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Milson Henriques e uma desconhecida homenagem a Che Guevara

Embora um homem de esquerda, Milson Henriques, que morreu há um ano e cuja memória será celebrada em evento nesta sexta-feira (23), em Vitória, não fazia o gênero do comunista arrebatado. Daí a importância do retrato de Che Guevara, que produziu em 1968, um ano após a morte do revolucionário: interessa menos por revelar as tendências políticas de Milson do que para mostrar até onde podia ir o talento do multiartista.
 
Essa obra guarda uma historinha interessante, bem ao gosto dos aguerridos anos 60. Em Em algum dia de 1968 – mas com certeza um dia ainda distante da publicação do Ato Institucional N° 5 – o jornalista Rogério Medeiros escreveu em A Tribuna um laudatório artigo a Che Guevara. No dia seguinte, Milson entra na redação com o quadro debaixo do braço e foi direto à mesa do jornalista. 
 
“Toma. É seu”, disse, oferecendo a obra em que reproduz a mão livre a icônica foto de Alberto Korda. “Mas não é o Che. É você que está aqui, Milson”, respondeu o jornalista, em tom de gracejo. Milson caiu na gargalhada. Mas, de fato, a obra lembra um autorretrato que se apropria de uma das imagens mais reproduzidas do mundo. 
 
Quem era o Milson que homenageou Che Guevara? Ele iniciava naqueles anos uma trajetória que marcaria a cultura capixaba a partir dos anos 60. Em 1967, estrelou o curta-metragem Alto a La Agressión!, curta-metragem de Toninho Neves filmado no Centro de Vitória que sairia premiado do Festival JB/Mesbla, um dos grandes festivais de cinema do país, realizado no Rio de Janeiro. Ali, Milson vive um estudante de esquerda.
 
A parceria entre Toninho e Milson marcou a segunda metade dos anos 60 com a fundação, em 67, do Grupo Geração, do qual Alto a La Agressión! é um dos frutos. Menos de um ano depois, Milson estaria na montagem de Arena Conta Zumbi, de Gianfrancesco Guarnieiri e Augusto Boal, no teatro de arena do antigo Colégio Brasileiro de Vitória. A obra seguinte, Juventude de Raiva e Muito Amor, era uma colagem de linguagens para falar sobre a juventude.
 
Não por acaso a obra nasceu nesses anos de em que a criação artística e a contestação política andavam de mãos dadas. 

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