Recém-lançado, ‘Rasuras’, do professor e pesquisador Erly Vieira Jr., recompila e analisa obras mais importantes do gênero
Uma videoinstalação do artista visual Nena na Galeria Homero Massena em 1979 e vídeos realizados a partir de uma proto-TV Comunitária formada em São Pedro, bairro de Vitória, por iniciativa de estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) ligados ao coletivo Balão Mágico, são alguns dos pontos de partida do livro Rasuras: 40 anos de vídeo experimental no Espírito Santo, do professor e pesquisador de cinema Erly Vier Jr., lançado pela Editora Cousa. Como o subtítulo sugere, o autor perpassa o que vem sendo realizado no Estado desde então, nesse campo de muitas possibilidades e difícil enquadramento.
A definição de “experimental” permite certa flexibilidade e subjetividade. Erly explica que o novo livro serve quase como um “lado B” de uma obra anterior, Plano geral: Panorama histórico do cinema no Espírito Santo, de 2015, que reúne as principais obras audiovisuais locais com foco nos gêneros mais tradicionais, documentário, ficção e animação, embora também mencione de maneira mais curta os vídeos experimentais.
A grande maioria, analisa o autor, historicamente vem sendo autofinanciada, embora alguns projetos experimentais nas últimas décadas tenham conseguido algum tipo de financiamento mais significativo por meio especialmente de editais públicos. Mas desta produção, a essência são de projetos mais enxutos, feitos com poucos recursos e equipes reduzidas.
Erly Vieira Jr analisa que, nos últimos anos, essas obras têm encontrado maior vazão por meio sobretudo nos canais pessoais e artísticos de seus realizadores, em plataformas como YouTube e Vimeo, ou eventualmente em serviços de streaming. Porém, sua preocupação é grande em relação à preservação desta memória, sobretudo aos vídeos experimentais mais antigos, dos anos 1980 e 1990. “Muitos deles não estão disponíveis, não possuem mais seus originais. Há um problema de preservação muito complexo na memória do audiovisual do Espírito Santo”, analisa o professor.
Algumas das produções experimentais foram feitas em suportes analógicos e sobreviveram ao tempo por meio de cópias em VHS e DVD, que podem ocasionar perda de qualidade de som e imagem em relação às gravações originais. E essa preocupação também extrapola para obras filmadas no Século XXI, já que no início deste, com o processo de digitalização, foram muitos os formatos usados para gravações digitais, alguns deles caducando muito rápido e tornando difícil a leitura dos formatos originais. “Não temos um espaço de memória do audiovisual capixaba. A maioria das iniciativas de restauro vem de iniciativas particulares”, reclama, apontando a necessidade de políticas públicas para a questão.
O livro recém-lançado em formato impresso e também disponibilizado em PDF, tem o mérito de trazer a recompilação dessas obras junto a um arcabouço teórico e sobretudo à análise sobre as obras e os processos criativos dos artistas mencionados, muitos deles contemporâneos e acompanhados de perto pelo autor em suas trajetórias. Ainda complementam a obra 60 páginas reunindo diversas fotos e frames dos vídeos, cedidos pelos próprios realizadores.