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Música e pintura contra a depressão

No Setembro Amarelo, cantor Manfredo lança single Vórtice junto a série de quadros de Dejair Paulo

Um caso de tentativa de suicídio na Terceira Ponte que gerou vídeos com reclamações de motoristas e espectadores por conta do congestionamento no trânsito foi um dos motivos que levou o músico Manfredo a compor a canção Vórtice, que será lançada nesta sexta-feira (18), às 20h, em sua página no Instagram, junto à apresentação de quadro de Dejair Paula.

Divulgação

“Tudo se transformou num ato bizarro em que ambulantes circulavam entre os carros, vendendo produtos, carros com seus rádios ligados e muitos usando seus celulares para registrar o sofrimento de alguém enquanto bradavam falas de extrema desumanidade”, lembra o cantor e compositor capixaba, que transita em sua musicalidade entre gêneros como pop, folk e MPB.
Daquele episódio veio a necessidade “quase incontrolável” de escrever sobre isso, inspirado ainda por um texto escrito pelo amigo jornalista escritor Fábio Flores, a quem atribuiu co-autoria na letra da nova música. Manfredo entende que Vórtice externa um assunto que ele sempre teve presente e trazia de diversas maneiras em outras canções, mas nunca de forma tão direta: a depressão.

“É um assunto extremamente delicado, mas que certamente precisa ser cada vez mais abordado, dado o alto número de pessoas que sofrem por conta disso no mundo desde sempre e que hoje tem uma campanha própria no Brasil que é o ‘Setembro Amarelo”, afirma lembrando da campanha de prevenção ao suicídio que acontece a cada ano neste mês.

Foi na figura do pintor holandês Vincent Van Gogh que ele encontrou uma expressão do que representa o impacto da depressão na vida de uma pessoa. “A obra de Van Gogh retrata todas as suas angústias com beleza e de maneira sublime”, diz. A capa do novo lançamento foi feita pelo artista plástico Dejair Paulo, justamente fazendo um retrato de Manfredo inspirado nos traços pictóricos de Van Gogh, que Dejair pintou a partir dos movimentos do músico em uma palestra que ministrou. A partir daí a parceria cresceu e o artista plástico desenvolveu outras quatro pinturas que representam o significado de “O Vórtice”, cujos originais serão apresentados na live de lançamento da canção e terão os originais à venda pela internet.

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Vórtice, o movimento giratório e intenso que compõe redemoinhos e furacões, representa uma alusão de como a depressão pode suar a essência e a alegria do ser. “Mas eu queria que a mensagem fosse algo positivo pras pessoas e por isso uso essa narrativa que traz o sujeito invisível para todos nós no dia a dia, para alguém que podemos ajudar apenas sendo gentis e de como podemos nos salvar uns aos outros através de gesto simples como um simples ‘Bom dia’. É por este cerne que a canção O Vórtice foi construída”.

“Existir por si, já é vencer”, diz a canção. É por meio da música em seu sentido mais amplo que Manfredo dá sentido a sua própria existência e a entende como um ato de resistência. “Num mundo onde pessoas são impedidas de existir por serem quem são, espremidas por conceitos ultrapassados e retrógrados, vejo como um ato de extrema resistência lutar pela minha existência e pela existência do outro, o subjugado, o incompreendido e o diferente, é o que quero dizer quando digo que “Existir por si, já é vencer” em “O Vórtice”.

O artista se declara esperançoso apesar de entender o cenário complicado e com falta de perspectivas diante da pandemia do coronavírus e da crise política do País. Diante do caos, enxerga uma oportunidade de sermos melhores. “Melhores como espécie e como seres capazes de sentir empatia uns pelos outros, e nisso o papel da arte, da música, ganha uma importância ainda maior do que já tem, só que agora vem não apenas como entretenimento, que também é importante, mas como um catalisador, capaz de nos fazer emergir de todo esse caos transformados e transformadores. Acredito nisso. Preciso acreditar”, desabafa.

Artista autodidata, Manfredo possui uma carreira de cerca de 17 anos na música, sobretudo a partir da banda Manfredines, que fundou em 2004 com amigos e onde esteve por 10 anos. “Entendi que eu precisava seguir outros caminhos e descobrir novas formas de fazer música e experienciar a arte de uma outra perspectiva”, conta. Ele explica que seguir uma carreira solo não significa “estar sozinho”, pelo contrário, faz necessário cercar-se de pessoas que possam apoiar o trabalho, já que um artista independente depende ainda mais disso.

O músico considera que Vórtice marca um recomeço em sua carreira solo, após lançar em 2017 o single Sweet River, no qual faz um protesto contra o crime socioambiental no Rio Doce na “ingênua esperança que aquilo não voltasse a acontecer”. Como se sabe, a tragédia se repetiu anos depois em Brumadinho (MG).

O lançamento do novo single também marca o início de uma nova etapa, já que o artista deve começar em breve a preparação do EP Novas Versões de Canções Nunca Ouvidas Antes, a ser produzido nos próximos meses com apoio do edital estadual de cultura. O trabalho inclui canções escritas há anos, mas que permanecem inéditas ao público e ganharam novos arranjos para compor o EP.

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