Obra de Bartira Zanotelli reúne poemas infantis sobre os sons que entravam pela janela de casa durante o isolamento da pandemia
Durante o período da pandemia da Covid-19 em que foi preciso um isolamento social intenso, as casas foram espaço de reclusão. Do lado de fora, os sons do cotidiano, muitas vezes não percebidos no dia a dia em tempos comuns, adentravam as residências e faziam a ligação entre os moradores e a vida a pulsar no mundo externo, em um contexto em que a morte parecia tão próxima e era tão temida. Esses sons foram retratados por meio de poesias no livro infantil Os Sons que Entram pela Janela, da escritora capixaba Bartira Zanotelli.
Lançado pela Editora Pedregulho, o livro está disponível em pré-venda, no valor de R$ 50,00, pelo site da editora. Bartira explica que a ideia de escrever os poemas surgiu ao perceber que seu filho, ao escutar os mais diversos sons, corria para a janela para ver o objeto, o ser ou fenômeno natural responsável por ele. “Ele ouvia o mundo, mas sem a possibilidade de vê-lo muito. Acho que outras crianças também estavam vivendo isso, cansadas de ficar em casa e correndo para a janela para ver as coisas”, conta.
O livro reúne 13 poesias. A primeira tem o mesmo nome do livro. As demais, retratam, cada uma, um som diferente, como dos pássaros, sino da igreja, cachorro, moto e chuva. Os textos foram escritos quando a autora morava em Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado. “São sons que têm a cara de Cachoeiro de Itapemirim, de uma cidade do interior”, descreve, destacando o sino da Igreja Católica do bairro onde morava, que toca de uma em uma hora, mas na correria do dia a dia, passava despercebido.
Além do sino, outros sons, destaca a escritora, ficaram mais intensos, como o do carteiro chamando pelo vizinho no portão de casa. Foi aí que ela ficou sabendo que o interfone da casa próxima estava quebrado. Assim, mesmo em período de isolamento social, os sons possibilitaram conhecer melhor o cotidiano da vizinhança.
A percepção desses barulhos foi possível, acredita Bartira, não somente pelo maior tempo em casa, mas também pela decisão de evitar que o filho ficasse muito tempo diante das telas, como as do celular e do computador, possibilitando mais atenção ao que se passava ao redor.
Os sons foram retratados também em fotos tiradas pelo fotógrafo Luan Volpato. “Ele leu os textos. São sons de coisas que existem. Ele tirou fotos, por exemplo, da torre com o sino da igreja”, diz Bartira. As imagens foram feitas principalmente em Cachoeiro de Itapemirim, mas também em outras idades, como Muqui, no sul do Estado, e Cariacica, na Grande Vitória.
A publicação do livro foi possível por meio de um edital da editora Pedregulho, que selecionou obras de mulheres, pessoas negras e pertencentes à comunidade LGBTQIA+ para publicação.