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Jogos dos Povos Indígenas fortalecem identidade cultural das aldeias de Aracruz

Jogos têm início nesta sexta-feira, com oito modalidades esportivas e atrações culturais, como feira de artesanato e exposição fotográfica

Serão realizados nesta sexta-feira (25), sábado (26) e domingo (27), os Jogos dos Povos Indígenas do Espírito Santo. Muito mais do que uma competição, o evento, que está em sua segunda edição, também objetiva fortalecer a identidade dos indígenas do Estado; preservar sua cultura, transmitindo-a para os mais jovens; fazer resgate das aldeias de Aracruz e denunciar o desrespeito aos povos indígenas, principalmente as consequências do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, crime ocorrido em 2015.

Além dos Jogos, que acontecerão na aldeia de Caieiras Velha, nos três dias haverá apresentações culturais, danças e cantos tradicionais, rodas de conversa, feira de artesanato e exposição fotográfica do jornalista, fotógrafo e fundador do Século Diário, Rogério Medeiros.

Os Jogos contarão com a participação dos Pataxó do leste da Bahia. Os do Rio de Janeiro demonstraram interesse em participar. Diante disso, a organização do evento não descarta a possibilidade de, futuramente, os Jogos passarem a ser de nível regional.

“Os Jogos são momento de celebração e fortalecimento da identidade cultural dos povos originários, e de ajuntamento, onde os mais novos podem aprender com os mais velhos. Momento onde as pessoas podem se encontrar e transmitir saberes, além de oportunizar o desenvolvimento da economia local a partir das feiras de artesanato. Também é para celebrar um com outro, lugar de encontro, de manifestação da ancestralidade, da cultura, lugar de manifestar nossas queixas e também de se alegrar”, exalta um dos organizadores, Jocelino Tupinikim.

O primeiro colocado em cada modalidade receberá troféu e medalha. O segundo, apenas medalha. Haverá categoria masculino e feminino. Para participar, o atleta tem que usar adornos tradicionais e pintura corporal. As modalidades esportivas serão Arco e Flecha, Bodoque, Zarabatana, Arremesso de Lança, Luta Corporal, Corrida com Tora, Corrida Livre e Cabo de Guerra, cuja escolha teve como um dos critérios o fato de serem atividades desenvolvidas no passado, resgatando a memória da cultura local.

Zarabatana é um instrumento de caça antigo, que não se usa mais. O Bodoque, que também é uma arma de caça, ainda é usado nas aldeias de Aracruz por algumas pessoas. A corrida com tora remete ao tempo em que os fogões eram a lenha, por isso, os indígenas tinham que buscar a lenha longe, trazendo nas costas. “É uma forma de mostrar para os mais jovens como a vida era sofrida, e isso acabou virando uma prática esportiva. Aí se vê a luta do dia a dia como uma forma de geração de vida”, diz Jocelino.

Arremesso de Lança recorda uma pesca tradicional na qual dois indígenas na canoa, em cuja ponta tem um lampião, arremessam a lança para atingir o peixe que está boiando. Entretanto, trata-se de uma prática inviável em meio às comunidades indígenas de Aracruz, devido à contaminação dos peixes, causada pelos rejeitos de minério da Vale, Samarco e BHP Billiton, oriundos do rompimento da barragem de Fundão. Esse também é o motivo pelo qual, ao contrário da primeira edição, não haverá a modalidade nado.
Reprodução

“Não vamos fazer por conta da nossa manifestação diante dos rejeitos de minério derramados no rio, que nos tirou o direito de subsistência, de alimentação, de tirar nossos próprios alimentos do manguezal e do rio”, denuncia Jocelino.

A partir da criação dos jogos, em 2018, foi feito um dossiê encaminhado para a gestão de Renato Casagrande (PSB) para nortear políticas públicas de reconhecimento dessa atividade como parte do calendário esportivo. Com base nisso, a deputada estadual Iriny Lopes (PT) apresentou um projeto de lei, aprovado e sancionado. O mesmo aconteceu na Câmara de Aracruz, por meio do vereador Vilson Jaguareté (PT). “A gente precisa se articular para colocar em prática essa lei e pensar diretrizes de desenvolvimento desses jogos de forma mais organizada dentro dos territórios”, aponta Jocelino.

Os Jogos são uma realização do Centro Cultural Tupinikim, por meio do Instituto Indígena Cocar. Tem apoio da Secretaria Estadual de Cultura por meio do prêmio da Funcultura de Diversidade Cultural, do vereador Vilson Jaguaretê, da Associação Indígena Tupinikim e Guarani (AITG) e da Associação Indígena Tupinikim de Caieiras Velha (AITCV).

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