Da literatura produzida no Espírito Santo, Waldo Motta é um dos nomes mais conhecidos nacionalmente e, após um bom período sem publicar, o poeta está de volta com Terra sem Mal. O tempo sem lançar se deve às limitações que o escritor enfrenta por seu ofício, além de questões que ele como autor se compromete. “Faço poesia a partir de pesquisas, o que exige investimento. Aí, começam os problemas: descobrir fontes de informações, comprar livros, gastar bastante dinheiro e tempo, ralar muito. Acontece que poeta não tem patrão, nem salário; além disso, sou avesso a editais e conseguir apoio, patrocínio, de governo ou empresas, é muito raro”, explicou Waldo.
O novo livro do escritor terá lançamento na próxima quinta-feira (12), a partir das 19h, na Associação de Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adulfes), em Goiabeiras, Vitória. O evento irá reunir grupos como o Cineclube Espírito Santo Diversidade; o Coletivo de Diversidade Sexual, do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes); o Conselho Municipal LGBT de Cariacica; a Coordenação de Diversidade Sexual da Prefeitura Municipal de Vitória; e a Ordem dos Advogados do Brasil – Espírito Santo . A entrada é livre ao público e o livro será vendido a R$ 35.
Em 120 páginas, Terra sem Mal reúne poemas de Waldo Motta que, antes mesmo de serem reunidos em um livro, já foram mote de peça teatral homônima. Agora, a obra chega em formato de livro – formato esse que passou meses e anos em longas pesquisas, reflexões e dúvidas, acompanhando Waldo por viagens e experiências. “Os poemas deste livro, no conjunto, constituem uma espécie de transgênero literário, poético: é poesia, teatro e romance, além de ser outras coisas. É uma sucessão de poemas narrativos, descritivos e argumentativos, monólogos, diálogos, formando um enredo, uma história, que encena a busca e o descobrimento do paraíso terrestre, isto é, a Terra sem mal dos mitos indígenas. É um épico-místico, temperado com ironia, humor, escracho”, detalha o poeta.
No livro, quem acompanha a carreira de Waldo Motta irá se deparar com a linha poética que ele costuma trabalhar, com sexualidade, religião e ironias. “A ironia é universal, está onde menos se espera. Quando europeus chegaram aqui em busca do paraíso que imaginavam, encontraram índios em busca de outro paraíso. Ironia é o fato de a palavra sexo estar relacionada ao verbo seccionar, isto é, cortar, separar, e a palavra religião vir do verbo religar, e as pessoas acharem isso estranho, e ficarem chocadas quando aponto a conexão entre essas palavras. Já que é assim, então vamos escrachar. Não esqueçam que o verbo religare, de onde veio o termo religião, também significa ligar pela ré, ou seja, pelas costas. E lembrem o que Deus disse a Moisés: pelas costas me verás”, conta ele.
Diante de expectativa do novo livro, Waldo fala sobre como acompanha a repercussão de sua obra em meio não só a momentos como esse de lançamentos, mas rotineiramente. “A recepção e a discussão sobre a minha poesia me interessam. Tento acompanhar, mas estou bastante desatualizado. A minha poesia é estudada e discutida em muitos lugares, no Brasil e exterior. O que chateia nisso é que eu gostaria de saber de tudo que acontece, mas não sei. Gostaria de ser mais convidado para leituras, recitais, palestras. Desconfio desses mestres, doutores, especialistas que se apropriam de sua obra e falam pelo autor. Não acredito em autonomia da obra literária, da linguagem, essas embromações teóricas esteticistas”, finalizou.
Serviço
Terra sem Mal, novo livro de Waldo Motta, será lançado na próxima quinta-feira (12), a partir das 19h, na Associação de Docentes da Ufes – Avenida Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória. O livro será vendido no dia ao preço de R$ 35,00.