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Nas ruas e nas redes, Noventa faz sucesso com as rimas

Filme registra cotidiano do rapper capixaba que foi um dos primeiros no país a ganhar fama na internet pelos duelos de MCs

Um dos nomes da nova geração do rap capixaba que vem ganhando o Brasil, o cantor Noventa é o personagem principal do documentário 90Rounds, dirigido por Juane Vaillant e João Oliveira. A obra, disponibilizada abaixo por meio do canal do YouTube “Vai Vendo”, acompanha os “corres” do MC principalmente por meio da batalhas de rimas, no qual os MCs se enfrentam.

Em 2019, Noventa sagrou-se vice-campeão do Duelo de MC’s, maior e mais tradicional evento do estilo, reunindo os campeões de cada estado. Dois anos antes, outro capixaba, César MC, havia conquistado o título, colocando em evidência a qualidade dos rappers do Espírito Santo nessa modalidade.

“Em uma época que muitas batalhas surgiam pelo Brasil e com elas vários canais no YouTube que as transmitiam, ele teve essa iniciativa de juntar dinheiro de várias formas e viajar para esses lugares e assim começar a galgar seu espaço”, conta Juane sobre Noventa.

João Oliveira destaca o espírito debochado do jovem rapper como um dos fatores que o fazem um personagem interessante, por meio do qual os diretores pretendiam que apresentasse a cena das batalhas de rima que fazem sucesso nas ruas e na internet. “Acabou que durante o processo o filme foi se tornando mais sobre ele e menos sobre a cultura das batalhas, mas acho que conseguimos introduzir as duas coisas”, diz.

Divulgação

Embora o personagem principal que conduz o documentário seja Noventa, tanto César MC como o MC Dudu, com quem forma um trio de parceria de trabalho e amizade, são presença constantes. “Acho importante ressaltar que esses artistas existem porque as batalhas são um espaço democrático. Não precisa ter um produtor ou uma grande estrutura para fazer parte. O principal é rimar”, indica a diretora.

O filme passa pelas batalhas realizadas na Praça Costa Pereira, Centro de Vitória, em rodas de conversa dos artistas do Núcleo Afro Odomodê, espaço da prefeitura que contribuiu para formar muitos desses jovens, pela casa de Noventa e sua famílias, e por batalhas em uma boate de classe média na Praia do Canto e na famosa batalha de trios na Aldeia, em São Paulo capital.

A linguagem do documentário usa muitas imagens em preto e branco e outros momentos em que brinca com os formatos e designs das redes sociais, que são bastante presentes na vida e na carreira de jovens como Noventa. “Um dos objetivos é mostrar esses contrastes entre a vida pessoal e as redes sociais. Nas redes sociais é tudo sempre muito colorido e saturado, pensamos em trazer algo diferente disso, exatamente para realçar o contraste. Além disso, muitos dos meus clipes e vídeos de rap favoritos são em preto e branco. Acho que combina muito com a estética da rua, do movimento. E o 90Rounds é um filme sobre uma pessoa que está em constante movimento pela cidade”, conta Juane.

João Oliveira aponta que o documentário segue um pouco o ritmo da carreira de Noventa, com uma aspecto de trabalho em constante formação. “Como um eterno projeto que é feito com dedicação mas sem saber onde vai dar, porque essa era a sensação que a gente tinha enquanto ia gravando o filme”, relata.

Ao acompanhar o artista, o documentário apresenta a impressão de parecer um grande “corre de bastidores”, aponta Juane, o que é de grande relevância para quem acompanha a cena do hip hop e seus artistas. Ajuda a perceber que mesmo quando alcançam objetivos dentro do meio artístico, ainda têm muitos obstáculos a enfrentar. “A mídia por muito tempo vendeu uma imagem de ‘vida fácil’ para quem vive de cultura e arte. Mas é preciso falar que junto com os bônus vêm alguns ônus também”.

Para quem não está habituado a acompanhar essa cena, o documentário consegue mostrar a partir de um artista capixaba a dimensão desse movimento, que mobiliza centenas ou até milhares de pessoas para assistirem as batalhas e conseguem obter milhões de visualizações de suas rimas improvisadas.

“Gravando o filme eu fiquei muito intrigado em como essa contracultura feita por jovens consegue ser tão grande e ao mesmo tempo tão mal aproveitada ou simplesmente ignorada pelo mercado e até por iniciativas do governo de forma mais geral”, comenta João Oliveira.

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