Professora de literatura da Ufes mostra seu lado cantora e compositora com cinco faixas gravadas no Rio de Janeiro
Foi há seis anos que Júlia Almeida começou a aprender e praticar cavaquinho. Professora do departamento de Letras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), logo as notas viraram melodias e também letras de música. O resultado desse processo está sendo lançado nesta semana com o disco “Vim pra roda, sim!“, que reúne cinco composições próprias.
A primeira delas, que dá nome ao álbum, ganhou também um clipe filmado no Apê Estúdio, no Rio de Janeiro, onde foram gravadas e produzidas as músicas. A canção traz a marca de uma das questões importantes para Júlia, que é a perspectiva feminista. Ela já havia musicado poemas da escritora e militante capixaba Haydée Nicolussi, de quem é estudiosa. Trazido para o universo do samba, a composição que abre o trabalho autoral de Júlia fala de uma mulher que sai de um relacionamento autoritário e vai curtir a roda de samba sozinha.
Baseado em fatos reais, outra das composições, “Chega chegando, chegou”, fala de um homem que chega numa mulher tentando paquerá-la após uma aposta com os amigos, numa faixa a duas vozes com participação de Hélvio Tolentino.
Outra canção que ganhou vídeo foi “Compasso ímpar”, num diálogo entre entre amor e música, falando sobre desilusão. A tradicional autorreferência do samba é presente nas obras de Júlia, nascida no interior de Minas Gerais mas crescida no Rio de Janeiro e tendo vivido em São Paulo e no exterior em sua carreira acadêmica, que encontra base no Espírito Santo há 17 anos quando chega para lecionar na Ufes.
É lá atrás então, no Rio de Janeiro, um dos berços do samba nacional, que ela começou a acompanhar esse estilo musical e outras manifestações da cultura popular. Até hoje segue frequentando a Cidade Maravilhosa, onde também conheceu os crescentes movimentos de mulheres no samba que vêm surgindo nos últimos anos e também estão presentes no Espírito Santo.
Mais melancólica, “Volteia, mundo”, sua composição mais recente, reflete o momento atual, em que o abatimento é uma realidade e a busca por alegria um ideal a ser batalhado.
“Samba, meu samba” é considerado por Júlia Almeida a canção mais política de seu primeiro trabalho, embora não tão explícita. “Veio de forma muito abrupta, tipo um vulcão, diante da situação política que a gente tem passado, foi num desses momentos tristes que temos passado, em homenagem às pessoas que luta por esse país e contra a desigualdade social”, afirma.
Júlia Almeida entende seu primeiro álbum como um experimento e uma aprendizagem. “Estou tendo que tirar de mim uma cantora que não existia, porque se não enfrentasse esse desafio as composições, que acho que são o meu forte, ficariam na gaveta”, diz. Estudou cavaquinho com os professores Sílvio Barbieri e Eliseu Martins e as aulas de canto foram com Alza Alves. Nas gravações contou com uma equipe de músicos reconhecidos e experientes do samba carioca, incluindo o gaitista e produtor Rildo Hora.
“Ficou algo bem maior do que eu esperava, arranjos sofisticados, roupagem bonita, instrumentos de sopro”, diz a cantora e compositora, que tem se dedicado a divulgar o trabalho, que por enquanto vai ser lançado apenas nas redes virtuais diante do momento de pandemia. Já disponível no YouTube, deve entrar até a próxima sexta-feira (5) em outras plataformas de música como Deezer e Spotify.
“Estou gostando muito do retorno que estou tendo. Me sinto abraçada, tendo novamente uma recepção gostosa no Espírito Santo, agora nessa aventura nova para mim que é cantar e compor. Me sinto muito acolhida”, conclui.