Exposição “Dialeto Urbano” retoma visitação no próximo dia 7, no Centro de Vitória
“A todo momento nosso corpo está falando na cidade, mas nem sempre a cidade fala conosco”. A reflexão do artista Gabriel Caetano ilustra a premissa central de Dialeto Urbano, exposição que inaugurou no Espaço Ladeira, no Centro de Vitória, e retoma sua visitação no próximo dia 7. Aberta de terça a sexta, das 12h às 17h, até 14 de fevereiro, a mostra explora intervenções humanas que dialogam com a arquitetura do espaço urbano e propõe um olhar para a cidade como um organismo vivo, constantemente transformado pelas marcas e histórias de seus habitantes. Com curadoria de Thiago Sobreiro e Fernanda Oliveira, a exposição reúne diferente linguagens artísticas que destacam as interações entre corpos, territórios e estruturas urbanas.
A exposição reúne obras de onze artistas, entre eles, Gabriel Caetano, que se insere a partir da performance em Meu corpo como pixação da/na cidade, que aborda a relação entre o corpo negro e os espaços urbanos. “Realizei uma performance que explora como meu corpo atravessa a cidade e como a cidade atravessa o meu corpo. Me vesti com papel carbono preto, inscrevendo meu corpo nas paredes do espaço como uma forma de afirmação. Nosso corpo está sempre falando na cidade, mas nem sempre a cidade fala conosco”, afirma o artista, que reflete sobre o corpo negro, como um corpo que picha a cidade. “Abordo o picho no sentido não gráfico, mas como a presença na cidade, um corpo que quer se assumir enquanto político”, completa.
“Eu comecei a pensar nessa questão de que todas as pessoas utilizam a cidade e fazem dela um lugar de intervenção urbana. São pessoas que moram na rua e criam suas moradias, pessoas que picham como forma de protesto, ou mesmo quem faz o pixo por estética. Tem também aquelas que aproveitam o cimento fresco para deixar sua marca. Esse desejo de pertencer ao espaço é algo que vemos em várias formas: nos corpos que andam pela cidade, nas casas construídas em áreas periféricas, nas músicas dos bailes que trazem vida para os centros urbanos. A arquitetura e o urbanismo só existem porque as pessoas querem intervir, deixar sua presença registrada”, explica Thiago Sobreiro.
Ele relata que a mostra tem como referências iniciativas como a exposição Projetos Improváveis, realizada no Rio de Janeiro pela curadora Sônia Salcedo del Castillo, que trabalhou com a proposta de trazer as intervenções urbanas para dentro e fora da galeria.
A curadora Fernanda Oliveira também participa com a instalação Fonte Concretada, em colaboração com a musicista Jenni Prélio. Montada sobre uma antiga fonte de água selada com concreto, a obra utiliza entulho para representar um caminho de rio interrompido, enquanto a trilha sonora Mares evoca os sons de água que já fluíram naquele espaço. “É uma crítica à construção civil que se impõe sobre a natureza”, explica Fernanda. A instalação combina elementos visuais e sonoros para provocar uma reflexão sobre a urbanização desenfreada e a perda de ciclos naturais no ambiente urbano.
Outro trabalho é a primeira pintura da série Corpo Território, da artista Tainá Simões, que utiliza espelhos para promover um encontro entre inserir o espectador no ambiente, “reforçando que produzimos e somos produzidos pelos espaços em que vivemos”, explica. “A ideia é refletir sobre como vivemos no espaço urbano de forma automática, sem perceber as memórias e afetos que ele carrega”, descreve.
A exposição também traz uma obra Caos Urbano, do grafiteiro Ronaldo Gentil, reconhecido por suas intervenções não autorizadas. O trabalho representa o caos como parte constitutiva da cidade e evidencia a ordem que tentam impor. “O Gentil é um símbolo do pixo no Estado”, comenta Thiago, em referência ao modo como o artista expressa a resistência urbana e dialoga diretamente com espaços que muitas vezes excluem vozes e corpos periféricos.
SERVIÇO
Exposição Dialeto Urbano
Local: Espaço Ladeira – Rua Nestor Gomes, 277, Centro, Vitória
Período: De 7 de janeiro a 14 de fevereiro
Horário: Terça a sexta, das 12h às 17h
Entrada: Gratuita