O novo espetáculo do Grupo Beta de Teatro recebe o nome de “O que restou dos nossos amores” e é o primeiro trabalho como dramaturgo e diretor de Thiago Mozer. A ditadura, o HIV, o amor entre as personagens Caio e Isabel e referências aos escritores Caio Fernando Abreu e Cacaso. Como vários fios de uma trama, esses elementos se intercruzam e dão forma ao novo espetáculo. A supervisão de direção de Rodrigo Portella (Cia. Cortejo-RJ).
A montagem estreia dia 6 de outubro na Má Companhia, Centro de Vitória, e segue em temporada às sextas, aos sábados e domingos durante todo o mês de outubro. A peça é livremente inspirada na vida e obra do escritor Caio Fernando Abreu e estruturada em dois atos, como os dois lados do vinil. O Lado A aborda o início da relação entre as personagens fictícias Caio e Isabel, que são interpretados por Vinicius Duarte e Paula Molina, e tem como contexto a ditadura militar pós-AI-5. O Lado B se passa quinze anos depois do último encontro do casal durante a ditadura afetiva surgida com o boom do HIV no Brasil, quando ainda não havia o medicamento AZT e a doença era conhecida como “câncer gay”.
Dramaturgia Musical “O Que Restou dos Nossos Amores” é a primeira dramaturgia escrita pelo ator Thiago Mozer, que também estreia na função de diretor na montagem. Ele explica que a sinopse da peça surgiu em 2014 em uma oficina com Vinícius Souza, do Galpão Cine Horto, e o texto foi desenvolvido a partir de um núcleo de dramaturgia coordenado por Fernando Marques (Grupo Z de Teatro), em 2015, do qual Thiago participou.
O espetáculo recorre, ainda, a um compilado de referências musicais que estão presentes nos contos de Caio Fernando Abreu, cuja trajetória artística e pessoal também se mescla com a obra “Beijo na Boca”, de Cacaso, na dramaturgia. “Decidi colocar um personagem que tem a mesma batalha do Cacaso, que é a busca por um beijo, mas com a possibilidade de brincar com biografia do Caio Fernando Abreu, as canções de seus contos e romances, investigando os lugares do melodrama”, conta Thiago.
Segundo o diretor e dramaturgo, as canções entram no nível textual da narrativa, de modo que os personagens respondem ou fazem perguntas a partir de versos de canções, mas sem cantá-las. “E o espetáculo já tem o nome de uma canção francesa muito melancólica – ‘Que Reste-t-il de Nos Amours’, do Trenet”, acrescenta.
A identificação de Mozer com o trabalho do diretor e dramaturgo Rodrigo Portella, fundador da Cia. Cortejo, de Três Rios-RJ, levou o grupo a convidá-lo a fazer a supervisão de direção de “O Que Restou dos Nossos Amores”. Nos encontros que teve com o Grupo Beta, Portella fez apontamentos visando oferecer caminhos e perspectivas para a montagem e também para que o diretor e dramaturgo estreante potencializasse o processo de escrita e de direção, principalmente de direção de atores.
“Não houve grande dificuldade. O Thiago é muito generoso, uma pessoa extremamente sensível, com muito conhecimento e com grande capacidade de escuta. São características muito importantes para uma carreira nessa área da direção teatral. Com a minha experiência pude dar um suporte, um terreno e uma certa firmeza, uma certa segurança, que foi importante para ele nesse momento”.
Rodrigo Portella escreveu 17 peças e dirigiu mais de 20 espetáculos, recebeu mais de 150 prêmios em festivais de teatro nacionais e internacionais, teve duas indicações ao Prêmio Shell (RJ) 2013, Melhor Direção por “Uma História Oficial” e Melhor Texto por “Antes da Chuva”, além de ser indicado ao Prêmio APTR pela iluminação do espetáculo “Na Solidão dos Campos de Algodão”, dirigido por Caco Ciocler. Portella assina, ainda, a direção de “Tom na Fazenda”, atualmente em cartaz no Rio de Janeiro, que já conta com cinco indicações ao Prêmio Shell, sete ao Cesgranrio e dez ao Botequim Cultural.
Serviço:
O Que Restou dos Nossos Amores(Grupo Beta de Teatro)
De 06 a 22 de Outubro Sextas-feiras, sábados e domingos sempre às 19 horas. O valor é R$ 20 (inteira); R$ 10 (meia). No espaço Má Companhia – Rua Professor Baltazar, 152, Centro – Vitória-ES.
E de 27 a 29 Outubro Sexta-feira, sábado e domingo, às 19h, com entrada gratuita, no Teatro Carlos Gomes – Praça Costa Pereira, Centro – Vitória-ES