Num primeiro olhar, Alexandre Mury é Monalisa, de Leonardo Da Vinci; no instante seguinte é o Abaporu, de Tarsila do Amaral. Mas é também A Duquesa Feia de Quentin Massys, o Adão de Michelangelo, o Lúcifer de Franz Von Stuck, a Big Sue de Lucian Freud… Alexandre Mury transgride. Representa. Provoca. Instiga. Transforma. Questiona. Reinventa. Torna novo o antigo e faz de seu corpo o principal protagonista de sua obra.
Fricções Históricas, mostra do artista que será exibida no Sesc Glória, em Vitória, de 29 de abril a 12 de julho, conta com um universo de imagens em grandes formatos que mexem com o imaginário dos visitantes. As novas experiências estéticas que Mury utiliza em seus autorretratos são muito mais do que apropriações históricas, desconstroem a memória de obras clássicas, e apresentam um outro olhar sobre vários ícones da arte. “O seu trabalho é feito de um duplo ato criativo, no qual em movimentos simultâneos ele desmente o desaparecimento do original no mesmo instante em que lhe faz substituído pela novidade dos elementos que encena”, afirma o psicanalista Guilherme Gutman, que assina um dos textos do catálogo da mostra.
A exposição, que esteve em cartaz na Caixa Cultural no Rio de Janeiro, chega a Vitória com trabalhos inéditos, entre os quais El Comedor de Sandías, inspirado na obra do mexicano Rufino Tamayo (1899-1991), e Aopkhes, de Jean-Michel Basquiat (1960-1988). Com curadoria de Vanda Klabin e coordenação do marchand Afonso Costa, a força criativa de Alexandre Mury revela a sua própria inquietude. “Não basta ser um, é preciso viver a alteridade”, diz o artista.
O processo criativo
“As ideias surgem o tempo todo, até mesmo em sonho, e cada trabalho tem seu próprio tempo. Entre a motivação e a realização podem se passar muitos meses”, diz Mury. A produção de Monalisa, por exemplo, exigiu transformações físicas. Pela primeira vez, o artista mexeu no próprio corpo: tirou a barba, o cabelo e até as sobrancelhas. Tudo documentado em vídeo, que também faz parte da mostra. “É o meu trabalho mais performático”, afirma.
O artista, que estudou publicidade e atuou como diretor de arte de uma agência em Vitória, até hoje trabalha sozinho em sua casa em São Fidélis, no interior do Estado do Rio de Janeiro, onde vive com a família. “Às vezes, meu sobrinho e minha irmã me ajudam, como em Estudo para Seurat, onde o pontilhado do impressionismo foi realizado com confete jogado pelos dois durante a sessão de fotos, mas eu faço toda a produção e evito o uso e photoshop para evidenciar que o trabalho é feito à mão, com as suas imperfeições”, revela, ao salientar que nasceu com o DNA de artesão.
Serviço
A mostra Fricções Históricas, de Alexandre Mury, será aberta ao público na próxima quarta-feira (29), a partir das 9h, no Centro Cultural SESC Glória – Av. Jerônimo Monteiro, 428 Centro de Vitória. A exposição fica por lá até o dia 12 de julho e as visitações podem ser feitas de terça à sexta-feira, das 09 às 20h; e sábados e domingos, das 10 às 19h. Os ingressos para entrar custam R$ 5,00 (inteira) e R$ 2,00 (meia).