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Livro de editora capixaba vence Prêmio Jabuti

“Histórias ao Redor”, de Flávio Carneiro, publicado pela Cousa, consagrou-se no prêmio mais importante da literatura nacional

Na noite de quinta-feira (26), o Prêmio Jabuti, principal reconhecimento da literatura brasileira, realizou sua premiação anual. Como mencionado aqui no Século Diário,  A Brecha: uma reviravolta quilombola, escrito no norte do Estado, foi indicado para a final na categoria Infanto-Juvenil. Embora não tenha levado o grande prêmio neste caso, o Espírito Santo saiu premiado em outra publicação. A editora Cousa foi a responsável pela publicação de Histórias ao redor, de Flávio Carneiro, agraciado com o Jabuti na categoria Crônica.

O autor é goiano radicado no Rio de Janeiro, onde é professor de Literatura na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e seu livro reúne crônicas escritas entre 2016 e 2018, com histórias que abordam experiências ligadas à literatura. Flávio já havia obtido o terceiro lugar no Prêmio Jabuti de 2009, com um livro infantil e sido finalista em 2007 com um romance.

Divulgação

“Esse prêmio é muito importante por vários motivos. Um deles é porque é muito difícil ser leitor no Brasil, a gente está sempre enfrentando uma batalha por dia para ser leitor. Somos excelentes leitores do mundo, como dizia Paulo Freire, falava que leitura do mundo precede leitura da palavra. Somos bons leitores da vida, mas da palavra escrita é muito difícil. É um país que sempre evitou que a gente pudesse ter acesso a esse prazer, a essa forma de resistência”, afirmou o escritor, apontando a leitura como uma maneira de ser resistente contra a barbárie, negacionismo, ignorância e autoritarismo.

Ele considera o livro como uma grande homenagem aos leitores, e o dedica a suas filhas, Maria e Luiza. São histórias ao redor da infância, da leitura e da escrita. “Se ser leitor nesse país é difícil, imagina você escrever. Quantos anos a gente passa escrevendo um livro, para esse livro aparecer por alguns instantes e depois sumir de novo. É sempre uma batalha difícil”. Além das dificuldades para ler e escrever, Flávio aponta também o desafio para publicar no Brasil, especialmente em relações às crônicas.

O escritor premiado conta que deu uma palestra anos atrás no Sesc Glória, em Vitória, quando conheceu Saulo Ribeiro, criador e editor da Cousa. “A editora merece todos os parabéns. Tem um trabalho fascinante e importantíssimo que é feito em prol da leitura. Foi uma combinação muito boa, porque é uma editora que investe de fato na promoção da leitura”, reconhece o autor . 

Todo processo de publicação do livro foi realizado conjuntamente entre autor e editora. “O Prêmio Jabuti é também muito para a editora Cousa. Por ter acreditado num projeto de um livro com histórias ao redor da leitura, da escrita, da memória, que é o que nos mantém de pé. São essas pequenas histórias de cada um ao redor da vida que nos mantém de pé”, reflete Flávio Carneiro.

Saulo Ribeiro, fundador e editor da Cousa, comemorou o prêmio e lembrou que Flávio já participou de bancas de avaliação no Espírito Santo, possui amigos e conhece um pouco da produção local. “É uma pessoa muito generosa. Ele me ligou um dia e disse que tinha um livro para publicar. Eu achei um livraço e quisemos publicar. Ele topou na hora”, conta o editor, que diz que estava mais otimista que o próprio autor em relação ao prêmio.

“É importante porque ajuda a dar maior visibilidade ao escritor e à obra”, diz Saulo sobre o Jabuti e outros reconhecimentos. Histórias ao redor teve tiragem inicial de 100 livros e uma segunda tiragem de igual quantidade, que já está se esgotando. Agora a Cousa prepara a publicação de mais exemplares, que virão com o selo do Prêmio Jabuti.

Mudanças no mercado editorial e nos prêmios

Para Saulo, o Espírito Santo ainda envia poucos livros para concorrerem em prêmios nacionais. “Como não colocamos muito, a chance de estar na pilha final também é menor. Qualquer indicação do Espírito Santo deve ser comemorada. Para mim a indicação já era um prêmio”, afirma o editor, ressaltando também a indicação de A Brecha para a finalíssima em sua categoria.

A conquista também aponta para mudanças do mercado editorial e da avaliação dos prêmios. O livro lançado por uma pequena editora de um estado fora dos grandes eixos do país vencer um prêmio como o Jabuti era algo bastante improvável anos atrás. Mas em 2018, Mailson Furtado venceu a categoria Poesia com um livro autopublicado, sem editora. No ano passado, Cida Pedrosa ganhou a categoria Romance com obra publicado pela Cepe, vinculada ao governo de Pernambuco.

Saulo Ribeiro (à direita), editor e fundador da Cousa, vendendo livros na Combiousa. Foto: Divulgação

“O prêmio não cria tendências. Mas precisa enxergar o que está acontecendo para não perder sua relevância, como é essa questão das autopublicações e das editoras pequenas ou independentes, dessa pulverização das publicações”, explica. “Eu costumo definir editora independente como aquela que tem uma banca para vender, em que o editor e colaboradores ficam lá conversando com os leitores. Pode publicar 10 livros por mês, o que não seria editora pequena, mas se você tá lá na luta do cotidiano da literatura, considero independente. Com uma relação mais direta com o leitor, uma coisa mais visceral”. É o que ele chama de ‘1literaluta”

Editora investe na difusão das obras

A Cousa publica em média 30 a 40 livros por ano, embora o número de propostas que chegam seja muito maior. Saulo entende que o avanço da tecnologia permite que hoje editoras pequenas consigam uma grande qualidade gráfica, além da editorial. “A dinâmica econômica e a tecnologia começam a garantir a condição de não mais sair de seu estado para produzir boa literatura, cinema, teatro”, diz. Da mesma maneira, também permite que escritores lancem seus livros com muito mais facilidades por editoras de outros estados, como foi o caso de Flávio na Cousa.

Saulo Ribeiro aponta que, junto a isso, o júri de prêmios como o Jabuti, antes centralizados em avaliadores do eixo Rio-São Paulo, também tem mudado de configuração, trazendo olhares mais atentos e sensíveis ao que rola na literatura fora desses grandes centros.

No caso da Cousa, que completou este ano 12 anos de história, ele explica que no momento a editora tenta ao mesmo tempo de dar vazão às publicações pendentes e ampliar as atividades de difusão literária para aumentar o alcance das obras já publicadas. Um dos projetos que vem atendendo essa intenção é a Combiousa, uma Kombi em que uma equipe da editora tem circulado levando livros a diversos municípios do Espírito Santo, onde também entrevistou escritores locais. Na última quarta-feira, o grupo foi a uma escola em Cariacica. “Era para ser uma atividade de duas horas, com diferentes turmas. Quando acabou o tempo da primeira, eles reclamaram, queriam ouvir mais. Tocou o sinal e a última turma não queria deixar a gente ir embora. É uma coisa muito estimulante chegar a um público que não estava esperando por livro. É diferente de ir a um festival ou evento literário, onde todos já estão esperando por livros”, conta.

Antes da Kombi, a Cousa também vinha agitando a cena capixaba ao criar espaços culturais no estilo café-bar, que viraram pontos de encontro, eventos literários e venda de livros. Os projetos ficaram suspensos diante das dificuldades, mas a relação entre café e literatura continua. Uma das novidades próximas é o lançamento de um edital para seleção de textos para o Prêmio Café de Poesia, que vai resultar numa antologia reunindo textos sobre café.


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