair do Times, gostei de trabalhar para o editor da Esquire, Harold Hayes, com contrato de um ano, mas a Esquire era uma revista mensal, e eu acreditava que com Hayes tinha tido mais espaço e tempo do que Tina Brown poderia me conceder agora, embora eu pudesse estar errado quanto a isso. Era certo, no entanto, que quando eu escrevia sobre gente famosa para a Esquire, essas pessoas já tinham passado de seu auge ou estavam descendo a ladeira do sucesso.”

E a face do fracasso logo levou Gay Talese de volta à realidade crua da rotina de jornalista, mais do que a dos devaneios de um escritor: “Na verdade, comecei a considerar escrever mais sobre o anonimato e o fracasso quando passei a me encontrar com Tina Brown. Todavia, achando que nada poderia ser menos interessante para ela, hesitei em falar sobre isso. Mas estava motivado pela ideia de que poderia sair do estado de indecisão e descontentamento em que me encontrava se escrevesse sobre os descontentamentos e a desesperança de outras pessoas, e achei que devia fazer isso imediatamente, e alegremente, num pequeno livro que poderia ser minha homenagem a Na pior em Paris e Londres, de George Orwell, ele trataria do fracasso, e não era um tema muito excitante para um publisher, mas eu achava que com tantos livros sobre o sucesso no mercado, seria interessante ler algo sobre pessoas que talvez tenham desenvolvido um talento singular para a derrota.”

Gay Talese, então, faz um apanhado geral de suas ciladas como escritor, quando nos relata sua situação concreta, no sentido do que ele tinha abarcado como material, de forma objetiva, para além de suas ideias e do que ansiava: “Passei a primavera e o começo do verão de 1999 voltando a meus arquivos de pesquisa, relendo minhas anotações e reescrevendo algumas das partes das várias obras em que tinha trabalhado mas nunca chegara perto de terminar. Havia 54,5 páginas sobre Frederick Schillinger e as origens do “edifício Willy Loman”. Havia uma introdução de quarenta páginas às minhas memórias, que começava com minha chegada à Universidade do Alabama em 1949. Havia sessenta páginas de um livro de viagens que contava minha primeira visita à Calábria, em 1955. Havia a sinopse de um livro e noventa páginas datilografadas de notas referentes aos problemas financeiros da empresa automobilística Chrysler, tema que eu tinha explorado em 1982, fazendo muitas entrevistas com executivos da Chrysler em Detroit e com seus sócios, da Mitsubishi, em Tóquio. Havia também em meu arquivo algumas pastas com a etiqueta “Os Bobbitt – Obra em andamento (1993-1994)”. Eu provavelmente teria jogado isso fora havia muito tempo se não fosse o conselho da editora da New Yorker, Tina Brown, para quem o tema poderia algum dia dar um livro curto.”

E a circularidade do livro Vida de Escritor finalmente se conclui, nas palavras de Gay Talese, pois é na dispersão que lhe vem mais uma ideia: “Em julho de 1999, quando estava em Nova York, tentando escrever e livrar-me do beco literário sem saída que havia feito minha vida profissional estagnar. Quando não estava lutando com palavras e parágrafos em minha mesa de trabalho, entregava-me a atividades tranquilizantes, dentre elas ver jogos de beisebol ou outros eventos esportivos em meu pequeno televisor. Para mim, aquele foi um verão de zapeamento. Foi quando pela primeira vez senti o impulso de voar para o outro lado do mundo a fim de entrevistar Liu Ying, a jovem chinesa que havia perdido o pênalti na final da Copa do Mundo feminina entre a China e os Estados Unidos, o que custara o título à sua equipe. Logo, eu estava num jato que ia para o Extremo Oriente. E cinco meses se passariam antes que eu voltasse para minha casa em Nova York.” E Gay Talese conclui o seu périplo, ele dá várias voltas e Vida de Escritor é um apanhado geral destas voltas e reviravoltas de seu trabalho como jornalista e escritor, de seus anseios e o conflito brutal entre o ideal e o real, que pode ser entendido como a fonte dos dilemas que perpassam todo o livro Vida de Escritor, e uma das razões da circularidade em que tal obra se consuma.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Blog: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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