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Na pandemia, café-livraria dá lugar a Kombi Literária em Vitória

Com recurso da venda de livros, editora Cousa comprou e adaptou veículo para feiras e lançamentos ao ar livre

Divulgação

Expoente da “literaluta” capixaba, a Editora Cousa criou uma nova estratégia para manter a circulação das obras literárias durante os tempos de pandemia do coronavírus. É a Combiousa, uma Kombi reformada e adaptada para levar livros para feiras e eventos a céu aberto, inicialmente em Vitória, mas também com planos de chegar ao interior do Espírito Santo.

Ela estaciona em pontos estratégicos, onde possa abrigar uma pequena banca, guardada dentro do veículo, que pode ser exposta no espaço externo, ao ar livre, evitando aglomerações em espaço fechado.

A ideia da Kombi Literária surgiu logo no início da pandemia, diante da necessidade da editora fechar suas lojas-cafeterias, que serviam para gerar renda, vender livros e promover eventos literários. “Sabíamos que precisaríamos de um ponto de apoio para fazer eventos ao ar livre. E Kombi é uma coisa que amamos. Tinha até um lamento aqui: todo mundo tem uma kombi, menos a Cousa. Achamos que era a hora de agir”, diz o editor Saulo Ribeiro. E como viabilizar o empreendimento? Com o que melhor sabem fazer: lançando um livro!

‘Tivemos a ideia de fazer a ‘autologia’ da Combiousa. Muitas autoras e autores colaboraram e muita gente comprou antecipadamente o livro. A padaria Pão de Mel, em São Mateus, deu uma cota de apoio. Enfim, levantamos 70% do valor. O restante completamos com caixa da editora mesmo”, conta Saulo. O livro será lançado em janeiro e vai circular pelos eventos levados pela própria Combiousa.

A Kombi foi comprada em São Mateus e passou pelos primeiros ajustes para funcionar como um veículo literário. Os primeiros ensaios aconteceram no novo Café da Bandida, em Jardim Camburi, onde a Cousa também atua em parceria com cafés e livros. Depois ela seguiu para o Centro de Vitória, numa feira e lançamento de livro no Stael Magesck Centro Artístico. Reduto tradicional da editora, o Centro Histórico deve ser base para outros eventos próximos, sempre em espaço aberto mas juntinho a locais de referência para a cultura do bairro.

Ainda faltam alguns ajustes como a instalação de um toldo que permite proteger o entorno mais próximo do veículo de sol e chuva. Mas a Combiousa já está na atividade e servirá na próxima segunda-feira (21), às 19h, para dar suporte ao lançamento do livro Minha Luta, de Messias Botnaro, uma sátira do atual presidente brasileiro, com presença do ilustrador da obra Marcio Vaccari. “O autor é o defunto Messias Botnaro. Mas mesmo sendo defunto, ele promete se manifestar no dia para autografar”, brinca Saulo. A Combiousa estará em frente ao bar Al Jazira, na Rua Sete. “Vamos fazer na rua, com todos os cuidados”, afirma o editor.
Para 2021, já há uma fila de livros para serem lançados na Kombi, enquanto a situação pandêmica não é superada: Nossas histórias, de Vander Costa; Bem do corpo, de Camila Belessa; O punho e a poética no corpo, de Aluízio Sueth; Terra Natal, de Mariana Ianelli; Cadernos de literatura, de Ruy Perini; e Sonetos da tarde amena e A névoa, o menino e o embornal, ambos de Matusalém Dias de Moura.

A Cousa foi fundada há 11 anos para servir de trincheira para a literatura feita no Espírito Santo em sua árdua luta para sobreviver. Em 2017, já consolidada, deu um salto para fazer parte da vida da cidade, especialmente no meio artístico e cultural, com a abertura da Cousa Bar Café, na famosa Rua Sete, coração da boemia do Centro de Vitória. Depois mudou-se para o Trapiche Café, espaço mais amplo na Rua Gama Rosa, também no Centro Histórico, onde nos últimos anos vem recebendo lançamento de livros, saraus, rodas de conversa, clubes de leitura, exposições, shows e outras atividades, além do funcionamento regular com cafés especiais, comidas e outras bebidas. A editora também atua em parceria com outros empreendimentos na Praia do Canto e Jardim Camburi.

Diante do momento, de pandemia, a Cousa prefere permanecer de portas fechadas e circular na Kombi, que proporciona também reavivar sonhos antigos, de circular pelo interior do Espírito Santo. Mas para isso ainda busca levantar recursos financeiros para cobrir os custos, que aumentam no caso de deslocamentos mais longos. Já tentou-se um edital, sem sucesso, para levar os livros para o interior. “Mas vamos continuar na luta pra isso, na tal ‘literaluta”, diz Saulo Ribeiro.

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