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Intensidade marginal está presente no novo livro de Ingrid Carrafa

Como uma literatura que afeta e que não deixa seus leitores imunes das tantas divagações de mulheres. Esse é o livro Não Joguem Pedras na Geni, segunda e nova obra de Ingrid Carrafa (foto acima) – que em abril de 2015 lançava o primeiro livro da carreira e dizia estar com o segundo já em mente, na vontade de trabalhar um lado ‘trash’, mais marginalizado, que “chocasse um bocadinho”. Agora, Ingrid volta com seu mais novo livro que cumpre de forma intensa o que a escritora aspirava.  

A rua, os bares, a sarjeta, os cigarros, os porres, as ressacas e os vazios continuam figurando nos poemas de Ingrid. Contudo, dessa vez, de forma mais crua, mais “vomitada”, como ela mesmo define. Não Joguem Pedras na Geni é uma dessa obras que vandaliza, no melhor sentido da palavra, o poema e sua forma; que suga literatura das cenas paradas, de onde não acontece nada a não ser divagações e observações, como no trecho a seguir: Ninguém reparou na moça de cachos vermelhos que entrou no ônibus com um rombo no peito. O coração ainda batia.

E apesar do impacto que vem causando com os textos que escreve e publica na internet, Ingrid ainda carrega certa insegurança a respeito da construção do que produz. “Nem faço ideia de como construir um poema. Eu não tenho faculdade, ou teorias a seguir. Os meus poemas seguem o caminho de serem ‘vomitadas essas coisas mesmo’. Certo dia estava conversando com um leitor, desabafando que não tenho formação na área e ele mandou eu me ferrar. Era o meu leitor me dizendo que não preciso disso”, recorda.

Neste novo trabalho, a escritora mantém a marginalidade bem presente nos poemas quase sempre curtos – e certeiros no que dizem. Ela conta perceber um certo amadurecimento em sua escrita “Deixei de lado a menina apaixonada, desiludida e dei espaço à mulher puta da vida mesmo, rebelde. Essa mulher que quer mostrar as caras e não se importa com o que vão pensar”. Essa mulher a quem Ingrid se refere pode ser muito bem ilustrada pela personagem Geni, que não só dá nome do livro, mas também estampa dois textos na obra. Um trecho deles abaixo:

Esfrega a xota na estátua de Drummond, Geni! Tira foto, compartilha, SUA Puta! Rameira! Meretriz! Messalina! Concubina! (Xota Lírica)

A Geni do livro de Ingrid é a mesma Geni cantada por Chico Buarque, no clássico da MPB Geni e o Zepelim. A escritora lembra bem o motivo de colocar a personagem em um de seus textos. “Faz algum tempo que uma moça tirou uma foto na estátua do Drummond, no Rio de Janeiro, onde ela está de cócoras no monumento. Na época, até alguns intelectuais compartilharam indignações sobre o caso, ofendendo a moça e dizendo que ela não poderia fazer aquilo com uma estátua tão significativa. Vendo essa reação fiquei meio pasma. Senti necessidade de falar sobre isso e nasceu o verso Esfrega a xota na estátua de Drummond, Geni“, explica.

A Geni é também, e antes de tudo, um apanhado das mulheres que passam e passaram pela vida de Ingrid, desde a mãe e a irmã, até as mulheres comuns do dia a dia. “Ela é a vivência dessas mulheres que estão no meu caminho e das mulheres que sou, que vou me transformando. A Geni sou eu sofrendo desilusão amorosa, sendo apedrejada porque fiz uma foto seminua no Facebook. A Geni somos todas nós”, divaga Ingrid sobre uma voz literária que se faz presente no livro ao destacar a liberdade feminina e condenar qualquer tipo de pudor ao corpo e aos sentimentos.

Aliás, o corpo se faz presente nos poemas de forma política até, no sentido de enxergá-lo como um templo a ser respeitado. O sexo também molda grande parte dos escritos, em suas mais diversas abordagens que, reunidas, entregam a mensagem de liberdade ao leitor. “Quero que as pessoas enxerguem o corpo, o sentimentos, os instintos e que flertem com isso porque a vida é muito curta. A gente tem que se jogar sem esses pudores”, recomenda.

Ler mais um livro de Ingrid Carrafa é como se ver como um amigo íntimo sentando num boteco para escutar o que a escritora tem a dizer após alguns cigarros e cervejas. Nada da rotina se mostra árido por demais para virar poesia, dessas viscerais. E muito do que Ingrid escreve vem das vivências e dos relacionamentos – que também se misturam à ficção – embora muitos leitores confundam as coisas. “Tá certo que o que escrevo é muito próximo do que já vivi ou vivo, mas ainda existe certa ficção lá, às vezes minto como todo poeta. Mas algumas pessoas ainda leem minha obra e me taxam de louca, satanista, puta. Alguns homens chegam com abordagens desrespeitosas inclusive”, conta.

No universo dos nossos corpos quero tudo! Nesse corpo que é minha moradia, eu faço o que eu bem entendo. Adoro receber visitas. Dar festas. (poema de Não Joguem Pedras na Geni)

No próximo sábado (20), a partir das 19h, Ingrid entregará ao público essa nova empreitada que é o Não Joguem Pedras na Geni. O lançamento vai ser no Bar do Bimbo, que fica na rua Sete, Centro de Vitória. Cada exemplar vai ser vendido por R$ 30,00 – e é bom que os interessados se adiantem, afinal, a publicação tem poucos exemplares, visto que é uma aposta completamente independente de Ingrid Carrafa.

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Serviço

O livro Não Joguem Pedras na Geni, de Ingrid Carrafa, será lançado no sábado (20), a partir das 19h, no Bar do Bimbo – rua Sete de Setembro,  Centro de Vitória.  A obra será vendida por R$ 30,00. 

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