Coletivo Cores que Acolhem ouviu moradores para colher elementos e realizar pintura no bairro de Vitória
Em 2019, cumprindo meio século de Jardim da Penha, o grupo passou para os muros dos armazéns do IBC os desenhos feitos por crianças sobre o que desejavam para o futuro do bairro. Neste ano, foi a vez de trazer para outros muros a memória sobre o bairro de ocupação recente, mas que hoje é o segundo mais populoso da Capital, com cerca de 30 mil habitantes.
O produtor cultural Stefan Marques, um dos responsáveis pelo projeto, conta que o trabalho começou a partir da escuta da própria comunidade do entorno, sobre os elementos mais marcantes do bairro que desejariam ver nas pinturas. “Foi um trabalho de escuta dos moradores, trabalhando o pertencimento e a autoestima da comunidade”, diz. Por conta da pandemia do coronavírus, todo processo foi realizado por meio de enquetes feitas pela internet com sistematização das respostas.
Depois disso, foi hora de colocar a mão na massa, ou melhor, o pincel na tinta – e a tinta no muro. A primeira fase de pintura durou 15 dias e a segunda seis, tendo como intervalo um período chuvoso. O resultado você confere na sequência de fotos a seguir.
O primeiro mural com um grande e colorido pavão pintado, faz referência ao nome do bairro, Jardim da Penha, como um amplo jardim de onde se podia avistar de qualquer ponto o Convento da Penha. O painel seguinte faz referência às 106 primeiras casas construídas no bairro e ao Clube 106, existente até hoje, criado pelos moradores como alternativa de lazer. No mesmo painel aparece também a tradicional feira livre, que acontece semanalmente aos sábados.
Outro mural traz pintura da Rua da Lama, destacada como um polo gastronômico e cultural do bairro. No seguinte, uma representação das praças com públicos de diferentes idades, desde crianças até idosos, e irônicos ícones: uma grande bússola junto a um suposto mapa. Afinal, quem nunca se perdeu entre as ruas e praças de Jardim da Penha?
Há ainda uma segunda fase dos murais que traz a Praia de Camburi e seus diversos elementos, como os barcos ancorados, o Pier de Iemanjá, os esportes praticados, a estátua de Mauricio de Oliveira e os elementos do calçadão. Além da pintura nos muros, o projeto também enfeitou as calçadas da escola, desenhando uma reconstituição do primeiro traçado do calçadão de Camburi.
Na entrada do colégio Álvaro de Castro Mattos, ainda há um painel geométrico feito pelo diretor da escola, o artista plástico Israel Scárdua, que compõe a cena junto com a pintura do emblema de 50 anos da escola.
Mas além dos muros da escola, as pinturas ainda se estenderam até a Praça Aníbal Antero Martins, onde se localiza a Igreja Católica São Francisco. Lá foram feitas outras pinturas que remetem a elementos naturais e paisagísticos, além de registrar um jogador de bocha, esporte muito praticado na praça.
A elaboração das artes teve curadoria de Caio Cruz nos muros e Kelvin Koubik nas artes feitas na praça, além de contarem com apoio dos artistas Cláudio Tripa, Roger Jackson e do próprio professor Israel Scárdua e uma equipe de três ajudantes.
Para o ano que vem, o projeto Cores que Acolhem promete muitas novidades. O grupo assumirá o Instituto TamoJunto, que será transformado no Instituto de Cultura e Responsabilidade Social (Icores), presidido por Zuleica Faria, funcionando como organização da sociedade civil com planos de apoiar e realizar projetos culturais com foco especial em jovens e nas comunidades periféricas.