O cineasta e jornalista Eduardo Coutinho foi, e segue em notoriedade, sendo um dos mais importantes documentaristas brasileiros. Além de uma sensibilidade ímpar, Coutinho passou a ser conhecido por dar voz a histórias e cotidianos pouco escutados, realizando grande obras como Cabra Marcado para Morrer (1984), Santo Forte (1999), Edifício Master (2002), Jogo de Cena (2007) e As Canções (2011).
Coutinho faleceu em fevereiro de 2014, numa morte trágica causada pelo próprio filho que sofria de esquizofrenia – no mesmo dia, o cineasta foi homenageado na premiação do Oscar. Nesse período ele realizava um documentário com adolescentes da rede pública de ensino do Rio de Janeiro.
Diante do fato, o documentário não foi finalizado pelo diretor, mas por João Moreira Salles, produtor do filme na época e que assumiu o documentário e o lançou sob o nome de Últimas Conversas, com a finalidade de marcar o fim da carreira de Coutinho e manter em evidência o belo trabalho desenvolvido pelo diretor.
Últimas Conversas se apresenta ao público como um documentário sobre a realidade de adolescentes cariocas, a partir de suas convicções e modos de vida; e ainda possibilita ao espectador lidar com as últimas atuações de Eduardo Coutinho como diretor – mostrando-se sensível e nostálgico.
Chamado de “filme-testamento”, Últimas Conversas apresenta alguns momentos, em meio às filmagens do documentário, em que Eduardo Coutinho conversa com sua assistente sobre fim, sobre acreditar no que realiza, sobre erros – como se estivesse adiantando reflexões sobre a própria trajetória e, também, sobre o fim de sua carreira e vida. Ao todo, Coutinho filmou 32h de conversas com adolescentes. Desse material, João Moreira Salle montou o documentário que, desde então, tem figurado em diversos festivais pelo Brasil.
A estrutura de Últimas Conversas apresenta uma sala, uma cadeira e os adolescentes adentrando o local e sendo recebidos por Coutinho que, diante de toda a experiência de carreira, enquadrado dentro do “cinema da conversação”, recebe cada um de maneira única, por vezes até confessando que não sabe mais receber as pessoas.
O documentário passou por 12 escolas do Estado carioca, entrevistou previamente 97 alunos e, desses, 28 foram escolhidos para conversar diante da câmera com Coutinho. No corte final do filme, nove desses entrevistados entram e compõem a última obra do cineasta.
O filme entrou em cartaz no Cine Metrópolis, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória e segue com exibições sempre às 16h30.
Serviço
O filmes Últimas Conversas, de Eduardo Coutinho, segue em cartaz no Cine Metrópolis, com sessão diária às 16h30 até o próximo dia 24. O cinema fica na Ufes – Avenida Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras.
