Associação aponta impasse com pasta liderada por Fabricio Noronha
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A Secretaria de Cultura do Espírito Santo (Secult-ES) anunciou a prorrogação do prazo de inscrição para os editais do Fundo de Cultura do Estado (Funcultura) até as 18 horas desta quarta-feira (19). A medida foi tomada após instabilidades no sistema Mapa Cultural, atribuídas ao grande volume de acessos. No entanto, a decisão da Secult não apazigua as críticas do setor audiovisual, que cobra um diálogo mais amplo e efetivo sobre os problemas estruturais dos editais.
O presidente da ABD Capixaba – Associação Brasileira de Documentaristas e Curta Metragistas do Espírito Santo -, Jussan Silva, ressaltou que a principal queixa dos realizadores audiovisuais não se resume à prorrogação do prazo, mas à ausência de escuta por parte da pasta sob gestão de Fabrício Noronha. “Todos os nossos questionamentos não foram respondidos até hoje. Nós fizemos uma série de recomendações que também não foram acolhidas. O que nós pedimos não foi encaminhado ao Conselho Estadual de Cultura, que é o espaço ideal para refletir sobre as questões”, afirmou.
O setor audiovisual, representado pela ABD Capixaba, reivindica uma maior participação na elaboração das políticas culturais. Segundo Silva, antes mesmo da elaboração dos editais, a orientação dos realizadores era promover um debate estruturado com a classe. “A nossa orientação era chamar o setor para conversar e trazer os nossos levantamentos. Mas eles lançaram os editais sem acolher as recomendações do setor e, por isso, vieram com problemas”, criticou.
Entre as questões apontadas, destacam-se a restrição na elegibilidade de diretores para inscrição em editais de longa-metragem e a retirada do edital específico para desenvolvimento de projetos e roteiros, um histórico incentivo ao setor. “Havia um edital de desenvolvimento de projetos que foi retirado. Esse era um dos nossos questionamentos, e mesmo respondendo à nota oficial deles, não houve resposta”, enfatizou o presidente da ABD Capixaba.
A associação já havia apresentado suas reivindicações em reunião com a subsecretária de Estado de Políticas Culturais do Espírito Santo, Carolina Ruas, em dezembro último, mas, apesar do diálogo inicial, os pedidos não surtiram efeito prático. Apesar das críticas, em dezembro de 2024, a Secult publicou uma errata corrigindo dois pontos dos editais após pressão do setor.
As mudanças garantiram a reserva de 50% das vagas para proponentes estreantes apenas na linha de curta-metragem e ajustaram critérios de elegibilidade para diretores de longa-metragem, garantindo que apenas aqueles sem obras em execução pudessem concorrer. No entanto, as demais demandas da ABD Capixaba não foram atendidas, e a entidade segue reivindicando espaço de escuta dentro das políticas culturais do Estado.
Silva criticou ainda a falta de retorno da Secult sobre as reivindicações. “A página do secretário não responde. Eles corrigiram esses dois pontos, mas em relação aos nossos questionamentos, a gente não tem resposta”, destacou.
A falta de diálogo também preocupa o setor em relação ao Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), cujos recursos devem chegar ao Estado em breve. Segundo Silva, a classe não foi convidada para discutir como esses recursos serão aplicados. “A gente não teve nenhum convite para discutir previamente qual será a política estadual. Eu acho que o secretário poderia, diante de um chamado da comunidade, abrir esse diálogo”, sugeriu.
Diante do impasse, a diretoria da ABD Capixaba se reunirá novamente para definir novas ações que garantam que a voz do setor audiovisual seja ouvida. O objetivo é continuar pressionando por um debate mais transparente e participativo, a fim de evitar que problemas semelhantes se repitam em futuras edições dos editais culturais.