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Lord Byrn, um dos maiores poetas ingleses (parte – 1)

ORIGENS

George Gordon Byron nasceu em Londres, em 22 janeiro de 1788, filho do capitão John Byron e de Catherine Gordon de Gight. O avô de Byron, o almirante John Byron, era conhecido como Jack Mau-Tempo, pois alguns diziam que ele vivia em perpétuas tempestades no mar. Seu irmão William, o 5º Lord Byron, que detinha a abadia de Newstead, era um homem de disposição excêntrica, que chegou a matar em duelo um vizinho, crime do qual foi em parte absolvido, e ocasião em que o lorde invocou seus privilégios e retirou-se para as suas propriedades. Também era conhecido como o “Lorde malvado”.

O pai do poeta foi antes casado com Lady Camarthen, Condessa Conyers, da qual teve uma filha, Augusta. Viúvo, John Byron casou-se com Catherine Gordon, que se orgulhava de descender de Jaime I da Escócia, Byron passou a infância na Escócia. E muito se tem falado do defeito de Byron, perceptível em seu andar, mas ele não tinha externamente nenhuma deformidade no pé, segundo o testemunho da Condessa Guiccioli, e sim, ao que parece, um defeito de articulação.

Por sua vez, a sorte para Lord Byron bateu a porta, pois como o neto do “Lorde malvado” tivesse sido morto, Byron passou a herdeiro de Newstead e do título, ao qual ascenderia aos 10 anos, por morte do tio-avô. Mudou-se com a mãe para Nottingham, depois de ter visitado Newstead, que estava arruinada e em desordem.

INÍCIO DE SUA OBRA

Em 1804, quando se mudou para Southwell, Byron, aos 16 anos, iniciou correspondência com sua meia-irmã Augusta. Em outubro seguinte ingressou no Trinity College, em Cambrigde. No outono de 1806 ausentou-se da universidade, para só voltar em 1807. Nadava, cavalgava e atirava bem. E suas amizades de Cambrigde foram duradouras. Em 1807 publicou seu livro de estreia, Hours of Idleness, que ainda não o revelava de todo. O livro teve duas edições, mas foi violentamente atacado em 1808, na Edinburgh Review (por Brougham). Byron enfureceu-se com a crítica, injusta e pesada, e isso deu origem, dois anos depois, a uma sátira, English Bards and Scotch Reviewers, e por causa desse poema, Southey e Byron se tornaram inimigos por toda a vida.

Em 1808 colou grau, e em 1809 sua maioridade foi celebrada em Newstead: no dia 13 de março tomou assento na Câmara dos Lordes. Data desse ano, também, o famoso encontro de Newstead, no qual se bebeu vinho numa taça feita de caveira encontrada no jardim da Abadia e que foi polida e montada: nessa reunião obtiveram-se por aluguel roupas de monges e objetos sagrados, sendo Byron, naturalmente, o abade. O moço escreveu um poema sobre a taça, poema esse que sugestionou nossos românticos, como Castro Alves, que o traduziu.

VIAGENS DE BYRON

Byron resolveu fazer uma viagem ao Oriente, tendo partido da Inglaterra em junho de 1809. Nascia, com esse Byron viajante, o Childe Burun, depois Harold, assim descrito no poema Childe Harold`s Pilgrimage, I, II: “Outrora na ilha de Álbion vivia um jovem/que não encontrava prazer nos caminhos da virtude;/mas passava os dias nas desordens mais estranhas/e importunava com alegria o sonolento ouvido da Noite./Ah! Em verdade ele era um personagem sem pudor,/muito dado à orgia e ao júbilo profano;/poucas coisas terrenas encontravam favor a seus olhos,/exceto concubinas e companhia carnal,/e libertinos ostentosos, de alta e baixa condição”. O tipo estaria na raiz do byronismo que contaminou quase todo o Ocidente em literatura. Provocaram-no não só o Childe Harold como suas repetições posteriores, com outros nomes, mas sempre figuras com a face imaginária e romântica do poeta.

Em março de 1810 estava com Hobhouse em Esmirna, onde continuou a composição do Childe Harold, depois de ter visto os campos de Troia, rumo a Constantinopla, atravessou a nado os Dardanelos, feito sobre o qual compôs um poema, tomando como paralelo o lendário feito de Leandro em busca de Tisbe, Byron já havia praticado façanhas semelhantes de nado no Tâmisa e no Tejo. Em Atenas compôs os Hints from Horace. A remoção dos mármores do Pártenon e outros por Lord Elgin provocou em Byron (março de 1811) “The Curse of Minerva”, poema em que o ato é condenado.

Estabeleceu duradoura amizade com o poeta Thomas Moore, já popular com sua poesia lírica na sociedade britânica. Os dois primeiros cantos de Childe Harold foram publicados em fevereiro de 1812, o êxito do livro foi imenso, segundo o próprio Byron – e isso aos 24 anos – “certa manhã acordei e descobri que estava famoso”. Tomava-se o poema como autobiográfico. Byron começou a frequentar a sociedade londrina dos whigs.

POEMAS:

AS ILHAS DA GRÉCIA, AS ILHAS DA GRÉCIA!:O poema começa exclamativo, hiperbólico: “As ilhas da Grécia, as ilhas da Grécia!/Onde a ardente Safo amou e cantou,/Onde a arte da guerra e a da paz cresceram,/E Delos surgiu, que a Apolo abrigou!” E logo as referências míticas e históricas da Hélade estouram, estes poetas românticos que evocam e invocam os deuses em seus poemas, tal é Byron, e tal era também, e não menos, Shelley, aqui segue o roteiro dos amantes da cultura originária deste grande Ocidente: “Nelas, a musa de Quios e de Teos,/A harpa do herói, o alaúde do amante,/A fama acharam que não dão agora;” (…) “E sonhei, uma hora lá sozinho,/Que livre a Grécia poderia estar;/Pois de pé sobre o túmulo dos persas,/Escravo eu não podia me julgar.” E a guerra contra a Pérsia, cantada pelos próprios gregos, agora são cantadas pelos poetas novos, e segue Lord Byron, em seu canto mítico e histórico, como a lamentar: “Em tuas praias já sem voz/O canto heroico não ressoa agora/E já não bate o peito dos heróis!/Tanto tempo divina, deve a lira/Em mãos como estas decair após?” (…) “Pois que deixou o poeta aqui? Aos gregos/Rubor, à Grécia a lágrima sagrada.” Seu choro cai sobre a antiga Hélade, da qual agora sumiram seus heróis e o poeta com sua lira, reflexo que se apagou na história posterior, aos vindouros, Byron apenas é nostálgico, ou ainda, se faz poeta por lamentar a idade de ouro, e neste caso a poesia romântica ganha este espírito de resgate cultural, que tem na Hélade a sua obsessão.

A THOMAS MOORE:O poema é simples, e se coloca como uma homenagem: “Está na praia o meu bote,/Meu navio está no mar:/Mas antes que eu vá, Tom Moore,/Quero em dobro te brindar!” (…) “Com esta água e com este vinho,/A libação que eu verter/Será – paz aos teus e aos meus/E a ti, Tom Moore, vou beber.” A beberagem tem seu dileto em Tom Moore, uma amizade de poesia e de copo, à taça brindar o poeta e a poesia, e com vinho este brinde se faz com mais charme, pois da beleza o vinho tem de poesia tanto quanto os poetas que dele bebem.  

A DESTRUIÇÃO DE SENAQUERIBE:O poema começa com este canto oriental, do berço da civilização, já em seu grau assírio: “Tendo ouro e tendo púrpura a brilhar em suas cortes,/Desceram os assírios – lobo em busca do redil:/Luziam suas lanças como estrelas pelo mar” (…) “Pois os Anjos da morte as asas na rajada abriram;/No rosto do inimigo, perpassando, eles sopraram;” (…) “E os ídolos quebraram-se nos templos de Baal,/E as viúvas de Assur em prantos erguem seu clamor,/E o poder do infiel, sem que o tocasse a espada ao menos,/Qual neve derreteu-se ao pôr-lhe os olhos o Senhor!”. É a queda dos ídolos, guerra entre a cultura bíblica e os deuses de antanho, a cair Baal, e subir a soberania do Senhor, e Lord Byron a ser o retratista de eras passadas, em sua poesia que era nova para seu tempo, os românticos mais uma vez como pequenos historiadores em versos, mas apontando para seu estilo novo de canto, poesia de qualidade no serviço cultural e erudito de fazer entender quem somos e de onde viemos.

POEMAS:

AS ILHAS DA GRÉCIA, AS ILHAS DA GRÉCIA!

(obs: Don Juan, canto III, LXXXVI.) (Consta de Don Juan, III, depois de LXXXVI. Este hino, escreve Byron, devia ou podia ser cantado assim pelo grego moderno, isto é, de antes da independência, em “tolerável verso”) (LXXXVII).

I

As ilhas da Grécia, as ilhas da Grécia!

Onde a ardente Safo amou e cantou,

Onde a arte da guerra e a da paz cresceram,

E Delos surgiu, que a Apolo abrigou!

Um eterno verão as doura ainda,

Mas tudo, exceto o sol, já descambou.

II

Nelas, a musa de Quios e de Teos,

A harpa do herói, o alaúde do amante,

A fama acharam que não dão agora;

A pátria deles muda está, perante

Sons que passam as “Ilhas dos Felizes”,

Para ecoar no oeste mais distante.

III

As montanhas contemplam Maratona

E Maratona olha para o mar;

E sonhei, uma hora lá sozinho,

Que livre a Grécia poderia estar;

Pois de pé sobre o túmulo dos persas,

Escravo eu não podia me julgar.

IV

Um rei sentou-se na rochosa borda

Que encara Salamina, dom do mar;

Naus, aos milhares, viam-se lá embaixo,

E nações, que eram dele, iam lutar!

Ele contou-as ao nascer do dia,

E ao pôr-do-sol quem as iria achar?

V

E onde estão eles? Minha pátria, onde

Estás? Em tuas praias já sem voz

O canto heroico não ressoa agora

E já não bate o peito dos heróis!

Tanto tempo divina, deve a lira

Em mãos como estas decair após?

VI

Na carência da fama, é alguma coisa,

Preso embora entre raça agrilhoada,

Sentir que uma vergonha patriótica,

Mesmo se eu canto, em minha face brada;

Pois que deixou o poeta aqui? Aos gregos

Rubor, à Grécia a lágrima sagrada.

VII

Só devemos chorar os belos dias?

Chorar? – Deram seu sangue os nossos pais.

Terra! devolve de teu seio uns poucos

Dos espartanos mortos – uns, não mais!

Para novas Termópilas fazermos,

Dá-nos três dos trezentos imortais!

(obs: o poema continua, aqui está sua primeira metade)

(obs2: Verso 4: “E Delos surgiu, que a Apolo abrigou!”: Em Delos nasceram Apolo e Ártemis: a ilha acolhera a errante e perseguida Leto, que lá os deu à luz no monte Cinto. Verso 7: “Nelas, a musa de Quios e de Teos”: Em Quios supunha-se ter nascido Homero; Teos, cidade marítima da Jônia, era a pátria de Anacreonte. Verso 11: “Sons que passam as “Ilhas dos Felizes””: Assinala Byron que as “nesoi macáron” (Ilhas dos Bem-aventurados) dos poetas gregos supõe-se que tenham sido as ilhas de Cabo Verde ou Canárias.)

 

A THOMAS MOORE

(obs: Este poema foi escrito em 1817. Thomas Moore (1779-1852), conhecido poeta, foi amigo de Byron.)

Está na praia o meu bote,

Meu navio está no mar:

Mas antes que eu vá, Tom Moore,

Quero em dobro te brindar!

 

Eis um suspiro aos que me amam,

Aos que odeiam, um sorriso;

Qualquer o céu que me cubra,

Enfrento o que for preciso.

 

Ruja o oceano em torno a mim,

Em suas águas irei;

Um deserto me rodeie,

Nele a fontes chegarei.

 

Só uma gota no meu poço,

E eu nas bordas a ofegar:

Antes de ir-se o meu espírito,

A ti é que a vou tomar.

 

Com esta água e com este vinho,

A libação que eu verter

Será – paz aos teus e aos meus

E a ti, Tom Moore, vou beber.

 

A DESTRUIÇÃO DE SENAQUERIBE

(obs: Originalmente de Hebrew Melodies (1815), o poema figura nas traduções dessas Melodias por Costa Meireles (1869) e Oliveira Silva (1875). O ritmo ternário do texto inglês desmereceria, por martelante demais em português, a equivalência que fosse mantida.)

Tendo ouro e tendo púrpura a brilhar em suas cortes,

Desceram os assírios – lobo em busca do redil:

Luziam suas lanças como estrelas pelo mar

Quando na Galileia, à noite, rola a onda anil.

 

Como as folhas no bosque quando o estio reverdeja,

Com bandeiras, ao pôr-do-sol, o exército surgia;

Como as folhas no bosque quando o outono se adianta,

Um dia após, sem viço e esparso, o exército jazia.

 

Pois os Anjos da morte as asas na rajada abriram;

No rosto do inimigo, perpassando, eles sopraram;

E os olhos dos dormidos se apagaram, regelados,

E, após arfar uma só vez, os corações pararam.

 

Lá jazia o corcel, jazia, ventas dilatadas,

Porém por elas não passava o alento de seu brio;

Branca na grama a espuma via-se de seu ofego,

Fria tal como a onda ao borrifar no penedio.

 

E lá jazia o cavaleiro contorcido e pálido,

Tendo orvalho na fronte, e com a armadura enferrujada;

E as tendas silenciosas, e as bandeiras já largadas,

As lanças não erguidas, a trombeta não tocada.

 

E os ídolos quebraram-se nos templos de Baal,

E as viúvas de Assur em prantos erguem seu clamor,

E o poder do infiel, sem que o tocasse a espada ao menos,

Qual neve derreteu-se ao pôr-lhe os olhos o Senhor!


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

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