Funcionando no Babado Bar, próximo ao galpão de produção em Goiabeiras, local está agendando visitações
Um museu comunitário com exposição presencial e virtual. Assim está sendo construído o Mapes – Museu de Arte das Paneleiras do Espírito Santo. Como o nome já sugere, o projeto busca valorizar o aspecto artístico da produção das Paneleiras de Goiabeiras, primeiro patrimônio imaterial tombado nacionalmente no Brasil. “Estamos captando esse acervo para saber um pouco da história de cada mulher, ter foto dela e sua produção. É possível começar daqui um resgate de paneleiras que já faleceram para contar às novas gerações. E também registrar o trabalho daquelas que estão vivas mantendo as tradições”, diz André Sopon, um dos idealizadores.
A proposta surgiu junto a seu companheiro Lucas Martins, com quem administra o Babado Bar, um espaço cultural localizado na rua que dá acesso ao galpão das Paneleiras, que já serviu para reuniões, exibição de documentários e outras atividades relacionadas com as artistas a serem apresentadas pelo museu comunitário. Depois de um curso sobre museologia social que fizeram junto ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e Secretaria de Cultura do Espírito Santo (Secult), decidiram aplicar os conhecimentos para organizar o acervo que vinham juntando.
Não apenas panelas antigas e novas, mas miniaturas delas, jarros, petisqueiras, copos e outros elementos feitos da forma tradicional com barro como também elementos da cultura local com livros sobre festas populares, benzedeiras, disco de vinil dos anos 80 da Banda de Congo Panela de Barro, estandarte da mesma e outros artefatos que foram recebendo de moradores e guardando ao longo do tempo de residência na casa que recuperaram para transformar num espaço cultural onde vendem drinks e promovem atividades diversas.
Lucas e André apontam que com o tempo passaram a reconhecer e identificar a autoria das panelas. Embora não costumem ser assinadas, elas possuem traços, detalhes, adereços, formas de fazer que se diferenciam de acordo com a paneleira que a fez. “Isso as coloca como arte, não só como um utensílio de barro e objeto para culinária”, afirma André.
O Mapes funciona no próprio Babado Bar, com visitações gratuitas, porém sem horário fixo, sendo necessário agendar previamente pelo Instagram, onde também vem sendo apresentada aos poucos uma versão online do acervo.
“O Babado Bar surgiu como um espaço para ser uma novidade para atrair pessoas a Goiabeiras e também ajudar a visibilizar a riqueza cultural do bairro”, conta Lucas. Tudo começou na praia da Curva da Jurema, quando o casal vendia drinks especiais, já pensados como porta de entrada para diálogos sobre a cultura local. O mais famoso deles é o Madalena, servido numa caneca de barro e usando ingredientes como mexerica e coentro.
A proposta seguiu e se ampliou com a mudança para um local fixo em Goiabeiras, em uma casa antiga que foi restaurada e possui um amplo quintal além de uma sala onde funciona o museu.
Quem passar por lá, a depender do horário agendado, pode visitar tanto o Galpão como o Museu, que se encontram a poucos metros um do outro. Lucas lamenta a falta de olhar do poder público sobre o patrimônio tão importante representado pelas paneleiras, guardiães deste ofício e de saberes tão tradicionais e representativos da cultura capixaba, ligado a outro patrimônio marcante: a moqueca. “Muitas das paneleiras vivem com dificuldades financeiras”, diz André.
Com outras atividades que realizam no bairro de forma voluntária, como aulas de reforço, sensibilização sobre questões sociais e étnico-raciais na escola e atividades culturais no espaço, eles entendem que Babado deixa de ser um espaço e se torna um movimento artístico cultural, que agora tem no Museu de Arte das Paneleiras do Espírito Santo mais uma atração.