De intercâmbio cultural já são quatro anos seguidos, sendo seis edições de evento. Entretanto, de tempo de atuação do grupo – ou do coletivo –, o Afro Kisile tem mais de 20 anos de atividades. As propostas, objetivos e ideias são muitas e permeiam ambições nobres, como fazer da cultura afro ponto de discussão para a aceitação social; além de meio para que jovens e crianças possam construir seus futuros.
O grupo está voltado para dar espaço às mais diversas questões que envolvem a cultura afrodescendente e que são pouco pautadas na sociedade, como a negritude, a alimentação, a educação, a religião, o artesanato, entre muito outros pontos. E, nos dias 29, 30 e 31 eles realizam a sexta edição do Intercâmbio de Cultura Afro Kisile, em Jacaraípe, Serra, na comunidade do Terereco. O evento é aberto ao público de todas as idades e conta com uma programação que abrange cineclube, teatro, sarau, piquenique, oficinas, shows, entre outras atividades.
“O Afro Kisile nasceu como um grupo musical com 12 integrantes. Com o tempo e com as relações que foram florescendo, o grupo se tornou algo maior. A casa onde nos instalamos, em Jacaraípe, sempre foi um espaço aberto, costumamos chamá-la de 'nosso quilombo', pois vem gente de todas as partes, principalmente os africanos que, geralmente, ficam aqui nos verões, o que possibilita um intercâmbio cultural intenso. Foi a partir disso que olhamos para dentro da nossa própria comunidade da periferia de Jacaraípe e percebemos que os meninos que trabalhavam conosco estavam morrendo envolvidos na criminalidade. Não era uma coisa que eles queriam, era algo que já se apresentava como uma das únicas opções. Estando com o ‘nosso quilombo’ exatamente naquele local, nos voltamos a fazer um trabalho especifico na comunidade para que esses jovens e crianças pudessem crescer com oportunidades e opções claras e dignas para seguirem suas vidas. Hoje é muito bom ver que os meninos com que trabalhamos estão crescendo”, relata Feijão, cantor e integrante do Afro Kisile.
Feijão não fala só sobre o intercambio, mas sobre as atividades que o coletivo produz. “Já realizamos tantas coisas diferentes e com objetivos tão específicos. Em 1999, por exemplo, montamos um cursinho pré-vestibular afro para ajudar os meninos da comunidade a avançarem para outros níveis de estudos”, conta ele. E esse é só um recorte do que o coletivo realiza ao longo dos anos, com atuação inicial apenas na Serra, mas que foi expandida para diversos locais do Estado.
De 12 membros iniciais, atualmente o Afro Kisile conta com uma rede de articuladores com mais 100 pessoas, entre coletivos, grupos e bandas. E é exatamente essa rede que organiza, planeja e monta a programação do Intercambio de Cultura Afro Kisile. “A articulação com os coletivos e grupos são parcerias que vão acontecendo. É um processo natural mesmo, já que a ideia do Afro Kisile e atuar a partir de uma rede de colaboratividade. Em mais de 20 anos nunca participamos de editais culturais, é uma escolha política para mostrar que é possível não depender do poder publico. Não estamos desmerecendo quem usa os editais, achamos inclusive que é preciso usufruir deles, mas nossa proposta é apresentar uma lógica baseada estritamente na colaboração”, explica Feijão.
E foi com essa lógica que os três dias de evento foram planejados. No primeiro dia (29), o público contará com apresentação do teatro M’borayu, às 20h; e show da cantora Raquel Passos, às 21h. No dia seguinte (30), a programação começa mais cedo, às 14h, com Workshop de percussão, ministrado pelo Grupo Brasil Tambores – que fará apresentação às 18h. Às 15h30 terá oficina de rima e poesia; o Coletivo Das Mina vem logo em seguida, às 16h, com realização de sticker; às 19h será realizado o Sarau Fala Boca!, com participação do coletivo Literatura Marginales, de poetas populares e do Projeto Boca a Boca; E a noite segue até às 22h com mais shows.
O último dia de intercambio começará às 10h, com o piquenique do coletivo Maruí – que irá integrar oficina de letra e rima; atividades para crianças; e bate papo sobre “Mulheres negras: uma conversa sobre feminismo”, com o coletivo Comigo Ninguém Pode; e Preta Root’s. A noite contará com apresentações de funk, reggae, capoeira e congo.
A participação em todas as atividades é livre para todas as idades, gêneros e raças, pois, muito embora seja um intercâmbio com temáticas afro, o coletivo atua de forma aberta a todos os interessados. “A proposta é apresentar e discutir as mais variadas visões de mundo que as pessoas tenham sobre suas culturas. O processo é de construção, por isso discutimos tudo, olhamos a questão racial de várias perspectivas. Isso não é uma discussão só de negros, é uma discussão de humanos”.
Serviço
O VI Intercambio de Cultura Afro Kisile será realizado nos próximos dias 29, 30 e 31, em toda a extensão da rua Fortaleza, em Jacaraípe, Serra, na comunidade do Terereco. Para conferir toda a programação basta acessar a página oficial do evento. A participação é livre.