A cidade de Mantenópolis, no noroeste do Espírito Santo, recebeu nesse fim de semana o 6º Encontro Estadual de Cineclubes. Com presença de cerca de 35 cineclubes, contou com uma triste ausência. Seu Manoelzinho, o cineasta local que ficou famoso no Brasil, faleceu duas semanas antes. A homenagem que receberia em vida foi feita a sua esposa e filho, presentes na ocasião, junto à exibição do documentário O Sonho de Loreno, que relata sua trajetória.
Durante o encontro, foram realizadas mesas de debate sobre a história do cineclubismo no Espírito Santo e no Brasil e a transversalidade na ação cineclubista, abordando temas como negritude, população LGBT, inclusão da comunidade surda, feminismo e educação. Além dos cineclubes capixabas, participaram também representantes do Conselho Nacional de Cineclubes (CNC), do Centro de Cineclubista de São Paulo, e alguns pioneiros do movimento cineclubista no Espírito Santo.
Também aconteceram espaços para articulação e deliberação do movimento, resultando na eleição da nova diretoria da Organização de Cineclubes Capixabas (Occa), que será presidida por Lara Toledo, integrante do THCine, Cineclube São Jorge e Cine Libre.
“Acredito que o sexto encontro cumpre um papel muito importante, já que é um momento em que os cineclubes podem se reencontrar, um momento de muita força e união, em que conseguimos visualizar o que o outro está executando e também produzindo”, disse a nova presidente, ressaltando que diferente dos anos 70 e 80, quando os cineclubes prezavam apenas pela exibição de filmes, nos últimos anos, com a maior acessibilidade das tecnologias digitais, muitos cineclubes passaram também a produzir obras audiovisuais, algumas delas exibidas no evento.
Entre as experiências apresentadas estiveram o Cineclube Papo Reto, que realiza ação nas unidades de internação de menores infratores, o Cineclube Vendo Vozes, que trabalha com exibição focada em obras para a comunidade surda, o Cineclube Diversidade, que tem foco na questão LGBT, o Feminista de Quinta, com obras feitas por mulheres, e o Cine Valente, que acontece dentro de uma escola pública.
Lara ressalta que historicamente o movimento cineclubista tem uma atuação em defesa da democratização do audiovisual e da cultura em geral e está conectado com as lutas do país. “Há um fator político importante pelo momento incerto que vivemos, com eleição de um presidente eleito totalmente conservador que sabemos que não vai investir e vai colocar a cultura de lado. É importante que estejamos unidos para conseguirmos nos articular diante do que está por vir. O movimento cineclubista sempre esteve aliado dos movimentos sociais, principalmente na época da ditadura militar, quando cumpriu um importante papel. Acreditamos que nesse momento político que vive o país não vai ser diferente”.
A presidente eleita destacou que a nova gestão marca uma renovação da Occa, com a inclusão de novos cineclubes na diretoria. Entre as prioridades para os próximos dois anos do mandato estão a criação de circuitos de exibição cineclubista em que haja atividades integradas entre os diversos cineclubes capixabas, a realização de atividades formação para os agentes cineclubistas, o inventivo à criação de novos cineclubes, a promoção do direito ao acesso ao cinema e o fortalecimento da circulação de filmes produzidos no Espírito Santo, que têm dificuldade de exibição nos circuitos convencionais e especialmente no interior do Estado. “O cineclubismo nasce em busca da promoção e do acesso ao cinema que não está nas salas comerciais”, ressalta Lara Toledo.