Kátia Fialho, Lívia Corbellari e Anaximandro Amorim relatam suas visões sobre o mundo da literatura
Desde 1995 comemora-se, em 23 de abril, o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, data criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Em um país como Brasil, com poucos leitores e onde o incentivo ao artista ainda deixa a desejar, ser escritor não é fácil. Contudo, a paixão pela literatura tem mantido esses artistas na atividade, não somente lançando novos livros, mas também fomentando as academias de letras e realizando eventos literários que têm como alguns de seus objetivos a democratização do acesso à literatura e o intercâmbio entre escritores.
Natural de Vila Velha, o escritor Anaximandro Amorim lançou seu primeiro livro, Brasil de Ontem, Hoje e Sempre em 1994, aos 15 anos de idade. A obra se trata de um poema de 69 quadras em versos livres e brancos, que se reportam à história do Brasil desde a época do descobrimento. Hoje ele coleciona em sua trajetória outros oito livros publicados e se prepara para lançar o 10º, intitulado A Euforia do Corpo, pela editora Patuá, de São Paulo.
Anaximandro acredita que um dos maiores problemas enfrentados pelos escritores é a distribuição, e isso não é exclusividade do Espírito Santo. De acordo com ele, as grandes editoras dão preferência a obras que já fazem sucesso no mercado internacional e também àquelas cuja autoria é de celebridades, por serem comercialmente mais interessantes. Portanto, são principalmente esses tipos de livros que chegam às livrarias.
Com menos tempo de inserção no ramo da literatura do que Anaximandro, mas com uma experiência que a permite fazer análise desse cenário, a escritora Lívia Corbellari concorda com o colega de profissão de que uma das maiores dificuldades é a distribuição. “O autor faz o lançamento e depois tem que colocar o livro debaixo do braço para vender”, diz.
A própria Lívia tem se empenhado em propagar a diversidade da literatura no Espírito Santo. Ela foi organizadora do evento Zona Literária, realizado em março último, na Thelema, espaço cultural do Centro de Vitória. O evento reuniu escritores de diversos gêneros. Para a escritora, que prepara seu segundo livro, é preciso “furar a bolha, conquistar leitores, trocar experiência com outros autores”. “Temos escritores incríveis no Estado. As pessoas gostam de ler. Elas apenas precisam conhecer nossa produção. Conhecendo, elas com certeza irão encontrar alguém com quem se identifica e querer conhecer melhor a obra”, acredita.
A escritora Kátia Fialho destaca a especificidade de se trabalhar com literatura infantil. Autora de Minha Cariacica, que já está na terceira edição, e de Vila Velha: onde tudo começou?, que será lançado pela editora Formar, ela anseia por lançar Casa de Vó. Entretanto, esbarra na questão de ordem financeira. Kátia relata que inscreveu a obra no edital da Secretaria Estadual de Cultura (Secult), mas não foi aprovada.
Os livros infantis, destaca, são essencialmente compostos por ilustração, e os editais normalmente pedem ao menos um esboço dessas ilustrações, não bastando somente o texto. Para para fazer esse esboço, é preciso contratar um ilustrador, ou seja, dispor de um recurso financeiro que o autor muitas vezes não tem.
Kátia aponta ainda como uma das dificuldades, mas, dessa vez dos escritores em geral, a campanha de parte dos políticos brasileiros contra o incentivo à cultura. “É propagada a ideia de que cultura é gasto, não investimento, que um valor de R$ 500 mil destinado para um edital poderia ser utilizado na construção de uma Unidade de Pronto Atendimento [UPA], para tampar buraco na rua”, afirma.
Ela acredita que esse tipo de afirmação joga o eleitor contra os artistas. “Direito à cultura é elementar, essencial. Sem livro a gente formaria profissionais para trabalhar na UPA? A gente teria profissionais para tapar buraco? Esse tipo de discurso marginaliza o artista, coloca a cultura como algo supérfluo, prejudica toda uma cadeia produtiva. Na produção de um livro, gera-se renda para o ilustrador, para o diagramador, e etc”, enfatiza.
Dos 77 municípios capixabas, 22 têm academia de letras. A mais antiga é a de Vila Velha, de 1948. As mais novas, a ACL; a Academia Maria Antonieta Tatagiba – Artes – História – Letras, em Mimoso do Sul, no sul do Estado; e a Academia Barrense de Letras e Artes de Conceição da Barra, em Conceição da Barra, norte.