Poeta e ensaísta, o paulista Guilherme de Almeida foi um dos principais divulgadores, no Brasil, do haikai – forma poética breve, tradicional do Japão. É a ele que Matusalém Dias de Moura dedica seu mais recente trabalho, Haikais para Guilherme de Almeida, que será lançado pela Editora Cousa no dia 19 de setembro (terça-feira), no espaço Cousa Bar Café, Centro Histórico de Vitória.
Na antologia, Matusalém reúne 104 haikais “à moda guilhermina”. “O haikai, desde sua origem, sempre foi um poema sem título e sem rimas. Mas Guilherme de Almeida quis abrasileirá-lo, à moda do soneto, dando-lhe título e rimando o primeiro verso com o terceiro, e a segunda sílaba do segundo verso com a sétima do mesmo verso”, explica Matusalém.
Segundo Matusalém, a homenagem a Guilherme deve-se ao fato de que ele, embora tenha sido muito aplaudido no passado (chegando a ser eleito o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, em 1959), está hoje praticamente esquecido do grande público – numa época em que o haikai se populariza Brasil afora, praticado por inúmeros autores.
Apesar de homenagem, Matusalém observa que Guilherme de Almeida não é sua principal referência literária. “Ele tem alguma influência, mas não muita, pois também escrevo haikais à moda tradicional. No soneto, também tenho alguma influência dele. No início de minhas práticas poéticas, li muito Guilherme de Almeida, diariamente. É um dos poetas brasileiros de minha preferência de leitura.”
A natureza, temática recorrente no haikai desde sua origem, também predomina ao longo de todo o livro de Matusalém. De acordo com o autor, o haikai é um poema que nasce de sutis manifestações natureza. “Não se faz um haikai, ele acontece por si. O que o haikaísta faz é capturá-lo na natureza e materializá-lo em texto escrito”, ressalta.
Para se tornar um bom haikaísta, afirma Matusalém, é necessário, antes de tudo, ser um apaixonado observador da natureza, “namorando-a” permanentemente, a fim de conseguir perceber o momento em que o haikai acontece, o seu nascimento. “É nesse instante, precisamente, que se deve capturá-lo e eternizá-lo em 17 sílabas fônicas, distribuída sem apenas três versos. O haikai deve conter, explícita ou implicitamente, em um de seus versos, referência a uma das quatro estações do ano. Portanto, é uma poesia em louvor à natureza. Se assim não for, não é haikai. É outra coisa.”
A predileção de Matusalém por essa forma poética deve-se ao fato de que, diferentemente da poesia ocidental –discursiva –, essa é uma modalidade meditativa. “No mundo do haikai, cada coisa é o que é: a rosa é apenas a rosa, não a rainha das flores; a noite é apenas a noite, não um manto tenebroso; a montanha é apenas a montanha, não a morada dos deuses. Assim, também, é o homem: somos o que somos, não o que os outros pensam que somos, ou o que gostaríamos de parecer aos olhos dos outros. Aquele que busca esse princípio para seus poemas tem que, primeiramente, possuir esse princípio dentro de si, pois não se pode dar ou tirar aquilo de si que não se tem. Assim, o poeta há de ser, sobretudo, simples na composição do haikai, penso.”
Serviço:
Lançamento do livro Haikais para Guilherme de Almeida,
Autor: Matusalém Dias de Moura
Quando: 19 de setembro (terça-feira), a partir das 18h30
Onde: Cousa Bar Café, Rua Sete de Setembro, 415, Centro Histórico de Vitória – em frente ao Arquivo Público do Espírito Santo.
Preço do livro: R$ 25,00
Matusalém Dias de Mouranasceu em 1959, em Irupi (ES). É escritor, poeta e historiador, com quase três dezenas de livros publicados, incluindo Maio (2016) e Poemas de Amor Imenso (2014), também pela Editora Cousa. É membro efetivo da Academia Espírito-Santense de Letras (cadeira 34) e da Câmara de Literatura e Biblioteca, do Conselho Estadual de Cultura (CEC), entre outras instituições culturais.