Ideia é também realizar um encontro estadual, além da produção de um documentário e um livro
Foi dada a largada para uma verdadeira caça às benzedeiras, mas ao contrário do que é praticado por pessoas motivadas principalmente pela intolerância religiosa, essa “caça” não tem como objetivo exterminar o benzimento, mas sim, estimular sua prática. A iniciativa partiu da benzedeira Yasmin Ferreira, conhecida como Veia do Patuá, e de Ione Duarte, pesquisadora de plantas alimentícias tradicionais e integrante da Rede Urbana Capixaba de Agroecologia (Ruca), que estão fazendo um mapeamento das benzedeiras do Espírito Santo.
Para auxiliá-las nessa tarefa, baste preencher um formulário, registrando o maior número de informações possíveis sobre a benzedeira que a pessoa conhece. O mapeamento é o ponto de partida para a criação de uma rede de benzedeiras. “Isso surgiu da necessidade de manter os saberes. Somos mulheres pretas, muitos dos saberes dos nossos mais velhos passam pela oralidade e vão morrendo, inclusive, vários dos nossos mais velhos faleceram de Covid-19. Queremos promover a comunhão, a concretização de uma rede”, diz Ione.
Entretanto, para dar início a esse contato, será necessário auxílio financeiro. Algumas das alternativas destacadas por Veia do Patuá são a possibilidade de criação de um financiamento coletivo, de elaboração de projeto para edital e de contar com o suporte de pessoas que queiram auxiliar nessa tarefa, por exemplo, disponibilizando automóvel para as viagens a serem feitas, já que a ideia é contatar benzedeiras de todo o Espírito Santo.
“Através do mapeamento, conseguiremos saber quais os custos e iremos ligar para as benzedeiras cadastradas para saber se têm interesse em receber a gente. Com certeza teremos que visitá-las mais de uma vez para poder criar laços”, diz Veia do Patuá. Ela destaca que, antigamente, as benzedeiras conheciam umas às outras, mas hoje “está cada uma no seu canto”. “Há preconceito, racismo. A maioria delas é negra, de comunidades, são tachadas de feiticeiras, macumbeiras, por causa disso muitas nem se dizem mais benzedeiras”, lamenta.