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Nieve Matos é a nova coordenadora do escritório do Minc no Espírito Santo

Mais: trajetória de Nieve; mudanças na Repertório e no Elas Tramam; protesto em Itaúnas

A coordenação do escritório do Ministério da Cultura (Minc) no Espírito Santo está com novidades. A dramaturga Nieve Matos assumiu a função nessa segunda-feira (20). De acordo com ela, o processo ainda está em transição. Nieve destaca que busca se inteirar de como está o funcionamento para entender o que foi feito até então, traçar novas metas e aumentar a comunicação com a sociedade, de forma a mostrar os investimentos que o Ministério vem fazendo no Espírito Santo após quatro anos de sucateamento das políticas culturais no Governo Bolsonaro (PL) – período no qual, inclusive, o Minc foi extinto.

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Bru Negreiros

Nieve classifica o escritório como “uma porta de referência do Minc no Espírito Santo, uma forma de descentralizar o Ministério, de acompanhar as políticas públicas e ser ponte focal para os trabalhadores da cultura”. “Estou encarando como um super desafio. É a primeira vez que trabalho na gestão pública dentro da cultura. Sei das dificuldades de quem está na ponta, inclusive as dificuldades do nosso estado. Quero trazer essa experiência da ponta para facilitar esse diálogo”, diz.

Boa escolha

É justamente essa experiência como trabalhadora da cultura que faz a nomeação de Nieve ser uma boa escolha. Para além disso, há o fato de que seu trabalho é referência no que diz respeito à democratização do acesso e do próprio fazer cultural. Quem acompanha sua trajetória percebe, por meio de iniciativas como o Coletivo Elas Tramam, que impulsiona a dramaturgia produzida por todas as identidades femininas, não binárias e travestis, a junção que faz entre arte, cultura e ativismo, dando voz a grupos constantemente invisibilizados, como a comunidade LGBTQIA+.

Mais mudanças

Por falar no Elas Tramam, a nomeação de Nieve para a coordenação do escritório do Minc impactou sua atuação no cenário cultural capixaba, já que ela teve que se afastar da coordenação do Coletivo, do grupo teatral Repertório Artes Cênicas e da Má Companhia, espaço cultural localizado no Centro de Vitória. A boa notícia é que as pessoas que assumiram já trabalhavam com Nieve e, assim como ela, têm uma trajetória de muita dedicação à arte no Espírito Santo. Portanto, as iniciativas criadas pela artista estão em boas mãos.

Quem são?

Afinal, quem são essas pessoas? A Repertório será coordenada por Erica Vilhena, formada em Artes Cênicas – Direção Teatral pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), em Minas Gerais. Atualmente, ela trabalha com produção cultural, é produtora parceira do Instituto Raízes, da C.A.S.U (Casa Urbana) e da cantora Elaine Augusta. O Coletivo Elas Tramam está sob o comando de Thalia Peçanha, produtora cultural, dramaturga, educadora social e coordenadora do Cineclube Avesso. É autora do espetáculo Carambolas – Algumas Verdades em Memória de Dona Santa, que estreou em 2024. Ambas passam a coordenar a Má Companhia.

Repertório

Arquivo Pessoal

Com a aprovação da Má Companhia no edital de Manutenção de Espaços Culturais da Lei Paulo Gustavo estadual, segundo Erica, haverá uma programação diversificada da Repertório nesse local. Ela adiantou para a Coluna que o foco, no momento, não está na montagem de espetáculos, mas em atividades de circulação, como a apresentação das peças Passarinheiros e Carambolas. Outra proposta é a retomada da Mostra Off, criada como resposta de grupos teatrais que não passavam nos festivais do Espírito Santo e que na pandemia da Covid-19 teve até uma versão virtual.

Repertório II

Além disso, Erica informa que serão ministradas oficinas gratuitas de direção de arte, figurino, produção, expressão corporal, interpretação e expressão vocal. Também será aberto um chamamento para apresentação de quatro espetáculos teatrais do interior do Espírito Santo. “Os espaços culturais alternativos do Centro de Vitória têm enfrentado dificuldades. Editais como esse da Paulo Gustavo são salvaguarda para grupos pequenos que mantêm atividades tirando do próprio bolso. São fundamentais para poder existir formando outras pessoas em um estado em que ainda não há graduação de Teatro”, diz.

Elas Tramam

Bru Negreiros

Thalia afirma que 2025 será um ano em que o Elas Tramam pretende mostrar ainda mais para o público a dramaturgia produzida pelas identidades femininas, não binárias e travestis. Já existe um mapeamento dessas artistas, a proposta é criar uma forma de publicizar os seus trabalhos para o público. Outra proposta é retomar as atividades de produção de podcast. O coletivo já teve um, chamado Escute as Manas, com trecho de dramaturgias produzidas no Elas Tramam.

Protesto em Itaúnas I

No último dia 18 de janeiro, durante a Festa de São Benedito e São Sebastião, em Itaúnas, Conceição da Barra, o Rei de Bamba do Ticumbi de Itaúnas fez sua Embaixada denunciando a privatização do Parque Estadual de Itaúnas e a precarização das mais diversas políticas públicas. Parte da letra dizia que “a vila de Itaúnas é uma vila abençoada, que tem muita gente batalhadora e muita gente de garra, que faz de tudo por essa comunidade, muitas vezes pelo poder público abandonada. A nossa Vila de Itaúnas nos serve de inspiração, mas ela não deve ser só prioridade na época do Festival e do verão. Agora vem vocês com essa história, querendo fazer hotel de luxo no nosso parque, dizendo que vai ser bom para a vila, dizendo que vai trazer modernidade. Porque vocês não começam por uma educação e uma saúde de mais qualidade?”.

Protesto em Itaúnas II

O Ticumbi do Bongado protestou com os versos “nosso Parque de Itaúnas, ele tá sendo vendido. E quem sabe o segredo dessa corja de bandido?”. O Ticumbi de Conceição da Barra também mandou o recado: “oh, meu São Sebastião, vim fazer minha queixa. Querem privatizar o parque, mas o povo não deixa. Jesus mais São Sebastião é o nosso advogado. Mas o povo não deixa o parque ser privatizado”.

Protesto em Itaúnas III

Apoena Medeiros

Segundo o cientista social Jefferson Gonçalves, de Conceição da Barra, o Ticumbi é a representação de uma guerra que aconteceu no século XV, na África Centro Atlântica, quando os portugueses queriam impor a cristianização aos povos africanos, que reagiram. Essa história é recordada nos tempos de hoje, mas o protesto ocorrido em Itaúnas mostra que o Ticumbi cumpre, ainda, um importante papel de denúncia das mazelas da atualidade, pois evidencia a luta da comunidade contra a imposição de um modelo de desenvolvimento que leva à destruição ambiental.

Até a próxima coluna!

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