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Há 20 anos, Caê Guimarães via o mundo ruir em ???Por Baixo da Pele Fria???

O olhar de Caê Guimarães sobre o primeiro rebento, Por Baixo da Pele Fria, que ele relança na próxima quarta-feira (8), em Vitória, oscila entre o do pai extremoso e o do pai severo. Houve momentos de orgulho com versos e poemas inteiros. “Eu lia e falava: ‘Nossa, esse moleque… tem alguma coisa aí”. Mas às vezes o entusiasmo cedia. “Cara, por que você não tirou isso? Esse poema é ruim”.
 
Confronto natural, dada a distância que separa o Caê de hoje – 48 anos, três livros de poesia, um de crônicas e uma novela – e o jovem que entre os 18 e os 25 engendrava os primeiros versos. 
 
Escrito entre 1989 e 1996, Por Baixo da Pele Fria foi lançado em 1997 pelo lendário editor independente Massao Ohno (1936-2010), dono da editora homônima que lançou autores como Hilda Hilst, Roberto Piva e Claudio Willer. Em 2013, a obra foi traduzida para o catalão e ganhou edição bilíngue. A edição comemorativa sai pela Editora Cousa e traz textos sobre a obra de Bernadette Lyra, Orlando Lopes, Pablo Cruces, e Joana Castells Savall, além da orelha de Sérgio Blank. 
 
Os versos de Por Baixo da Pele Fria retratam o mundo em transição que era os estertores do breve século 20. A vida social deixava o padrão analógico e fincava pés na era digital; a sensação de que tudo o que é sólido se desmancha no ar só iria recrudescer. “Ali as coisas estão sempre se esvaindo”, analisa Caê, que também vê certa dureza no livro. “Sempre percebi poemas pouco adjetivados e com muitos substantivos. Isso traz dureza”.
 
É o que revelam as imagens vigorosas do poema de abertura:
 
FRAGMENTOS DE NINGUÉM
 
Habitamos uma cidade.
Dela recolhemos hálitos e narizes.
Línguas e pedaços de orelhas do chão.
Os olhos são os únicos órgãos que flutuam no ar.
Como navalhas suicidas
procurando um muro para se encostarem.
Somente aos olhos é permitido tocar a distância.
 
A obra é exemplo palpitante desse redesenho dos padrões de sociabilidade. Caê teve que redigir cada um dos 62 poemas para a edição comemorativa pela singela razão de que não os tinha registrado em qualquer dispositivo digital. À época, despachou os poemas a Massao Ohno via disquete; agroa, teve que recorrer a um de seus 10 exemplares da primeira edição – relíquias que conserva com zelo – para conceber a edição comemorativa.
 
Serviço
A edição comemorativa de Por Baixo da Pele Fria será lançada nesta quarta-feira (8), às 19h, no Cabrón Cine Bar. Avenida Desembargador Santos Neves, 621, Praia do Canto, Vitória. 120 páginas. R$ 30.

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