Os números de levantamentos são bastante explícitos sobre a produção cinematográfica no Brasil. A maioria das obras do audiovisual nacional é dirigida por homens. Homens brancos, de classe média ou alta, etc. O cenário começou a mudar aos poucos nas últimas décadas, mas de forma bem controlada, isso se não houver aquele famoso “pé na porta” de quem vem sendo historicamente excluído de participar do setor.
Os dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine) indicam que em 2016 foram produzidos 142 longa-metragens no país lançados comercialmente em salas de exibição. Destes, 75,4% tiveram homens brancos na direção, enquanto 19,7% foram feitos por mulheres brancas, 2,1% por homens negros e nenhum por mulheres negras. No Espírito Santo, um levantamento da realizadora Maria Grijó com dados dos editais da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) de 2009 a 2016, indicou que 86% dos recursos públicos foram para filmes dirigidos por homens.
Nesse sentido, o projeto Remonta, protagonizado por mulheres do audiovisual, busca contribuir para a capacitação e especialização de profissionais com cursos gratuitos voltados para mulheres e pessoas transgênero e não-binárias. A primeira delas será o Seminário Novos Formatos Audiovisuais, que acontece nos dias 6 e 7 de março no Cine Metrópolis, localizado na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A vagas são limitadas e as inscrições estão abertas por meio de um formulário online.
Profissionais do setor atuantes no Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo vão ministrar conferências e formações abordando questões como Assistência de Direção, Mixagem para Longas e Séries, Produção Executiva, Coordenação de Pós-Produção, Formatação para Roteiro Técnico, além de uma mesa de debate que vai ter como tema “A produção audiovisual no Espírito Santo: novos formatos, novos caminhos”.
Se na direção de obras o número de mulheres é pequeno, ele pode ser ainda menor em algumas funções técnicas, criando um universo dos bastidores do audiovisual com predominância de homens e manifestações do machismo. “Percebemos que muitas de nós estávamos pensando iniciativas parecidas, quando descobrimos, resolvemos unir forças. Essa necessidade veio muito por conta do incômodo de se estar quase sempre em ambientes majoritariamente formados com homens e pela dificuldade de conseguir também ajudar na inserção de novas mulheres no setor”, conta Maria Grijó, uma das organizadoras do Remonta, que pretende ser um espaço de encontro, formação e visibilidade para as trabalhadoras do audiovisual no Espírito Santo.
A produtora audiovisual Juane Vaillant, uma das idealizadoras do projeto, considera que a inclusão da mulheres e de outras diversidades nas equipes dos filmes vão repercutir em trabalhos que reflitam mais sobre questões plurais. “O cinema trabalha com o imaginário das pessoas. Filmes produzidos só por homens, brancos, classe média e alta foram a grande maioria por anos, e o resultado foi que muitas pessoas não pertencentes a esse grupo se sentiam inferiores por não responderem a esses padrões. É preciso mudar o discurso na base, para que ele seja visto no resultado final”, considera.
O Seminário Novos Formatos Audiovisuais é a primeira atividade do Remonta, mas marca o início de uma série de atividades. Também em março deve acontecer ainda um ciclo de oficinas em locais diversos em Vitória e na Serra com oficinas de interpretação, acústica e som direto, edição de diálogos, iluminação e noções básicas de elétrica e assistência de câmera.
AGENDA CULTURAL
“Seminário Novos Formatos Audiovisuais”
Quando: 6 e 7 de março de 2020.
Onde: Cine Metrópolis, Ufes. Av. Fernando Ferrari, 514 – Goiabeiras, Vitória/ES
Programação:
Sexta-feira, 6 de março
10h – Assistência de Direção – Carolini Covre (ES)
13h – Mixagem para Longas e Séries – Ariel Henrique (SP
16h30 – Mesa “A produção Audiovisual no ES: Novos formatos, Novos Caminhos”
Sábado, 7 de março
10h – Formatação para Roteiro Técnico – Gabriela Alves (ES)
13h – Produção Executiva – Ursula Dart (ES)
16h – Coordenação de Pós-produção – Tamara Zelazo (RJ).