Cinco atores e um diretor de uma companhia de teatro estão há 10 dia de estrear a sua peça, mas tudo parece conspirar contra os artistas. Ainda há o contexto da ditadura militar para dificultar ainda mais os ensaios e todas essas pressões externas e internas acabam originando diversas crises no grupo. Esse é o clássico enredo de Um grito parado no ar, do dramaturgo ítalo-brasileiro Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), que agora será apresentado pela Cia de Teatro Paiol, de Cariacica.
Para Hudson Braga, ator e fundador do grupo, apesar de a trama se passar na década de 70, o texto continua atual. “Ainda enfrentamos muitas dificuldades para fazer teatro e viver da nossa arte, sofremos com a falta de apoio e de patrocínio, principalmente. Um grito parado no ar é como se fosse o nosso grito para não deixar esse amor pelo teatro morrer”, diz. O espetáculo será encenado nesta terça-feira (27), às 20h30, no Teatro Carlos Gomes.
O grupo se utiliza da metalinguagem para contar a história dessa peça. As cenas que o grupo fictício pretende encenar são apenas sugeridas, por que sempre aparecem problemas que impendem que elas sejam finalizadas. “Nós interpretamos um grupo engajado que quer a todo custo trabalhar, mas surgem os mais diversos impedimentos, desde a falta de luz até a censura a as torturas do período militar”, explica Hudson.
Essa força de vontade é o ponto em comum entre o Grupo Paiol e a Cia que estão representando. O grupo estreou no final de 2012, com a montagem da peça Revolução de Caranguejos, do autor capixaba Toninho Neves. Um grito parado no ar é o seu segundo trabalho. A companhia não se limita apenas em reunir artistas independentes para criar projetos e vencer editais, o objetivo do Paiol é ser um grupo fixo de estudos e debates de teatro contemporâneo.
“Percebemos muitas iniciativas efêmeras que duram apenas o tempo do edital, nós resolvemos fazer diferente. O elenco e a equipe técnica são sempre fixos e nos reunimos semanalmente para discutir os nossos trabalhos e pensar novos textos”, conta Hudson. Foi numa dessas reuniões que surgiu o texto de Gianfrancesco Guarnieri, que dialogava com a linha de pesquisa do grupo.
“O nosso primeiro espetáculo também abordou a ditadura e depois vivemos os protestos de junho e então o texto de Um grito parado no ar só veio a somar nos nossos debates”, conta. Além disso, o espetáculo foi o primeiro a furar a Censura dos militares, por que se utilizava de metáforas para discutir as questões sociais da época de forma implícita.
Serviço
O espetáculo Um grito Parado no Ar será encenado nesta terça-feira (27), às 20h30, no Teatro Carlos Gomes. Ingressos: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia)