Ato é contra a transformação do espaço cultural em armazém e cobra do poder público em todas esferas
Durante o ato, convocado com o compromisso de uso de máscaras e manutenção de distanciamento entre os participantes, foram feitas intervenções sobre a situação do espaço e a luta por retomá-lo para que volte a ser um importante centro de atividades culturais. Os participantes da ação reuniram uma série de depoimentos de artistas e frequentadores do Carmélia sobre a relação do espaço com suas vidas e afetos, que foram colados na entrada do prédio, que hoje abriga a TVE, emissora pública estadual de televisão.
No dia anterior, o movimento dos artistas se reuniu para definir sobre o ato e também pensar os tipos de ações políticas e jurídicas para deter a transformação do local em galpões de armazenamento. O entendimento é de que há responsabilidade do poder público em todas esferas.
O Centro Cultural Carmélia foi criado em 1986 pelo governo estadual de Gerson Camata, num período de efervescência dos movimentos sociais e culturais diante do período de redemocratização do País. Contando com amplo espaço incluindo teatro, cinema, salas de exposição e atividades em diversas linguagens artísticas, foi um dos espaços de referência para a cultura capixaba por décadas, recebendo também atrações nacionais.
De propriedade da União, o imóvel estava em comodato ao governo estadual, que sem interesse na gestão do espaço, o repassou para a prefeitura de Vitória, mas mantendo os estúdios da TVE no local. O Plano Municipal de Cultura de Vitória de 2014, que prevê ações para os próximos anos, menciona “equipar o complexo do Centro Cultural Carmélia Maria de Souza garantindo sua utilização para programas, projetos e ações artísticas e culturais”. Mas o que se vê hoje é uma situação de abandono que perdurou desde esta época. A prefeitura alega não ter recursos para arcar com a reforma do espaço.
Aproveitando-se, a Superintendência de Patrimônio da União (SPU) pediu que o imóvel seja devolvido pela prefeitura para instalar a Conab, que terá de deixar os armazéns do Instituto Brasileiro do Café (IBC), em Jardim da Penha, que devem ir a leilão pelo governo federal. A União realizou um levantamento de imóveis e terrenos públicos de sua propriedade para vender à iniciativa privada, de acordo com a política de privatização capitaneada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
A prefeitura de Vitória foi informada em fevereiro sobre a solicitação da União para retomar o espaço do Carmélia, que era estudado para servir como espaço de apoio para escolas de samba do Estado por meio de uma parceria com a Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesge). Tentou adiar a devolução diante da pandemia do coronavírus, mas com a proximidade do leilão do IBC, previsto para novembro, a União intimou para a devolução do espaço, que já foi visitado por técnicos da Conab.
O movimento liderado pelos artistas está elaborando uma ação civil popular e busca também convencer o Ministério Público a dar início a uma ação civil pública análoga para que o espaço não seja transformado em depósito e seja mantida sua finalidade até então como centro cultural.
O ato foi finalizado com uma ação conjunta gritando as frases que viraram as hashtags nas redes e as palavras de ordem do movimento: “A cultura resiste! O Carméia revive!”
Arquitetos pedem paralisação do leilão dos galpões do IBC
https://www.seculodiario.com.br/cultura/arquitetos-pedem-paralisacao-do-leilao-dos-galpoes-do-ibc