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Mãe Néia comemora 60 anos de santo com Semana Cultural

Para comemorar seus 60 anos de santo, a mãe de santo Edinéia Cabral, popularmente conhecida como Mãe Néia, realizará a Semana Cultural do Nzo Musambu ria Kukuetu, nome do terreiro que a sacerdotisa de Candomblé comanda em Bairro de Fátima, na Serra. Será lá que, de 19 a 22 de agosto, ela irá compartilhar seus conhecimentos com o público, que poderá participar gratuitamente de diversas rodas de conversa.

Leonardo Sá

“Esses 60 anos são glória de Deus. Sessenta anos não são 60 dias. É uma trajetória árdua, mas tem as recompensas divinas. Tenho muita gratidão a Deus, às divindades. A realização da Semana Cultural é uma forma de agradecer a todos, pois ninguém faz nada sozinho. Quero transmitir para a juventude, para os mais novos, como preservar nosso conhecimento, e também para os mais velhos, pois ninguém sabe de tudo”, destaca Mãe Néia.

Exposição

As rodas de conversa serão das 16h às 20h. A metodologia foi elaborada de forma a não ser um momento contínuo, ou seja, caso a pessoa não possa acompanhar durante as quatro horas, não terá dificuldade de assimilar o conteúdo. Durante todos os dias haverá exposição de roupas de santo de Mãe Néia, representando os orixás, da qual a própria mãe de santo será a curadora.

Purificação das ervas e trabalho

A primeira roda de conversa, nesta segunda-feira (19), será sobre “Purificação das Ervas”. Mãe Néia vai tratar dos cuidados com a saúde por meio das plantas. O momento tem ligação com as energias de Obaluaê, orixá da saúde, e Exu, que abre caminhos. A roda de conversa desta terça-feira (20), “O Trabalho e suas Ferramentas”, trata do trabalhador, sua coragem, sua luta por direitos, o futuro que se quer para a classe trabalhadora. Será regida pela energia de Ogum, orixá da luta, que rege as ferramentas do trabalho, o fazer, a transformação do que está a nossa volta.

Energia do dendê e saúde

Um dia depois, na quarta (21), o tema será “A Energia do Dendê”. Essa roda de conversa será regida pelas energias de Xangô, Yansã e Iroko. Por fim, na quinta (22), Mãe Néia trará o tema “A Fartura e a Saúde”, abordando, por exemplo, o papel dos animais na tradição do Candomblé, que está relacionada à questão da alimentação. A roda de conversa será regida pela energia de Oxóssi, orixá da fartura, da caça, da abundância.

Gastronomia

Durante os quatro dias os participantes poderão apreciar vários pratos. Na segunda-feira, haverá distribuição do bolinho de Nanã. Na terça, a iguaria será feijoada. Quarta-feira é a vez de apreciar amalá, acarajé e omolokum. Na quinta, será servido o mungunzá. Contudo, a finalidade não é somente apreciar cada um deles, Mãe Néia vai abordar o significado de cada prato e porque é oferecido para cada orixá.

Mais comemoração

As comemorações do aniversário de santo de Mãe Néia não serão restritas à Semana Cultural. Na sexta-feira (23), data em que ela completa as seis décadas na religião, haverá a reza da tarde, às 18h, direcionada para todas energias. Na ocasião haverá distribuição de acaçá com leite de coco e peixe, além de distribuição de banhos para purificação e renovação. No sábado (24), acontecerá, a partir das 16h, será a tradicional Kukuana de Nsumbu, uma partilha de comida para a saúde, com cânticos e rezas, saudação às divindades e distribuição de 16 pratos, entre eles, acarajé e omolokum.

Muito a comemorar

Leonardo Sá.

Os 60 anos de santo de Mãe Néia é, de fato, motivo de muita comemoração. Sergipana, Mãe Néia migrou para São Paulo, mas foi no Espírito Santo que resolveu ficar. Aqui, tem contribuído muito na luta contra a intolerância religiosa e racismo. Basta olhar sua trajetória. Ela atua no Centro Nacional de Africanidades e Resistência Afro-Brasileira no Espírito Santo (Cenarab-ES); fez parte do Fórum Chico Prego, uma das organizações que lutam pela restauração das ruínas da Igreja de São José de Queimado, na Serra; participou de manifestações no Sapê do norte, quando os dendezeiros, cujo cultivo mantém a tradição feminina de produção de azeite, estavam sendo envenenados; e há 40 anos realiza a tradicional festa de Yemanjá no píer em homenagem à orixá, na praia de Camburi. A festividade entrou para o calendário de festas da Capital no ano passado.

Patrimônio cultural imaterial

Luan Volpato

Outra mulher que tem feito história na cultura popular capixaba é Maria Laurinda Adão, liderança da comunidade quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, no sul. Depois de muita luta, juntamente com a comunidade e a Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, ela conquistou o reconhecimento da Festa Raiar da Liberdade, que acontece desde 1808, como Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo. O reconhecimento foi julgado e aprovado na reunião do Conselho Estadual de Cultura dessa quinta-feira (15).

Pioneirismo

Não somente o reconhecimento da festa como Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo deve ser comemorado. Afinal, pela primeira vez no Estado foi aceito o autorreconhecimento como patrimônio imaterial proposto por um grupo social. Isso porque o inventário apresentado foi participativo, elaborado pela própria comunidade. “Os inventários feitos até então eram acadêmicos. É claro, foi um acadêmico que fez. Eu sou acadêmico, sou doutor, mas transcrevi o que os mestres falaram, não me coloquei no texto”, diz Genildo Coelho, Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense.

Enquanto isso, em Muqui…

A coluna espera que o reconhecimento obtido pela Festa do Raiar da Liberdade possa abrir as portas para que outras festividades populares possam trilhar o mesmo caminho. Assim, ficam mais difíceis situações como a registrada em Muqui, no sul. Infelizmente, o 73º Encontro Nacional de Folia de Reis de Muqui, previsto para 31 de agosto, não acontecerá por falta de verba, já que a organização do evento não conseguiu captar os recursos necessários via Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (Licc). A prefeitura alega que não pode investir na festa por falta de verba. A tendência é que o evento seja feito fora do mês de agosto, considerado o Mês do Folclore, mas ainda não há previsão.

CineMarias

Divulgação

Voltando para o protagonismo feminino na cultura capixaba, a CineMarias recebeu 400 produções dirigidas por identidades femininas e não binárias de todo o Brasil, que buscam concorrer na mostra, que acontece entre 19 e 21 de setembro, no Cine Metrópoles, na Ufes, campus de Goiabeiras. Doze obras foram escolhidas para as Mostras Competitivas Nacional e Capixaba, com seis filmes em cada categoria. Na Mostra Capixaba, os selecionados foram Prólogo, de Natália Dornelas; Deusa Menina, de Juane Vaillant; Dias de pouco pão e zero sonho, de Sáskia Sá; Mulheres Maratimbas, de Thais Helena Leite; Aquilo que vem do começo do mundo, de Beatriz Lindenberg; e Inexorável, de Aline Galini.

Até a próxima coluna!

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