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Grupo de mulheres troca experiências para preservar prática do benzer

Grupo também quer fazer um mapeamento das benzedeiras e promover o despertar de dons

Memórias afetivas são um dos fatores que têm impulsionado um grupo de mulheres a se reunir mensalmente para a troca de experiências sobre o benzimento. Em suas recordações, a busca pela arte do benzer e os processos de cura possibilitados pela prática fazem com que, em algumas delas, seja despertado o desejo de se dedicar a isso. Em outras, somente a procura por um conhecimento maior, mas em todas, a necessidade de se articular para que essa tradição não morra no Espírito Santo.

Nos encontros mensais, as pessoas relatam suas experiências na convivência com benzedeiras e também na atuação dessa atividade, já que o grupo é aberto a quem já se dedica ao benzimento. A ideia é que seja feito um mapeamento das benzedeiras, inicialmente na Grande Vitória, para que esse coletivo recém-criado aumente e seja possível traçar ações conjuntas de despertar desse dom.

Divulgação

A professora Joana Penha de Souza afirma sentir esse desejo. “Vira e mexe sinto isso no meu coração. Tenho impressão de que tenho essa conexão. É algo que me acompanha ao longo do tempo”. Em seu baú de memórias, recorda das visitas às benzedeiras na infância. “Para criança de roça, o caminho mais próximo para a cura é a benzedeira”, diz. Se quando criança ela era enviada pela família ao encontro dessas mulheres, depois de adulta foi a vez de ela levar os sobrinhos.

A ancestralidade também é destaque na relação de Joana com o benzimento, uma vez que que sua avó “rezava as pessoas”. A professora saiu da roça e foi com a família morar na cidade, mas não deixou sua admiração pela arte de benzer em sua terra natal, pois no bairro onde passou a viver, também tinha benzedeiras. “Hoje as senhoras que benziam já são falecidas, algumas já não têm mais condições de benzer, é uma tradição que não pode morrer. Acredito muito nesse trabalho. Até hoje, se sei de alguém que benze, eu vou”, conta,

A dona de casa Penha Dalva do Nascimento Marcondes participa do grupo, mas afirma não se ver, no momento, atuando como benzedeira. Acredita, porém, que pode contribuir de outras formas. “Sei da minha capacidade de articular, promover, acolher. Se surgir o sentimento de benzer, vai ser uma alegria partilhar isso. Acredito nas energias do benzimento, do reiki, nas energias da natureza, do sol, da água, da terra. Que a gente possa cada vez mais acreditar nessas energias, para cuidar da nossa saúde, tanto física quanto espiritual”, ressalta.
Foi por meio dessas energias, segundo Penha Dalva, que passou a ter mais qualidade de vida, não sentindo mais fortes dores por conta da degeneração da cartilagem dos ossos. A dona de casa relata que, por meio do reiki e de produtos naturais, como chá de pacová e essência de sucupira, faz seu tratamento sem recorrer a remédios de farmácia.

A aposentada e pesquisadora em desenvolvimento humano e processos educacionais, Helena Rosa de Oliveira, que teve a iniciativa de criar o grupo, afirma que a ciência é fundamental, mas não precisa atuar sozinha. Para ela, quando se trata das energias, se enxerga o ser humano de maneira integral.

“Por isso queremos resgatar o benzer, as curas, rezas, imposição de mãos. Articular esses saberes, ver onde estão, descobrindo a força do benzo e ajudando pessoas que estão doentes de forma geral, não somente fisicamente. Estamos em uma situação de pandemia, de degradação governamental, empobrecimento, fome, de um desgoverno que inverte a ordem do bem viver. A população adoece, fica com o coração sofrido, está faltando generosidade e fraternidade nas relações humanas”, enfatiza.
Helena Rosa criou o grupo pensando “no que há de mais simples, de mais humano, de mais chão, no resgate da troca, de gente que benze com amor, que reproduz a doação que herdou dos ancestrais”. Trata-se, ainda, de uma forma de “harmonização com o seu ambiente, a sua casa, a casa comum, que é a Terra. Não estamos falando de doutrina, de religiões”, pontua.
Benzedeira jovem
Conforme relatos das entrevistadas, mulheres que se dedicam ao benzimento, devido ao avançar da idade, têm morrido. Com isso, a tradição pode ficar ameaçada. No Espírito Santo, a carência de jovens benzedeiras é uma realidade, mas Yasmin Ferreira, também conhecida como Véia do Patuá, de apenas 26 anos, quer mudar essa situação e, inclusive, se juntou ao grupo criado por Helena Rosa.
Leonardo Sá

Véia do Patuá realiza grupos de meditação abertos ao público, nos quais auxilia as pessoas a buscarem “autoconhecimento, se curar”. O autoconhecimento, defende, é necessário para se tornar “ferramenta de cura para a sociedade de forma ampla, mudar a vibração de uma sociedade doente, marcada pela ansiedade, depressão e crise de pânico, necessitando do aumento do poder de cura coletivo das pessoas”.

É nesses espaços de meditação, que ela almeja encontrar jovens para participar de um grupo que pretende formar até julho, quando acontecerá “uma jornada para vivenciar o resgate dos saberes ancestrais, potencializar rezas e atividade do bendizer”, explica.

O grupo de meditação acontece todas segundas e quartas, às 19h, no Estúdio Corpo e Mente Sã, em Vale Encantado, Vila Velha. Véia do Patuá afirma que viu nessa atividade uma forma de manter viva a tradição do benzimento, por ser um espaço procurado por jovens, já que, principalmente a juventude, “está muito desequilibrada emocionalmente e espiritualmente”, realidade que atribui à correria e produtividade impostas pelo sistema.
A ideia com a meditação e, posteriormente, com os grupos a serem formados por jovens que queiram praticar o benzimento, não é criar um curso para o bendizer, e sim, “proporcionar vivência, acordar o propósito que tem no DNA das pessoas, pois todo mundo tem uma herança espiritual, muitos têm o propósito de vida de benzer, mas não têm contato com quem ensine”.

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